Avançar para o conteúdo principal

Cada vez há mais escravatura em Portugal.



 Ordem dos Advogados: Trabalhadores estrangeiros de Odemira pagam 18 mil euros por contrato.


A Comissão dos Direitos Humanos da Ordem dos Advogados denunciou que os angariadores prometem aos trabalhadores estrangeiros, em Odemira, contratos de trabalho mediante 18 mil euros


A Comissão dos Direitos Humanos da Ordem dos Advogados (CDHOA) denunciou, num relatório hoje divulgado, que os angariadores ou intermediários prometem aos trabalhadores estrangeiros, em Odemira (Beja), contratos de trabalho mediante uma quantia de 18 mil euros.


“Os angariadores ou intermediários oferecem ao trabalhador estrangeiro uma promessa de contrato de trabalho, junto de uma empresa de trabalho temporário, mediante a solicitação de 18 mil euros, cuja metade do valor é para o próprio angariador e o remanescente para a empresa de trabalho temporário”, descreve a comissão.


O documento, consultado pela agência Lusa, resulta de averiguações realizadas pela CDHOA, cujos vogais se deslocaram a “Odemira e arredores” para verificar a realidade local, após ter tido conhecimento da “eventual situação precária e de exploração laboral” desses trabalhadores.


Dois membros da CDHOA deslocaram-se, no dia 05 de maio deste ano, ao concelho de Odemira para reuniões com as autoridades locais e visitas a espaços referenciados como “problemáticas em termos de direitos humanos”.


No relatório, divulgado hoje na sequência da acusação de sete elementos da GNR por um total de 33 crimes, por humilharem e torturarem imigrantes em Odemira, os comissários apuraram também que “seria exigida a quantia média de seis mil euros a cada migrante” com vista à sua legalização no Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF).


Segundo os comissários, “as ‘rendas’ exigidas pelos senhorios” em locais que, “na maioria das vezes, se confundem com ‘alojamentos’ das entidades patronais”, oscilam entre os 600 e os 800 euros.


Mediante o pagamento destes montantes, os trabalhadores teriam “direito à cama, mais o uso comunitário do espaço da cozinha e da casa de banho sem quaisquer condições sanitárias e de salubridade, estando a maioria dos migrantes em situação de sobrelotação”, relatam.


“Boa parte dos salários pagos, que em média rondariam dois salários mínimos nacionais, não chegam para pagar a renda e o ‘reembolso’ da viagem” para Portugal, “restando a esses trabalhadores a quantia mensal líquida de 130 a 150 euros”, lê-se no documento.


Devido a esta situação, os trabalhadores são “obrigados a trabalhar em mais de dois locais para sobreviver e sem qualquer direito ao descanso”, acrescentam.


De acordo com os comissários, muitos desses trabalhadores “submetem-se voluntariamente a tais condições, com a expectativa [de] solicitar a naturalização a fim de obter a nacionalidade portuguesa” para se deslocarem, de forma legal, para outros países da União Europeia.


Na deslocação e visita ao Tribunal de Odemira, os comissários confirmaram que estariam a correr termos, junto dos Serviços do Ministério Público, “pelo menos três inquéritos-crime” relacionados com estes ilícitos.


No relatório, alerta-se ainda para existência de várias empresas que “atuam como intermediárias” e “procedem à legalização de migrantes”, cobrando “valores altíssimos” de cerca de oito mil euros por legalização.


Além de praticarem “atos próprios de advogados”, existem “alguns indícios” de “procuradoria ilícita” em algumas situações e de “aproveitamento destes migrantes, que desconhecem o país e a legislação aplicável aos mesmos”.


Em abril deste ano, o Governo decidiu decretar uma cerca sanitária às freguesias de São Teotónio e de Almograve, no concelho de Odemira, devido à elevada incidência de casos de covid-19, sobretudo entre trabalhadores do setor agrícola.


Na altura, o primeiro-ministro, António Costa, sublinhou que “alguma população vive em situações de insalubridade habitacional inadmissível, com hipersobrelotação das habitações”, relatando situações de “risco enorme para a saúde pública, para além de uma violação gritante dos direitos humanos”.


O então presidente da Câmara Municipal de Odemira estimou, nessa altura, que “no mínimo seis mil” dos 13 mil trabalhadores agrícolas do concelho, permanentes e temporários, “não têm condições de habitabilidade”.


https://visao.sapo.pt/visaosaude/2021-12-17-trabalhadores-estrangeiros-de-odemira-pagam-18-mil-euros-por-contrato-ordem-dos-advogados/?amp


Comentário do Wilson:

Cada vez há mais escravatura em Portugal e não me estou a referir apenas aos migrantes de Odemira, estes apenas se destacam por serem alvo de uma rede organizada de escravização onde são explorados quer os imigrantes quer as empresas onde estes trabalham.


Comentários

Notícias mais vistas:

Constância e Caima

  Fomos visitar Luís Vaz de Camões a Constância, ver a foz do Zêzere, e descobrimos que do outro lado do arvoredo estava escondida a Caima, Indústria de Celulose. https://www.youtube.com/watch?v=w4L07iwnI0M&list=PL7htBtEOa_bqy09z5TK-EW_D447F0qH1L&index=16

Novo passo na guerra: soldados norte-coreanos preparam tudo para entrar na Ucrânia

 A chegar às fileiras de Moscovo estão também mais armas e munições A guerra na Ucrânia pode estar prestes a entrar numa nova fase e a mudar de tom. Segundo a emissora alemã ZDF, a Rússia começou a transferir sistemas de artilharia de longo alcance fornecidos pela Coreia do Norte para a Crimeia, território ucraniano anexado pela Federação Russa em 2014. Trata-se de uma escalada significativa da colaboração militar entre Moscovo e Pyongyang, e um indício claro de que o envolvimento norte-coreano no conflito pode estar prestes a expandir-se dramaticamente. Imagens divulgadas online no dia 26 de março mostram canhões autopropulsados norte-coreanos Koksan a serem transportados por comboio através do norte da Crimeia. Estes canhões de 170 milímetros são considerados dos mais potentes do mundo em termos de alcance: conseguem atingir alvos a 40 quilómetros com munições convencionais e até 60 quilómetros com projéteis assistidos por foguete. Até agora, os militares norte-coreanos só tinham...

Os professores

 As últimas semanas têm sido agitadas nas escolas do ensino público, fruto das diversas greves desencadeadas por uma percentagem bastante elevada da classe de docentes. Várias têm sido as causas da contestação, nomeadamente o congelamento do tempo de serviço, o sistema de quotas para progressão na carreira e a baixa remuneração, mas há uma que é particularmente grave e sintomática da descredibilização do ensino pelo qual o Estado é o primeiro responsável, e que tem a ver com a gradual falta de autoridade dos professores. A minha geração cresceu a ter no professor uma referência, respeitando-o e temendo-o, consciente de que os nossos deslizes, tanto ao nível do estudo como do comportamento, teriam consequências bem gravosas na nossa progressão nos anos escolares. Hoje, os alunos, numa maioria demasiado considerável, não evidenciam qualquer tipo de respeito e deferência pelo seu professor e não acatam a sua autoridade, enfrentando-o sem nenhum receio. Esta realidade é uma das princip...