Avançar para o conteúdo principal

Crise da moeda venezuelana afeta comunidade imigrante portuguesa


 Na segunda-feira, os venezuelanos precisavam de 535.719 bolívares (bs) para comprar um dólar e hoje precisam de 646.00 bs, num país que vive numa situação de hiperinflação desde 2018. Os preços são afixados em dólares norte-americanos e pagam-se à taxa de câmbio do momento da compra.


A moeda venezuelana, o bolívar, perdeu na última semana 20,24% do seu valor perante o dólar norte-americano, fazendo disparar o preço dos produtos e reavivando as preocupações de comerciantes e clientes, em particular os portugueses e lusodescendentes.


Na segunda-feira, os venezuelanos precisavam de 535.719 bolívares (bs) e hoje precisam de 646.00 bs, num país que vive numa situação de hiperinflação desde 2018. Os preços são afixados em dólares norte-americanos e pagam-se à taxa de câmbio do momento da compra.


“Estamos muito preocupados, tudo está ‘dolarizado’ [afixado em dólares] e os preços em bolívares sobem diariamente, nalguns casos até em dólares. Quem mais vende é quem mais perde, porque quando vai repor o ‘stock’ de produtos, o que cobrou já não dá para encomendar o mesmo e perde dinheiro ou tem que pedir menos quantidade”, explicou um comerciante luso-venezuelano à Agência Lusa.


Arturo Agrela é um dos proprietários de uma pequena pastelaria em instalações alugadas, cujo valor varia diariamente devido às oscilações locais da cotação da moeda.


“Com o aumento desta semana significa que vou pagar mais de 20% mais de aluguer [em bolívares] e assim acontece com tudo, inclusivamente com os serviços básicos, que perderam qualidade, nem sempre funcionam, mas sobem de preço”, frisou.


Por outro lado, Alejandro Martins, para poder sobreviver à crise no país, “que se agravou com o coronavírus”, mudou o registo do seu pequeno café, para poder também vender legumes e verduras, queijos, açúcar e inclusivé alguns detergentes.


“É o que as pessoas estão a comprar. As pessoas não têm dinheiro e tentam conservar o que têm em moeda estrangeira. Com o dinheiro limitado, a compra de alimentos é a prioridade e quem todos os dias vinha para tomar café, agora chega a passar mais de uma semana sem que venham, e quando pedem verduras querem que se entregue no domicílio”, explicou.


“Não sabemos durante quando tempo poderemos aguentar isto”, desabafou, explicando ainda que “as pessoas estão a comprar menos comida” para casa.


Alejandro Martins acrescentou: “Neste país todos os dias há um problema para resolver, se não é a luz (eletricidade) que foi embora, é um aparelho que avariou pelas oscilações de energia, a água, a falta de gasolina”.


“Também a insegurança, porque durante as noites roubam os estabelecimentos à procura de comida e coisas para vender”, disse.


Por outro lado, a doméstica Maria Correia, 72 anos, está também preocupada com a situação e também desabafa em castelhano: “Isto está cada vez mais ‘cuesta arriba’ [ladeira acima ou difícil de suportar]”.


“Estamos em hiperinflação e agora são dólares para tudo, mas mesmo em dólares as coisas sobem de preço. Além disso, para quem conseguiu guardar alguns euros tê-los em notas não compensa, porque os comerciantes trocam 1 por 1 [um euro por um dólar], não lhes importa que um euro tenha 17% mais de valor que o dólar”, explicou.


Segundo esta portuguesa, com as pensões locais apenas pode “comprar um pão, um quilograma de açúcar e talvez mais uma coisa, porque até mesmo algumas verduras custam mais por quilograma que uma pensão”.


“Tenho um filho que me ajuda, mas o dinheiro que tinha guardado [em euros] cada vez é menos. É triste trabalhar uma vida inteira e ver com as coisas se degradaram. Nós, os avózinhos, só compramos o que precisamos, mas no supermercado temos que ver os preços antes de comprar para decidir se trazer ou não”, disse.


Alguns portugueses afirmam que só não deixam a Venezuela por terem casa e propriedades no país. Ainda assim, queixaram-se que os aeroportos estão encerrados, que os preços das viagens são muito altos.


Como não têm dinheiro para “recomeçar” em Portugal mesmo se conseguirem vender algumas coisas, teriam que ter ajuda de familiares, o que, dizem “não é fácil”.


Segundo economistas locais, a Venezuela está em hiperinflação desde 2018.


Segundo o Observatório Venezuelano de Finanças, o país acumulou 1.798% de inflação entre janeiro e outubro de este ano.


Em janeiro de 2020 um dólar norte-americano custava 75.000 bolívares.


Muitos estabelecimentos locais fixam a cotação do dólar segundo o mercado negro, que este sábado era de 690.000 Bs, quase 7% mais alto que o valor oficial.


Por outro lado, perante a falta local de notas de pequena denominação, de 1 e 5 dólares, os clientes veem-se obrigados a comprar mais produtos até completar para 20, 50 ou 100 dólares.


https://jornaleconomico.sapo.pt/noticias/crise-da-moeda-venezuelana-afeta-comunidade-imigrante-portuguesa-664238

Comentários

Notícias mais vistas:

J.K. Rowling

 Aos 17 anos, foi rejeitada na faculdade. Aos 25 anos, sua mãe morreu de doença. Aos 26 anos, mudou-se para Portugal para ensinar inglês. Aos 27 anos, casou. O marido abusou dela. Apesar disso, sua filha nasceu. Aos 28 anos, divorciou-se e foi diagnosticada com depressão severa. Aos 29 anos, era mãe solteira que vivia da segurança social. Aos 30 anos, ela não queria estar nesta terra. Mas ela dirigiu toda a sua paixão para fazer a única coisa que podia fazer melhor do que ninguém. E foi escrever. Aos 31 anos, finalmente publicou seu primeiro livro. Aos 35 anos, tinha publicado 4 livros e foi nomeada Autora do Ano. Aos 42 anos, vendeu 11 milhões de cópias do seu novo livro no primeiro dia do lançamento. Esta mulher é JK Rowling. Lembras de como ela pensou em suicídio aos 30 anos? Hoje, Harry Potter é uma marca global que vale mais de $15 bilhões. Nunca desista. Acredite em você mesmo. Seja apaixonado. Trabalhe duro. Nunca é tarde demais. Esta é J.K. Rowling. J. K. Rowling – Wikipédia, a

Aeroporto: há novidades

 Nenhuma conclusão substitui o estudo que o Governo mandou fazer sobre a melhor localização para o aeroporto de Lisboa. Mas há novas pistas, fruto do debate promovido pelo Conselho Económico e Social e o Público. No quadro abaixo ficam alguns dos pontos fortes e fracos de cada projeto apresentados na terça-feira. As premissas da análise são estas: IMPACTO NO AMBIENTE: não há tema mais crítico para a construção de um aeroporto em qualquer ponto do mundo. Olhando para as seis hipóteses em análise, talvez apenas Alverca (que já tem uma pista, numa área menos crítica do estuário) ou Santarém (numa zona menos sensível) escapem. Alcochete e Montijo são indubitavelmente as piores pelas consequências ecológicas em redor. Manter a Portela tem um impacto pesado sobre os habitantes da capital - daí as dúvidas sobre se se deve diminuir a operação, ou pura e simplesmente acabar. Nem o presidente da Câmara, Carlos Moedas, consegue dizer qual escolhe... CUSTO DE INVESTIMENTO: a grande novidade veio d

Diarreia legislativa

© DR  As mais de 150 alterações ao Código do Trabalho, no âmbito da Agenda para o Trabalho Digno, foram aprovadas esta sexta-feira pelo Parlamento, em votação final. O texto global apenas contou com os votos favoráveis da maioria absoluta socialista. PCP, BE e IL votaram contra, PSD, Chega, Livre e PAN abstiveram-se. Esta diarréia legislativa não só "passaram ao lado da concertação Social", como também "terão um profundo impacto negativo na competitividade das empresas nacionais, caso venham a ser implementadas Patrões vão falar com Marcelo para travar Agenda para o Trabalho Digno (dinheirovivo.pt)