Avançar para o conteúdo principal

Meteorologistas avisados para não contradizerem Trump

Cientistas do instituto de meteorologia dos EUA receberam a directiva para não darem “qualquer opinião”, depois de o Presidente ter sido corrigido publicamente por referir que o furacão Dorian atingiria o Alabama.


Donald Trump mostrando o mapa adulterado a marcador do cone do furacão Dorian JONATHAN ERNST/REUTERS

No dia 1 de Setembro uma directiva interna da Administração Atmosférica e Oceânica Nacional dos EUA (NOAA) foi enviada a todos os funcionários dos serviços meteorológicos dos Estados Unidos. Tinham passado poucas horas depois de o Presidente Donald Trump ter afirmado, sem qualquer prova, que o estado do Alabama iria ser “atingido com mais força do que previamente tinha sido antecipado” pelo furacão Dorian.

A directiva obrigava os meteorologistas a “usar apenas as previsões do National Hurricane Center se surgirem questões por causa de posts nas redes sociais que se tornaram notícia esta tarde”. Também lhes foi dito para não darem “qualquer opinião” sobre o assunto, de acordo com a cópia do email a que o Washington Post teve acesso.

Um meteorologista da NOAA, que falou sob condição de anonimato por medo de represálias, afirmou que a mensagem, percebida internamente como referindo-se particularmente a Trump, chegou logo depois de o serviço de meteorologia de Birmingham, Alabama, ter corrigido o Presidente dos EUA com um tweet que afirmava taxativamente que o Alabama “NÃO sofrerá qualquer impacto do furacão”.

Os serviços meteorológicos de Birmingham escreveram o tweet depois de terem sido inundados de chamadas telefónicas de cidadãos do Alabama preocupados depois da mensagem de Trump.

A NOAA enviou a 4 de Setembro uma mensagem semelhante, avisando os cientistas e os meteorologistas para não falarem, depois de Trump mostrar um mapa de 29 de Agosto adulterado à mão, com um círculo preto desenhado a marcador sobre o Alabama.

“É a primeira vez que me sinto pressionado pela hierarquia para não dizer a verdadeira previsão”, disse o meteorologista. “É difícil entender. Uma das coisas que aprendemos é a dissipar rumores imprecisos, que era o que estava a acontecer – na verdade, o que o serviço do Alabama estava a fazer com o seu tweet era fazer uma previsão, exactamente aquilo que é pago para fazer.”

Um porta-voz do Serviço Nacional de Meteorologia (NWS) confirmou o envio das mensagens, afirmando que o que “a liderança do NWS enviou um guia para as equipas no terreno de modo a que eles (e toda a agência) pudessem concentrar-se operacionalmente no Dorian e outras condições meteorológicas graves sem qualquer distracção”.

O furacão destruiu tudo nas ilhas Abaco, até a vontade de ficar dos sobreviventes
Na sexta-feira à tarde, a direcção da NOAA voltou a enfurecer os cientistas dentro e fora da agência ao emitir um comunicado, atribuído a um porta-voz não identificado da agência, apoiando as afirmações de Trump sobre o Alabama e criticando os meteorologistas de Birmingham por falarem com certeza absoluta.

“Isto parece uma clássica ofuscação de motivações políticas para justificar declarações imprecisas feitas pelo chefe. É verdadeiramente triste ver pessoas nomeadas politicamente a porem em causa o fantástico trabalho dos talentosos e dedicados funcionários de carreira da NOAA que salva vidas”, afirmou Jane Lubchenco, administradora da NOAA no tempo da Presidência de Barack Obama.

A tempestade em torno das declarações do Presidente não tem precedentes na história da agência e ameaça politizar algo que os norte-americanos assumem como sendo objectiva: a previsão meteorológica.

Um funcionário da NOAA, que pediu para não ser identificado para poder falar francamente, contraria a sugestão de que o comunicado apoiasse o Presidente, garantindo que “não há motivação política” por trás dele. A direcção queria apenas esclarecer a confusão e o administrador da NOAA, Neil Jacobs, e a directora de relações públicas, Julie Kay Roberts, que tem experiência em gestão de emergência e trabalhou na campanha de Trump, estiveram envolvidos na redacção do comunicado.

O mesmo funcionário refere que o comunicado especifica o tweet de Birmingham porque a previsão do furacão da NOAA mostrava uma probabilidade de 5% a 20% de ventos com força de tempestade tropical atingirem uma pequena parte do Alabama.

“Não é nada contra Birmingham, temos de ter a certeza que as previsões produzidas reflectem a orientação probabilística”, explicou.

No entanto, esse tipo de ventos, entre 60 e 120 km/h, raramente causam muitos danos ou exigem uma preparação antecipada.

O comunicado da NOAA não faz qualquer referência ao facto de, na altura do tweet de Trump a dizer que o Alabama estava em risco, o estado não estar dentro do “cone de incerteza”, que os meteorologistas usam para determinar quais as zonas mais prováveis de serem atingidas pela tempestade. O Alabama também não aparecia nas previsões dos dias seguintes.

O director interino da NOAA informou o Presidente sobre o furacão Dorian a 29 de Agosto, usando para isso o cone de previsão que a Casa Branca mais tarde adaptaria com um marcador.

O director do National Hurricane Center actualizou o chefe de Estado sobre a tempestade a 1 de Setembro, pouco tempo antes do seu tweet sobre o Alabama ameaçado.

Outras pessoas também falaram com o Presidente sobre o furacão, incluindo o conselheiro de segurança nacional da Casa Branca, que não tem conhecimentos meteorológicos para interpretar as previsões.

“Se o Presidente tivesse sido informado por alguém que percebe as previsões, nunca teria mencionado o Alabama”, referiu o funcionário da NOAA.

O comunicado da NOAA de sexta-feira deixou os cientistas irados, que temem que a Administração Trump esteja a corroer a confiança na pesquisa e nos dados.

“Fico sem palavras que a liderança ponha os sentimentos e o ego [de Trump] acima da divulgação de informação exacta sobre o tempo”, disse Michael Halpern, vice-director da União de Cientistas Preocupados. “Se politizarmos a meteorologia o que sobra para politizar? Estamos a assistir a este tipo de pressão sobre os cientistas em todo o governo e é uma tendência que vem aumentando.”

https://www.publico.pt/2019/09/08/mundo/noticia/meteorologistas-avisados-nao-contradizerem-trump-1885927

Comentários

Notícias mais vistas:

Diarreia legislativa

© DR  As mais de 150 alterações ao Código do Trabalho, no âmbito da Agenda para o Trabalho Digno, foram aprovadas esta sexta-feira pelo Parlamento, em votação final. O texto global apenas contou com os votos favoráveis da maioria absoluta socialista. PCP, BE e IL votaram contra, PSD, Chega, Livre e PAN abstiveram-se. Esta diarréia legislativa não só "passaram ao lado da concertação Social", como também "terão um profundo impacto negativo na competitividade das empresas nacionais, caso venham a ser implementadas Patrões vão falar com Marcelo para travar Agenda para o Trabalho Digno (dinheirovivo.pt)

Bruxelas obriga governo a acabar com os descontos no ISP

 Comissão Europeia recomendou o fim dos descontos no imposto sobre os produtos petrolíferos e energéticos O ministro das Finanças garantiu que o Governo está a trabalhar numa solução para o fim dos descontos no imposto sobre os produtos petrolíferos e energéticos (ISP), recomendado pela Comissão Europeia, que não encareça os preços dos combustíveis. “Procuraremos momentos de redução dos preços, para poder reverter estes descontos”, afirmou o ministro de Estado e das Finanças, Joaquim Miranda Sarmento, que apresentou esta quinta-feira a proposta de Orçamento do Estado para 2026, em Lisboa. O governante apontou que esta questão é colocada pela Comissão Europeia desde 2023, tendo sido “o único reparo” que a instituição fez na avaliação do Programa Orçamental de Médio Prazo, em outubro do ano passado, e numa nova carta recebida em junho, a instar o Governo a acabar com os descontos no ISP. O ministro da Economia e da Coesão Territorial, Manuel Castro Almeida, tinha já admitido "ajusta...

J.K. Rowling

 Aos 17 anos, foi rejeitada na faculdade. Aos 25 anos, sua mãe morreu de doença. Aos 26 anos, mudou-se para Portugal para ensinar inglês. Aos 27 anos, casou. O marido abusou dela. Apesar disso, sua filha nasceu. Aos 28 anos, divorciou-se e foi diagnosticada com depressão severa. Aos 29 anos, era mãe solteira que vivia da segurança social. Aos 30 anos, ela não queria estar nesta terra. Mas ela dirigiu toda a sua paixão para fazer a única coisa que podia fazer melhor do que ninguém. E foi escrever. Aos 31 anos, finalmente publicou seu primeiro livro. Aos 35 anos, tinha publicado 4 livros e foi nomeada Autora do Ano. Aos 42 anos, vendeu 11 milhões de cópias do seu novo livro no primeiro dia do lançamento. Esta mulher é JK Rowling. Lembras de como ela pensou em suicídio aos 30 anos? Hoje, Harry Potter é uma marca global que vale mais de $15 bilhões. Nunca desista. Acredite em você mesmo. Seja apaixonado. Trabalhe duro. Nunca é tarde demais. Esta é J.K. Rowling. J. K. Rowling – Wikipédi...