O Governo revela hoje os projetos eleitos para a Estratégia Nacional para o Hidrogénio. Juntos, o H2Sines, da EDP e Galp, e o H2Enable da Bondalti Chemicals somam o maior investimento: 4 mil milhões.
Dois pesos pesados nacionais, a elétrica EDP e a petrolífera Galp uniram-se para apresentar ao Governo o mega projeto H2Sines, num consórcio com a REN e outras empresas nacionais e internacionais, com vista à criação de uma central de produção de hidrogénio verde em Sines. O investimento rondará os 1,5 mil milhões de euros até 2030, segundo apurou o ECO/Capital Verde. Este é um dos maiores projetos selecionados pelo Governo para integrar uma futura candidatura portuguesa ao estatuto IPCEI – Projeto Importante de Interesse Europeu Comum -, com vista à obtenção de fundos comunitários significativos.
Quanto ao projeto já conhecido na semana passada, da Bondalti Chemicals para Estarreja — “H2Enable – The Hydrogen Way for Our Chemical Future” — é o que apresenta o maior valor total de investimento — 2,4 mil milhões de euros, em 20 anos –, mas até 2030 será avançada apenas uma primeira fatia de cerca de 800 milhões, revelou o secretário de Estado da Energia, João Galamba, em declarações ao ECO/Capital Verde.
“Queremos projetos grandes, médios e pequenos, em todo o país. Sines será sempre um hub muito importante para o hidrogénio, mas não diremos não a um grande projeto industrial como é o da Bondalti, que se pode considerar como uma nova Autoeuropa pela sua dimensão industrial e impacto positivo na economia portuguesa. O projeto tem como uma das suas valências a substituição integral de amoníaco fóssil por amoníaco verde, com potencial de exportação deste novo produto”, disse o governante.
Queremos projetos grandes, médios e pequenos, em todo o país. Sines será sempre um hub muito importante para o hidrogénio, mas não diremos não a um grande projeto industrial como é o da Bondalti, que se pode considerar como uma nova Autoeuropa pela sua dimensão industrial e impacto positivo na economia portuguesa.
João Galamba
Secretário de Estado da Energia
Sobre Sines, Galamba confirmou que há vários projetos na calha. “O grande projeto para Sines [o consórcio encabeçado pela EDP e Galp] representa um pouco menos de 1,6 mil milhões, 10% do volume total de manifestações de interesse. Mas não é o único para a região. Como sempre dissemos, para Sines seria no mínimo 1 GW de potência instalada no hidrogénio, mas se houvesse mais projetos maduros e que fizessem sentido podíamos ir além se nos fossem apresentados projetos que fizessem sentido. Posso dizer que chegaram projetos com sentido e com dimensão razoável”, disse.
O governante destaca ainda a seleção de outro projeto que nascerá em Sines, de “uma empresa portuguesa e que envolve a criação de uma fábrica de equipamentos [eletrolisadores] para a produção de hidrogénio”. Neste perfil encaixa-se a Fusion Fuel, com a sua tecnologia de concentração da radiação solar (DC-PEHG) para a produção de hidrogénio por eletrólise da água, produzida na unidade industrial da empresa no Sabugo, Almargem do Bispo, e que terá a sua estreia no primeiro trimestre 2021 no projeto Green Gas, em Évora.
Em Sines, a empresa já anunciou que quer investir 488 milhões de euros em cinco projetos até 2025 (um por ano). João Wahnon, fundador e diretor executivo da Fusion Fuel revela que em 2021 a empresa vai apostar 18 milhões na transferência da sua fábrica para o sul do país, com incremento da capacidade produtiva, e mais 25 milhões no projeto de hidrogénio Sines 1, com capacidade para produzir 2.500 toneladas daquele gás até ao final do próximo ano. Tudo isto com capitais próprios, graças à injeção de capital da americana HL Acquisitions. Seguem-se depois as fases 2 a 5 do projeto da Fusion Fuel, entre 2022 e 2025 (com investimentos anuais sucessivos de 61 milhões, 95 milhões, 142 milhões e 166 milhões). Quanto estiverem todos concluídos, em meados da década, a empresa quer estar a produzir 61 mil toneladas de hidrogénio.
Green Flamingo levanta voo sem EDP e Galp a bordo
Já o projeto Green Flamingo, do Resilient Group, que até há uns meses era o único plano em cima da mesa para a produção de hidrogénio em Sines, também manifestou o seu interesse de investimento e foi convidado para ser apresentado esta segunda-feira como um dos projetos selecionados. No entanto, a empresa do holandês Marc Rechter (empresário sediado há décadas em Portugal) teve de avançar sem a EDP nem a Galp a bordo, como chegou a estar previsto. O ECO/Capital Verde sabe que o promotor não conseguiu chegar a um acordo razoável com estas empresas portuguesas, devido a “divergências não ultrapassáveis”, decidindo por isso aliar-se a um conjunto de “grandes empresas nacionais e internacionais, do setor energético e PME de tecnologia de hidrogénio”.
Rechter não comenta estas divergências e diz apenas que o projeto Green Flamingo continua a ter como objetivo “criar o primeiro ecossistema europeu de hidrogénio verde e lançar o seu comércio entre países da UE”. E lembra, deixando um recado ao Governo, à EDP e à Galp: “Este é o projeto original de hidrogénio, que permitiu a evolução da estratégia nacional e a Portugal chegar à posição da frente na candidatura ao estatuto de IPCEI. Nenhuma empresa, mesmo que muito grande, vai conseguir criar sozinha o mercado europeu de hidrogénio verde.”
Além do “Flamingo Verde” em Sines, o projeto tem também uma forte componente na Holanda, onde o Porto de Roterdão será o principal ponto de chegada do hidrogénio verde produzido em Portugal. Sobre o futuro, Rechter garante que “haverá sempre espaço para entrada de entidades adicionais enquanto trouxerem valor acrescentado”.
Ter 20 ou 30 projetos “será o ideal”
A lista final dos projetos elegíveis será revelada esta segunda-feira, num Infoday que terá como objetivo “clarificar eventuais complementaridades nas manifestações de interesse submetidas e promover sinergias entre os participantes”, pode ler-se no site Portugal Energia. No total, e em função das 74 manifestações de interesse entregues ao Governo no valor de 16 mil milhões de euros, o investimento privado que constará na versão final da Estratégia Nacional para o Hidrogénio (que será aprovada em Conselho de Ministros esta semana) estará “um pouco acima dos sete mil milhões previstos” inicialmente no documento que seguiu para consulta pública.
O objetivo, refere Galamba, é que a candidatura portuguesa ao IPCEI no final de 2020 inclua o maior número de empresas, com um “pipeline de projetos robustos, maduros e enquadráveis na estratégia europeia”. Mas “com conta peso e medida: não vamos levar 500 projetos a Bruxelas, mas se tivermos 20 ou 30, será o ideal”. E garante que o Governo não se mete nos consórcios entre empresas. “Falam entre elas, aproximam-se, formam ou não os consórcios que entenderem. O governo só recebe as respostas. Se envolvem três, cinco, dez empresas, se estão fechados ou se há possibilidade de novos consórcios se formarem por fusão entre projetos, as empresas têm liberdade total”, diz o responsável da pasta da Energia.
Para a apresentação em Bruxelas, até ao final do ano, falta ainda uma peça fundamental do processo: a assinatura de um importante memorando de entendimento entre Portugal e a Holanda, que chegou a estar prevista para março e será agora concretizada quando o ministro holandês da Economia e Política Climática, Eric Wiebes, regressar de férias, em meados de agosto, disse Galamba.
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