Wilson:
Há muito que a indústria da fotografia abandonou a ideia de captar as cores reais, agora a escolha é entre cores naturais ou cores mais bonitas.
Paulo Belchior de Matos:
Zeiss e Vivo têm estado a trabalhar em trazer padrões profissionais da ciência da cor para o mundo da fotografia dos smartphones. Mas as empresas sabem que, tendencialmente, consumidores e profissionais procuram resultados diferentes
AVivo anunciou uma parceria com a Zeiss em dezembro de 2020 e, desde então, tem vindo a revelar algumas das áreas em que as duas empresas estão a trabalhar para elevar a fotografia captada com smartphones. O Vivo X80 Pro, que será lançado muito em breve no mercado europeu, deverá apresentar novos frutos desta colaboração, mas, para já, as organizações revelaram alguns detalhes do trabalho realizado a nível de ciência de cor.
Num evento online, David Abreu, Senior Scientist da Zeiss, explicou que, por exemplo, quando se olha para um céu azul ou para a labareda de uma fogueira, o cérebro está a trabalhar para construir um quadro. Assim, quando vemos essas coisas, baseamo-nos nas nossas memórias e no conhecimento de como as coisas devem parecer, ajudando o cérebro a compensar instantaneamente variáveis, como a cor da luz. O desafio é, portanto, como ensinar um sistema de câmara a ver como um humano.
Perfeição não é sinónimo de verdade
David Abreu explica que a cor é um processo complexo, quer ela seja reproduzida pelas hastes e cones dos olhos humanos ou pelos sensores RGB de uma câmara digital. Ao ver a cor, o cérebro humano compensa dinamicamente variáveis, tais como o quão bem os olhos percebem diferentes comprimentos de onda da luz ou de que forma a iluminação de uma cena causa impacto sobre a perceção. E dá um exemplo: quando vemos uma banana amarela sob uma lâmpada ligeiramente azul, continuamos a vê-la como amarela, porque o cérebro também usa a memória e informa-nos da forma como as coisas devem parecer.
Como se pode depreender, as cores perfeitas não são verdadeiras à perceção humana. É impossível combinar a criação da cor perfeita numa câmara com as peculiaridades da visão humana – vemos uma cena à lareira com um tom laranja quente, uma vez que o sistema visual nem sempre corrige o balanço dos brancos em situações extremas – e replicar estes processos no sentido de combinar a visão da máquina com a perceção humana é um desafio chave da ciência da cor. Uma questão que a Zeiss tenta ultrapassar com o desenvolvimento de algoritmos.
A eterna luta do natural vs filtros
A juntar aos desafios técnicos, há outro ‘cultural’: os consumidores querem cores diferentes dos profissionais. A reprodução da cor é uma questão de julgamento e precisão, mas David Abreu explica que “o sistema de imagem pode ter como objetivo criar cores tais como são, como são lembradas ou como o utilizador quer que o sejam”. Ou seja, os consumidores preferem tendencialmente imagens mais vívidas e prontas a partilhar, enquanto os profissionais preferem resultados mais naturais, para poderem ajustar manualmente o aspeto das imagens, uma vez que assim têm um ponto de partida mais neutro para a pós-produção de cores.
É por isto que os smartphones Vivo possuam dois modos de cor diferentes: o Vivid Colour, que oferece um visual mais colorido; e o Zeiss Natural Color, que proporciona uma cor mais precisa.
Mas há ainda que criar uma experiência de cor consistente com vários sistemas de câmaras, já que os smartphones de topo possuem múltiplos módulos que cobrem uma amplitude de necessidades – selfies, grandes angulares, teleobjetivas, etc – e diferentes lentes têm diferentes propriedades de absorção para diferentes comprimentos de onda de luz. Essa otimização da consistência do hardware tem sido outra das áreas de foco do Vivo Imaging Lab, assegura David Abreu.
Exame Informática | Fotografia em smartphones: cores mais bonitas ou cores mais naturais? (sapo.pt)
Comentários
Enviar um comentário