Avançar para o conteúdo principal

Salários dos professores: Relatório da OCDE parte de dados falsos e põe a circular mentiras

Salários e horários de trabalho dos professores em Portugal

Relatório da OCDE parte de dados falsos e põe a circular mentiras

FENPROF exige a correção dos dados, bem como informação sobre quem os forneceu para que se construísse uma mentira destas

A forma como, publicamente, foi abordado o relatório da OCDE e como foram divulgados os dados relativos à situação dos professores em Portugal é de uma falta de rigor impressionante, que só não surpreende porque, como se sabe, se os dados fossem devidamente abordados isso não seria notícia.

Senão, repare-se:

- Não foi notícia quando a OCDE divulgou em relatório que os professores portugueses foram os que mais rendimento perderam entre 2010 e 2015 – 30%!

- Não foi notícia quando, há três meses, a OCDE confirmava uma quebra de salários dos docentes portugueses de 10% (a segunda maior da OCDE), tendo, porém, no mesmo período sido registado o maior aumento de desempenho científico dos seus alunos no conjunto dos 37 países – 7,6%!

- Também não tinha sido notícia o que a OCDE referiu, em pleno período de intervenção da troika no nosso país: os professores portugueses são os que passam mais tempo na escola!

Porém, já foi notícia a mentira posta a circular pelo governo, em junho passado, de que os salários dos professores portugueses eram superiores aos dos seus colegas dos países da OCDE. Já em relação à constatação, incluída no recente relatório, de que os professores portugueses estão abaixo da média praticada naqueles países, esse facto não é destacado em nenhuma das notícias divulgadas e quando é referido surge como uma espécie de rodapé.

Deste último relatório, têm sido destacados dois aspetos: 1) os professores portugueses ganham mais que os outros trabalhadores do país com a mesma qualificação; 2) os professores portugueses trabalham menos que os seus colegas dos países da OCDE. Duas mentiras!

Vejamos os salários:

- Os salários dos professores portugueses não são os que o relatório refere

. Se um docente em início de carreira ganhasse, anualmente, 28.349 euros teria um salário mensal de 2.024. É mentira, o seu salário mensal bruto é de 1.530 euros, auferindo, por ano, 21.420 euros. Uma diferença de 6.929 euros!

. Se um docente com 15 anos de carreira ganhasse, anualmente, 36.663 euros teria um salário mensal de 2.618. É mentira, se o seu tempo de serviço fosse contado integralmente estaria no 4.º escalão e teria um salário mensal bruto de 1.982 euros. Mas como o governo insiste em não contar o tempo de serviço perdido pelos professores este docente está no 1.º escalão e aufere um salário mensal bruto é de 1.530 euros, logo, por ano, 21.420 euros. Uma diferença de 15.243 euros!

. Se um docente no topo da carreira ganhasse, anualmente, 56.401 euros teria um salário mensal de 4.028. É mentira, o seu salário mensal bruto é de 3.364 euros, auferindo, por ano, 47.096 euros. Uma diferença de 9.305 euros!

Ou seja, para além de os valores considerados pela OCDE não serem os corretos, também não foram considerados todos os constrangimentos que afetam os professores, desde logo a perda de, no mínimo, 9 anos, 4 meses e 2 dias de serviço, o que faz com que nenhum docente esteja integrado no escalão por onde, alegadamente, as contas foram feitas. O único fator que a OCDE teve em conta para justificar os números que avança foi o envelhecimento da profissão docente.

Em relação ao horário de trabalho também é falso o cálculo que foi divulgado. Os professores portugueses trabalhariam por ano, se o seu horário fosse apenas aquele que se encontra na lei (35 horas semanais), 1.190 horas e não 920 horas. Como as normas legais de organização do horário são desrespeitadas – problema que a FENPROF tem vindo a denunciar, exigindo a regularização –, na verdade, os professores em Portugal trabalham, anualmente, mais de 1.500 horas (mais de 46 horas semanais)! O que o relatório da OCDE parece fazer é comparar o incomparável: a componente letiva dos docentes portugueses com o horário completo dos professores dos outros países.

Assim, quer em relação aos salários, quer aos horários de trabalho, partindo de uma base que é errada, todas as conclusões são falsas e não servem para nada a não ser para, mais uma vez, manipular a opinião pública num momento em que os professores lutam em defesa da sua carreira e de melhores condições de trabalho.

Face a estes dados que foram postos a circular, a FENPROF vai solicitar ao diretor de Educação e Competências da OCDE, Andreas Schleicher, dando disso conhecimento ao Secretário-Geral da Internacional de Educação, David Edwards, a correção dos dados que foram divulgados e também informação sobre forneceu os dados que permitiram divulgar estas mentiras.

O Secretariado Nacional


https://expresso.sapo.pt/sociedade/2018-09-12-Fenprof-acusa-OCDE-de-apresentar-dados-falsos-sobre-salarios-de-professores-Duas-mentiras#gs.YuX1LVY

Comentários

Notícias mais vistas:

Diarreia legislativa

© DR  As mais de 150 alterações ao Código do Trabalho, no âmbito da Agenda para o Trabalho Digno, foram aprovadas esta sexta-feira pelo Parlamento, em votação final. O texto global apenas contou com os votos favoráveis da maioria absoluta socialista. PCP, BE e IL votaram contra, PSD, Chega, Livre e PAN abstiveram-se. Esta diarréia legislativa não só "passaram ao lado da concertação Social", como também "terão um profundo impacto negativo na competitividade das empresas nacionais, caso venham a ser implementadas Patrões vão falar com Marcelo para travar Agenda para o Trabalho Digno (dinheirovivo.pt)

OE2026: 10 medidas com impacto (in)direto na carteira dos portugueses

  O Governo entregou e apresentou a proposta de Orçamento do Estado para o próximo ano, mas com poucas surpresas. As mudanças nos escalões de IRS já tinham sido anunciadas, bem como o aumento nas pensões. Ainda assim, há novidades nos impostos, alargamento de isenções, fim de contribuições extraordinárias e mais despesa com Defesa, 2026 vai ser “um ano orçamental exigente” e a margem disponível para deslizes está “próxima de zero”. A afirmação em jeito de aviso pertence ao ministro das Finanças, Joaquim Miranda Sarmento, e foi proferida na  apresentação da proposta de Orçamento do Estado  para o próximo ano. O excedente é de cerca de 230 milhões de euros, pelo que se o país não quer voltar a entrar num défice, a margem para mais medidas é "próxima de zero". "Os números são o que são, se não tivéssemos os empréstimos do PRR não estaríamos a fazer alguns projetos", apontou, acrescentando que não vai discutir o mérito da decisão tomada relativamente à 'bazuca europ...

Governo altera regras de ISV para híbridos plug-in

  Híbridos plug-in vão continuar a pagar menos ISV, mas o Governo alterou as regras para evitar agravamento fiscal. Saiba o que está em causa. Atualmente, os  híbridos  plug-in  (que ligam à tomada) têm uma redução de 75% no ISV (Imposto Sobre Veículos), caso tenham uma autonomia mínima elétrica de 50 km e emissões de dióxido de carbono oficiais inferiores a 50 g/km. A partir de 2026, o Governo mantém a redução de 75% do ISV, mas vai aumentar o limite de 50 g/km de CO 2  para 80 g/km, de acordo com o que foi divulgado pela ACAP (Associação Automóvel de Portugal) ao  Expresso . © Volvo A razão para elevar o limite mínimo de emissões deve-se à entrada em vigor, a partir de janeiro de 2026, da norma Euro 6e-bis. Entre várias alterações, a norma vai alterar também a forma como são certificados os consumos e emissões dos híbridos  plug-in , refletindo melhor o uso real destes veículos. Resultado? A maioria dos valores de CO 2  homologados vão subir. Ca...