Identidade das duas gémeas, conhecidas como Lulu e Nana, continua em segredo. Dois investigadores pediram ao governo chinês, em fevereiro, que fosse criada uma comissão de acompanhamento às crianças alvo de uma experiência de edição genética
He Jiankui, o cientista chinês que anunciou ter criado os primeiros bebés geneticamente modificados, foi libertado após cumprir três anos de prisão. A confirmação da libertação foi feita por pessoas próximas do cientista chinês, que chegou mesmo a atender uma chamada feita pela publicação MIT Technology Review, que avança a notícia. “Não é conveniente falar agora”, disse He Jiankui, antes de desligar.
O caso remonta a 2018, quando He Jiankui anunciou, numa conferência em Hong Kong, terem nascido duas bebés gémeas – apelidadas de Lulu e Nana –, cujo ácido desoxirribonucleico (ADN) – o composto orgânico que armazena as instruções genéticas de todos os seres vivos – tinha sido modificado. De acordo com os dados apresentados por He Jiankui, os bebés foram concebidos através de fertilização in vitro e a edição genética foi feita recorrendo a um sistema conhecido por Repetições Palindrômicas Curtas Agrupadas e Regularmente Interespaçadas (CRISPR no acrónimo em inglês), que permite editar o ADN e que terá sido suficiente para ‘desativar’ o gene que o Vírus da Imunodeficiência Humana (VIH), responsável pela SIDA, usa para entrar nas células do corpo.
A real identidade das crianças ainda não é conhecida e, na China, dois investigadores de bioética pediram ao governo local para que fosse criado um programa de acompanhamento à saúde dos chamados “bebés CRISPR”. Os investigadores querem perceber se as crianças poderão ter erros genéticos, como consequência da experiência feita por He Jiankui, compreender o impacto que tal poderá ter na saúde das crianças e se os erros genéticos poderão ser passados a futuras gerações.
Segundo a MIT Technology Review, ainda não é certo se He tenciona regressar à investigação científica. No entanto, desde a sua libertação, que o cientista chinês tem estado em contacto com membros das suas redes de investigação na China e também fora do país. O biofísico foi descrito por pessoas que o conhecem como idealista, ingénuo e ambicioso, e acreditava que com esta experiência tinha criado uma forma de controlar a epidemia do VIH, uma descoberta que ambicionava poder ser candidata a um prémio Nobel.
He Jiankui foi detido em 2019, ano no qual acabaria por ser condenado por um tribunal da província chinesa de Schenzhen. O tribunal chinês considerou na época que He Jiankui e outros dois reús – Zhang Renli e Qin Jinzhou – “violaram deliberadamente a regulação nacional das investigações científicas e médicas, e passaram o limite da ética científica e médica”, acusando-os ainda de procurarem “fama e lucro”.
Ficou ainda provado, segundo a decisão do tribunal, que o investigador falsificou documentos de aprovação de conselhos de ética para conseguir recrutar casais para a experiência. Aos pais das crianças – o pai tinha de ser portador do VIH e a mãe não – o cientista dizia que queria prevenir infeções do vírus responsável SIDA nos recém-nascidos.
Eben Kirksey, professor australiano e autor do livro The Mutant Project, dedicado ao caso dos bebés geneticamente modificados, adiantou à publicação norte-americana que foram prometidos seguros de saúde para as crianças, mas que depois do caso ganhar mediatismo e da controvérsia que gerou, os tais seguros nunca foram providenciados e as contas médicas relacionadas com as crianças também nunca foram pagas.
Durante o julgamento, ficou também provado que He Jiankui editou geneticamente um terceiro bebé, que nasceu em 2019
Exame Informática | Cientista que criou bebés geneticamente modificados foi libertado (sapo.pt)
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