Ao contrário do governo português, o FMI prevê agora um agravamento do desemprego, logo, é de supor mais nova despesa com apoios sociais e subsídios em 2023, o que dificulta corte previsto no défice.
Luís Reis Ribeiro:
O novo cenário macroeconómico para Portugal calculado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) desmonta ou altera de forma substancial as principais traves em que assenta a proposta de Orçamento do Estado para 2023 (OE2023), apresentada esta segunda-feira, dia 10 de outubro.
Segundo diz esta terça-feira o FMI, o crescimento da economia portuguesa não deve ir sequer além de 0,7% em 2023, a inflação deve ser bem superior (cerca de 4,7% e não 4% como se estima no OE) e a taxa de desemprego aumenta, podendo chegar a 6,5% da população ativa (isto quando o governo assume antes uma estabilização do desemprego em apenas 5,6%).
Portanto, uma das maiores divergências de fundo surge logo na previsão de crescimento e de inflação.
A começar logo pelo ponto de partida (este ano), que também é mais fraco. Ao passo que o ministro das Finanças estima um crescimento de 6,5% para 2022, a entidade sediada em Washington vê apenas 6,2%.
E como referido, em 2023, a economia deve crescer apenas 0,7%, quase metade do que assume o Ministério das Finanças no novo OE (1,3%).
Se o crescimento for mais débil em 2023 como diz o FMI, isso impactará direta e rapidamente nas contas públicas (tende a fazer subir o défice que o governo quer cortar para apenas 0,9% do PIB em 2023), pressionando em baixa a receita fiscal e contributiva e fazendo subir a despesa pública.
Ao contrário do governo português, o FMI prevê agora um agravamento do desemprego de 6,1% para 6,5%, logo, é de supor aqui mais despesa com apoios sociais e subsídios.
O governo não está a trabalhar nesse cenário: no novo OE2023 diz que o desemprego fica em 5,6% neste ano e no próximo.
Inflação bastante mais alta
Como referido, a inflação prevista pelo FMI é notoriamente mais elevada (4,7%) face aos 4% onde assenta todo o OE2023.
O ministro Medina disse inclusive que, no que toca à inflação, nem sequer está a trabalhar com uma margem de erro: "na inflação não estamos a trabalhar com intervalos", declarou o governante em resposta a uma questão do Dinheiro Vivo, na conferência de imprensa do OE.
Portanto, para as Finanças, a previsão de agravamento dos preços em 2023 é 4%. Ponto final.
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