Avançar para o conteúdo principal

Segurança Social tem quase dez milhões por cobrar por ocupação de imóveis


A ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, Ana Mendes Godinho. © LUSA


 O Tribunal de Contas levanta dúvidas sobre a gestão do património imobiliário e a fiabilidade dos dados apresentados nas contas de 2020.


O Instituto de Gestão Financeira da Segurança Social (IGFSS) tem perto de dez milhões de euros por cobrar a entidades públicas pela ocupação de imóveis do Estado, tendo até aqui apenas conseguido abater pouco mais de 200 mil euros aos valores em dívida.

Está em causa a aplicação do princípio de que as entidades públicas - com exceção de tribunais, escolas, hospitais e prisões, entre outras - devem assegurar contrapartidas pelo uso de imóveis públicos quando não há lugar a contratos de arrendamento, num princípio que se tem vindo a aplicar gradualmente a todo o imobilizado público e que vigora para a Segurança Social desde 2019.


A situação é reportada pelo Tribunal de Contas, na análise ao relatório da Conta Geral do Estado publicada na última quarta-feira, documento no qual aponta várias deficiências e fragilidades à gestão do património imobiliário da Segurança Social. De resto, também já notadas pelos revisores encarregados de validarem as contas da Segurança Social, segundo assinala o órgão presidido por José Tavares.


O valor de contrapartidas em dívida por ocupação de edifícios da Segurança Social da atinge os 9,6 milhões de euros para os últimos dois anos, tendo o IGFSS conseguido até final de 2020 cobrar 16,7 mil euros. Já neste ano, adianta o Tribunal de Contas, foram saldados mais 207 mil euros.

Entre as entidades notificadas para pagamento estão as administrações regionais de saúde de Lisboa e Vale do Tejo e do Norte, bem como o próprio Instituto da Segurança Social. Sobre um valor de cerca de 3,3 milhões de euros haverá ainda dúvidas sobre a aplicação do princípio de que é necessário pagar pela ocupação, reflete a análise do Tribunal de Contas, mas o certo é que os procedimentos para fazer cumprir a lei têm tido poucos resultados.


Além do baixo valor em dívida recuperado até aqui, o IGFSS terá conseguido até julho último assinar apenas um contrato de arrendamento com os ocupantes dos imóveis, tendo iniciado diligências para celebrar 17 contratos de arrendamento (em valores superiores às contrapartidas mínimas exigidas por lei).


A demora e as dificuldades, diz o Tribunal de Contas, vêm pôr em evidência "fragilidades no sistema de controlo interno da Segurança Social quanto à identificação dos imóveis na sua titularidade", mas também "corroborar as várias deficiências que, a longo dos anos, se têm vindo a evidenciar na área dos imóveis e que têm merecido reservas quanto à fiabilidade das demonstrações financeiras".


Imóveis a mais e a menos

O tribunal analisou 28 imóveis identificados pelo IGFSS para aplicação do chamado princípio da onerosidade e também 11 que surgem registados no sistema de informações dos imóveis do Estado tendo o IGFSS como proprietário, descobrindo várias incongruências.

Nuns casos, as contas da Segurança Social saem mais valorizadas do que deviam porque o IGFSS contabiliza como património imóveis dos quais não é titular, mas também há situações em que imóveis registados como sendo deste instituto não aparecem nas demonstrações financeiras. Somam-se imóveis que estão contabilizados em duplicado, e também erros e omissões nas aplicação das regras de amortização dos edifícios, dando origem quer a sobrevalorizações como a subvalorizações do património.


Trata-se de uma situação que será corrigida numa revisão integral do imobilizado com a implementação de um novo sistema de informação financeira em desenvolvimento ainda neste ano, segundo esclarecimentos prestados ao Tribunal de Contas. Mas há mais problemas detetados na gestão dos imóveis que estão na esfera da Segurança Social. A análise do Tribunal de Contas também dá conta de um imóvel que foi indevidamente cedido a título gratuito e definitivo pelo Instituto de Segurança Social dos Açores ao Instituto de Gestão Financeira e Equipamentos de Justiça.


No caso, o governo regional dos Açores argumentou que o equipamento reverteu para a recuperação e integração de reclusos, matéria que não é alheia à Segurança Social. Mas, o edifício tinha sido entregue por dívidas de contribuições sociais e, por isso, devia reverter para o sistema previdencial da Segurança Social, diz o Tribunal de Contas, lembrando as regras de financiamento impostas pela Lei de Bases da Segurança Social: impostos e receitas de jogos sociais servem para pagar medidas de proteção social; as contribuições sociais servem para pagar as chamadas prestações contributivas, como as pensões.


O tribunal defende que a cedência gratuita, "ao não envolver qualquer compensação financeira, resultou numa diminuição do património do sistema previdencial da Segurança Social e inviabilizou a afetação de receita" ao Fundo de Estabilização Financeira da Segurança Social, a reserva que serve para sustentar pensões em caso de défice e para a qual devem reverter resultados de vendas de imóveis. A opção, acusa, prejudica a sustentabilidade da Segurança Social.


https://www.dinheirovivo.pt/economia/nacional/seguranca-social-tem-quase-dez-milhoes-por-cobrar-por-ocupacao-de-imoveis-14417278.html

Comentários

Notícias mais vistas:

"Assinatura" típica do Kremlin: desta vez foi pior e a Rússia até atacou instalações da UE

Falamos de "um dos maiores ataques combinados" contra a Ucrânia, que também atingiu representações de países da NATO Kiev foi novamente bombardeada durante a noite. Foi o segundo maior ataque aéreo da Rússia desde a invasão total à Ucrânia. Morreram pelo menos 21 pessoas, incluindo quatro crianças, de acordo com as autoridades. Os edifícios da União Europeia e do British Council na cidade foram atingidos pelos ataques, o que levou a UE e o Reino Unido a convocarem os principais diplomatas russos. Entre os mortos encontram-se crianças de 2, 17 e 14 anos, segundo o chefe da Administração Militar da cidade de Kiev. A força aérea ucraniana afirmou que o Kremlin lançou 629 armas de ataque aéreo contra o país durante a noite, incluindo 598 drones e 31 mísseis. Yuriy Ihnat, chefe de comunicações da Força Aérea, disse à CNN que os foi “um dos maiores ataques combinados” contra o país. O ministério da Defesa da Rússia declarou que atacou “empresas do complexo militar-industrial e base...

Avião onde viajava Von der Leyen afetado por interferência de GPS da Rússia

 O GPS do avião onde viajava a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, foi afetado por uma interferência que as autoridades suspeitam ser de origem russa, no domingo, forçando uma aterragem com mapas analógicos. Não é claro se o avião seria o alvo deliberado. A aeronave aterrou em segurança no Aeroporto Internacional de Plovdiv, no sul da Bulgária, sem ter de alterar a rota. "Podemos de facto confirmar que houve bloqueio do GPS", disse a porta-voz da Comissão Europeia, Arianna Podesta, numa conferência de imprensa em Bruxelas. "Recebemos informações das autoridades búlgaras de que suspeitam que se deveu a uma interferência flagrante da Rússia". A região tem sofrido muitas destas atividades, afirmou o executivo comunitário, acrescentando que sancionou várias empresas que se acredita estarem envolvidas. O governo búlgaro confirmou o incidente. "Durante o voo que transportava a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, para Plovdiv, o s...

O maior aliado da Rússia a defender a Ucrânia: eis a proposta de Trump

 Proposta de Trump foi apresentada aos aliados e à Ucrânia na reunião na Casa Branca. A ideia não caiu nada bem, até porque já tinha sido sugerida anteriormente por Putin. Tropas norte-americanas nunca farão parte das garantias de segurança a dar à Ucrânia e isso já se sabia, mas a proposta do presidente dos Estados Unidos é, no mínimo, inquietante para Kiev, já que passa por colocar soldados amigos da Rússia a mediar o conflito. De acordo com o Financial Times, que cita quatro fontes familiarizadas com as negociações, o presidente dos Estados Unidos sugeriu que sejam destacadas tropas chinesas como forças da paz num cenário pós-guerra. Uma proposta que, segundo as mesmas fontes, vai ao encontro do que Vladimir Putin sugeriu, até porque a China é um dos mais fortes aliados da Rússia, mesmo que tenha mantido sempre uma postura ambígua em relação ao que se passa na Ucrânia. A proposta de Trump passa por convidar a China a enviar pacificadores que monitorizem a situação a partir de um...