Avançar para o conteúdo principal

Anacom: Preços das telecomunicações baixam na Europa mas sobem em Portugal


Cadete de Matos, presidente da Anacom © Reinaldo Rodrigues/Global Imagens


Anacom alerta: preços altos limitam uso da banda larga e dificultam transição digital


 Regulador diz que preços das telecomunicações subiram 7% entre o final de 2009 e novembro de 2021, quando caíram na UE. Diz que preços altos impedem o uso generalizado de internet pelas famílias e cita o estudo da OCDE para defender revisão das fidelizações para "libertar" consumidores.


A Autoridade Nacional de Comunicações (Anacom) alertou esta segunda-feira para a dificuldade de Portugal concretizar a transição digital, quando os preços das comunicações eletrónicas são altos, dificultando o uso da banda larga e, consequentemente, obstruindo a digitalização do país.


"Os elevados preços das telecomunicações e o nível da penetração e de utilização da banda larga móvel em Portugal, quando comparados com a média europeia, poderão dificultar a transição digital no país", chama a atenção o regulador liderado por João Cadete de Matos, citando o relatório da OCDE "Economic Surveys: Portugal 2021", divulgado este mês.


A Anacom reitera que a OCDE indica que, em Portugal, as telecomunicações têm preços "relativamente elevados" e que "o número de assinantes de banda larga móvel por 100 habitantes, bem como o tráfego de dados móveis por utilizador são cerca de 30% mais baixos do que a média da OCDE". O mesmo acontece com a velocidade de download média e a disponibilidade de 4G.


Dando ênfase à sugestão da OCDE - que "deveriam ser investigadas" as causa dos preços elevados, a Anacom relembra que "esta situação pode explicar parcialmente a relativamente baixa penetração de serviços móveis e o grande desfasamento da penetração de internet por nível de rendimento das famílias", sendo que "apenas cerca de metade das famílias mais pobres dispunham de Internet em casa em 2019".


A OCDE "afirma ainda que as pressões concorrenciais são relativamente baixas em Portugal", segundo o regulador. "Os mercados de telecomunicações são concentrados, com três operadores dispondo de quotas de mercado significativas. As margens de lucro são elevadas quando comparadas com outros países europeus", lê-se.


A Anacom dá eco à crítica daquele organismo europeu, que "os operadores oferecem sobretudo pacotes de serviços e tendem a copiar as ofertas dos seus concorrentes (pacotes e preços) ou procuram vender serviços mais caros aos seus clientes em vez de diminuir os preços".


Por isso, a Anacom reforça a recomendação da OCDE: "Eliminar as restrições à mobilidade dos consumidores impostas pelos operadores de telecomunicações, por exemplo, limitando a inclusão de cláusulas de fidelização nos contratos e prestando informação mais transparente sobre a qualidade dos serviços".


A questão das fidelizações no setor das telecomunicações não é um tema novo. A Autoridade da Concorrência também já defendeu alterações nesse âmbito, algo que a Anacom acompanha e deseja fazer. Mas para tal é preciso o crivo legislativo, um passo que poderia ser dado com a nova legislação para as comunicações eletrónicas, que tarda em chegar. A nova lei das telecomunicações está a ser preparada, no âmbito da transposição do Código Europeu das Comunicações Eletrónicas (CECE). Ora essa transposição já estava atrasada quando a discussão chegou ao Parlamento. Agora, com o Parlamento dissolvido, e o país a aguardar pelas eleições legislativas de 30 de janeiro, este é um tema cuja conclusão não se consegue prever. Os operadores já fizeram saber que não desejam alterações nas regras das fidelizações, sob pena dos serviços encarecerem.


Preços cresceram 7% na última década


A par deste tema, o regulador insiste que os preços estão a crescer em Portugal, quando decrescem na União Europeia (UE). "Entre o final de 2009 e novembro de 2021, os preços das telecomunicações em Portugal aumentaram 7%, enquanto na UE diminuíram 9,7%. A diferença estreitou-se com a entrada em vigor 2019 das novas regras europeias que regulam os preços das comunicações intra-UE", refere a Anacom.


A diferença entre a evolução de preços das telecomunicações em Portugal e na UE (+16,7 pontos percentuais., em termos acumulados) deve-se aos ajustamentos de preços que os prestadores implementaram, normalmente nos primeiros meses de cada ano. Para 2022, a Nowo prevê manter preços, enquanto a Meo vai atualizá-los. Já a Vodafone e a NOS ainda não tomaram uma decisão final.


Só este ano, entre janeiro e novembro, "os preços das telecomunicações em Portugal aumentaram 0,6% devido à subida das mensalidades das ofertas em pacote".


"Em novembro os preços subiram 0,4%. Por comparação com o mês anterior, e devido sobretudo às promoções da Black Friday, os preços caíram 1,2%. Em comparação com o mesmo mês do ano anterior, verificaram-se 29 variações das mensalidades mínimas de serviços/ofertas, sendo que 16 foram aumentos de preços e 13 foram diminuições", sublinha a Anacom.


Nos últimos 12 meses, o organismo liderado por Cadete de Matos identificou 35 aumentos e 24 diminuições de mensalidades mínimas em relação ao mês anterior. O período de maiores alterações ocorreu no verão deste ano. "Em maio e junho de 2021 ocorreram aumentos de preços relacionados com alterações de ofertas em pacote e TV single-play da Meo, NOS e Vodafone, e alterações nas ofertas do serviço telefónico móvel, tanto individualizado como em pacote, da Nowo. Em julho de 2021, ocorreram aumentos devido à eliminação da opção de TV da NOWO a 2,5 euros/mês. Em novembro de 2021, observaram-se 19 diminuições mínimas no contexto do das campanhas promocionais associadas à Black Friday", lê-se.


A Anacom salienta, ainda, em particular, os aumentos das mensalidades das ofertas quadruple e quintuple play (4/5P - quatro ou cinco serviços convergentes no mesmo pacote subscrito) da Meo, NOS e Vodafone ocorridos em maio e junho de 2021.


https://www.dinheirovivo.pt/empresas/telecomunicacoes/anacom-alerta-precos-altos-limitam-uso-da-banda-larga-e-dificultam-transicao-digital-14442538.html

Comentários

Notícias mais vistas:

Esta cidade tem casas à venda por 12.000 euros, procura empreendedores e dá cheques bebé de 1.000 euros. Melhor, fica a duas horas de Portugal

 Herreruela de Oropesa, uma pequena cidade em Espanha, a apenas duas horas de carro da fronteira com Portugal, está à procura de novos moradores para impulsionar sua economia e mercado de trabalho. Com apenas 317 habitantes, a cidade está inscrita no Projeto Holapueblo, uma iniciativa promovida pela Ikea, Redeia e AlmaNatura, que visa incentivar a chegada de novos residentes por meio do empreendedorismo. Para atrair interessados, a autarquia local oferece benefícios como arrendamento acessível, com valores médios entre 200 e 300 euros por mês. Além disso, a aquisição de imóveis na região varia entre 12.000 e 40.000 euros. Novas famílias podem beneficiar de incentivos financeiros, como um cheque bebé de 1.000 euros para cada novo nascimento e um vale-creche que cobre os custos da educação infantil. Além das vantagens para famílias, Herreruela de Oropesa promove incentivos fiscais para novos moradores, incluindo descontos no Imposto Predial e Territorial Urbano (IBI) e benefícios par...

"A NATO morreu porque não há vínculo transatlântico"

 O general Luís Valença Pinto considera que “neste momento a NATO morreu” uma vez que “não há vínculo transatlântico” entre a atual administração norte-americana de Donald Trump e as nações europeias, que devem fazer “um planeamento de Defesa”. “Na minha opinião, neste momento, a menos que as coisas mudem drasticamente, a NATO morreu, porque não há vínculo transatlântico. Como é que há vínculo transatlântico com uma pessoa que diz as coisas que o senhor Trump diz? Que o senhor Vance veio aqui à Europa dizer? O que o secretário da Defesa veio aqui à Europa dizer? Não há”, defendeu o general Valença Pinto. Em declarações à agência Lusa, o antigo chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas, entre 2006 e 2011, considerou que, atualmente, ninguém “pode assumir como tranquilo” que o artigo 5.º do Tratado do Atlântico Norte – que estabelece que um ataque contra um dos países-membros da NATO é um ataque contra todos - “está lá para ser acionado”. Este é um dos dois artigos que o gener...

Armazenamento holográfico

 Esta técnica de armazenamento de alta capacidade pode ser uma das respostas para a crescente produção de dados a nível mundial Quando pensa em hologramas provavelmente associa o conceito a uma forma futurista de comunicação e que irá permitir uma maior proximidade entre pessoas através da internet. Mas o conceito de holograma (que na prática é uma técnica de registo de padrões de interferência de luz) permite que seja explorado noutros segmentos, como o do armazenamento de dados de alta capacidade. A ideia de criar unidades de armazenamento holográficas não é nova – o conceito surgiu na década de 1960 –, mas está a ganhar nova vida graças aos avanços tecnológicos feitos em áreas como os sensores de imagem, lasers e algoritmos de Inteligência Artificial. Como se guardam dados num holograma? Primeiro, a informação que queremos preservar é codificada numa imagem 2D. Depois, é emitido um raio laser que é passado por um divisor, que cria um feixe de referência (no seu estado original) ...