Círculo "corrupto" de familiares e amigos, uso de propaganda, politização do sistema judicial e defesa da autocracia. Não faltam justificações ao consórcio independente de jornalistas OCCRP para ter atribuído o prémio de pessoa corrupta do ano a Jair Bolsonaro. Mas a corrida foi renhida.
No país vizinho, Nicolás Maduro já tunha vencido esta ignóbil competição pelo que este ano não foi considerado. Os vencedores anteriores foram:
2019: Joseph Muscat
2018: Danske Bank
2017: Rodrigo Duterte
2016: Nicolás Maduro
2015: Milo Djukanovic
2014: Vladimir Putin
2013: Romanian Parliament
2012: Ilham Aliyev
https://www.occrp.org/en/poy/2020/
O presidente do Brasil foi eleito pessoa do ano 2020 na categoria de crime organizado e corrupção da OCCRP ("Organized Crime and Corruption Reporting Project"), um consórcio independente de centros de investigação, meios de comunicação social e jornalistas.
"Eleito após o escândalo Lava Jato como candidato anticorrupção, Bolsonaro cercou-se de figuras corruptas, usou propaganda para promover a sua agenda populista, minou o sistema de justiça e travou uma guerra destrutiva contra a Amazónia, região que enriqueceu alguns dos piores proprietários de terras do país", resume o consórcio, fundado em 2006, para explicar a distinção.
Todos eles são populistas que causaram enormes danos nos seus países
No entanto, a disputa foi renhida. O chefe de Estado brasileiro derrotou por uma diferença mínima Donald Trump, presidente cessante dos EUA, e Erdogan, presidente da Turquia. As queixas apontadas a estes dois finalistas? As mesmas.
"Lucraram com propaganda, minaram as instituições democráticas dos seus países, politizaram os sistemas judiciais, evitaram acordos multilaterais, recompensaram círculos internos corruptos e moveram os seus países da lei e da ordem democráticas para a autocracia", enumera a OCCRP. Na lista de finalistas à conquista do galardão estava ainda o oligarca ucraniano Ihor Kolomoisky, acusado de deixar um buraco de cinco mil milhões no seu banco, entretanto nacionalizado.
A corrupção "é o tema central do ano", sublinhou Louise Shelley, diretora do Centro Transnacional de Crime e Corrupção (TraCCC) da Universidade George Mason, que integrou o painel de jurados do prémio. "Todos eles são populistas que causaram enormes danos nos seus países. Infelizmente, são apoiados por muitos", frisou.
O esquema das "rachadinhas"
O consórcio recorda também que o senador Flávio Bolsonaro, filho do presidente, está a ser investigado pela recolha de parte dos salários dos funcionários do seu gabinete em benefício próprio, quando era deputado estadual no Rio de Janeiro.
Flávio é acusado dos crimes de organização criminosa, peculato, lavagem de dinheiro e apropriação indevida, no âmbito da investigação ao esquema das "Rachadinhas", nome atribuído àquela prática, difundida entre os detentores de cargos públicos ao nível estadual no Brasil.
"A família de Bolsonaro e o seu círculo íntimo parecem estar envolvidos numa conspiração criminosa e têm sido frequentemente acusados de roubar o próprio povo", afirmou Drew Sullivan, editor do OCCRP e juiz do painel. "É essa a definição de um gangue de crime organizado", concluiu.
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