Descobriu o vírus do ébola e esteve os últimos 40 anos na linha da frente na luta contra vírus que colocam em risco a vida humana. Depois de ter estado infetado com Covid-19, Peter Piot garante que mudou o seu ponto de vista sobre a doença.
Descobriu o vírus do ébola em 1976, ajudou no estudo do VIH e da sida e esteve os últimos 40 anos na linha da frente na luta contra vírus que colocam em risco a vida humana. Mas, depois de ter estado infetado com Covid-19, o reconhecido virologista belga Peter Piot garante que mudou o seu ponto de vista sobre a doença e assegura: estamos apenas no começo da pandemia.
"Finalmente um vírus apanhou-me": Cientista que lutou contra Ébola e HIV foi infetado pela Covid-19
"Demorei meses a recuperar desde que fiquei doente, mas agora voltei a sentir-me mais ou menos normal. No entanto, a minha experiência ensinou-me que a Covid-19 é algo mais que uma gripe, ou uma doença, que faz com que 1% tenha que receber cuidados intensivos e morra. Entre esses dois extremos há muito", começou por dizer, em entrevista ao El País.
Agora que conhece "o vírus desde dentro", o diretor da Universidade de Higiene e Medicina Tropical de Londres afirma que a Covid-19 vai deixar muitas pessoas com problemas crónicos: "isso, pessoalmente, faz-me sentir duplamente motivado para lutar contra o vírus", diz.
Questionado sobre os números do novo coronavírus no mundo, Peter Piot defende que os números ficam aquém da realidade porque são apenas os casos confirmados. "Provavelmente estamos mais perto de superar os 20 milhões", afirma. "Juntamente com o VIH, convertido agora em epidemia silenciosa que continua a matar 600 mil pessoas por ano, e a gripe espanhola, o novo coronavírus é certamente não só a maior epidemia senão também a maior crise social em tempos de paz", continua.
Sobre a Europa, e relembrando que praticamente todos os países conseguiram conter a propagação do vírus e voltaram, aos poucos, à normalidade, o virologista assume que é necessário uma preparação para uma segunda vaga. "Espero que não seja um tsunami, mas algo mais parecido com os surtos que já temos", afirma, relembrando que "enquanto houver pessoas propensas a infetar-se, o vírus estará muito disposto a fazê-lo".
Pelo lado positivo, Piot recorda que a colaboração científica para encontrar uma cura para a Covid-19 não tem precedentes: "nas anteriores epidemias a informação não se partilhava. É um raio de esperança".
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