Avançar para o conteúdo principal

Portugal entre os países onde os salários mais arrefeceram depois da crise

A OCDE alerta que a recuperação do emprego não está a ser acompanhada pelo crescimento dos salários. Portugal é um dos países onde se observa uma diferença maior entre a evolução salarial antes e depois da crise financeira de 2008. E a maior travagem parece ocorrer entre os mais ricos.

Entre 2007 e 2016, os salários em Portugal avançaram a um ritmo 4,8 pontos percentuais mais baixo do que nos sete anos anteriores. É uma das maiores diferenças entre os Estados-membros da OCDE, organização que junta os países mais desenvolvidos do mundo. Apenas Irlanda, Grécia, Hungria e Estónia apresentam diferenças maiores.

“O crescimento dos salários tem desacelerado uniformemente em toda a escala de distribuição salarial entre o ciclo anterior e o atual numa série de países”, pode ler-se no mais recente Employment Outlook, publicado esta manhã pela OCDE. O crescimento da mediana salarial “caiu 1,5 pontos percentuais na OCDE e afundou mais de três pontos percentuais na Irlanda, Grécia e Portugal, bem como muitos países do Leste Europeu”.

O caso português tem uma característica que o distingue de outros países onde o arrefecimento foi significativo. É que, para os que menos dinheiro recebem, a quebra foi relativamente ligeira (menos de um ponto percentual). Por outro lado, a desaceleração é mais pronunciada entre os portugueses com salários mais altos. As remunerações do top 10% estão a crescer 8,5 pontos abaixo do ritmo pré-crise.

A OCDE não refere o que pode estar por trás desta diferença, mas ela não deve ser alheia às subidas do salário mínimo nos últimos anos. Isto é, o abrandamento salarial sentir-se-á em toda a economia, mas entre os salários mais baixos ela foi atenuada pelo aumento da retribuição mínima. Aliás, Portugal apresenta a maior diferença entre salários mais altos e mais baixos, o que sugere que é nas remunerações mais altas que a travagem tem sido mais forte (veja em baixo a comparação com os restantes países).

Para o futuro, os trabalhadores portugueses poderão ter dificuldades em encontrar um horizonte mais positivo. Não só a estrutura da economia portuguesa é relativamente frágil, como a criação de emprego nos últimos anos tem estado bastante dependente da restauração e da hotelaria. Setores que estão na base da pirâmide remuneratória em Portugal.

De uma perspetiva geral, a OCDE nota que pela primeira vez os seus Estados-membros ultrapassaram o nível de emprego que possuíam antes da crise financeira de 2008. O desemprego caiu e existem ofertas de trabalho, muitas das quais não são preenchidas. “Ainda assim, o crescimento dos salários continua a não aparecer.” O crescimento económico voltou, mas as remunerações continuam a avançar a passo de caracol.

“No final de 2017, o crescimento dos salários nominais na área da OCDE era apenas metade daquela que existia antes da Grande Recessão, com níveis comparáveis de desemprego”, pode ler-se no documento da OCDE. “As perspetivas de remunerações para muitos trabalhadores poderão permanecer escassas, à medida que se esforçam por se adaptarem a mundo do trabalho em rápida evolução.”

Veja em baixo como Portugal compara com os restantes países da OCDE. PRT é a sigla de Portugal. O losango branco representa o arrefecimento sentido nos salários mais baixos, o losango azul nos mais altos.

http://visao.sapo.pt/exame/2018-07-04-Portugal-entre-os-paises-onde-os-salarios-mais-arrefeceram-depois-da-crise

Comentários

Notícias mais vistas:

Como resistir ao calor: transforme a sua ventoinha simples num ar condicionado

 As ventoinhas, por si só, muitas vezes limitam-se a fazer circular o ar quente. Mas existe um truque engenhoso para torná-las mais eficazes Em dias de calor muito intenso, e para quem não tem ar condicionado em casa, suportar as elevadas temperaturas pode ser um verdadeiro desafio. No entanto, se tiver uma ventoinha por perto, há um truque simples que pode fazer toda a diferença na hora de refrescar o ambiente. As ventoinhas, por si só, têm muitas vezes dificuldade em baixar efetivamente a temperatura, limitando-se a fazer circular o ar quente. Mas existe uma maneira engenhosa de torná-las mais eficazes a refrescar o espaço. A página de TikTok @top_dicas_  partilhou um método simples para transformar uma ventoinha num verdadeiro ar condicionado caseiro. O processo é acessível e não exige ferramentas. Vai precisar apenas de uma ventoinha, duas garrafas de plástico, dois tubos de plástico, uma caixa térmica de esferovite, gelo, fita-cola e abraçadeiras. Comece por cortar a part...

Putin está "preocupado" com uma eventual Terceira Guerra Mundial mas avisa: "Toda a Ucrânia é nossa"

 "Russos e ucranianos são um só", entende o presidente da Rússia, que não procura uma capitulação total da Ucrânia, embora tenha um objetivo concreto em mente A Ucrânia faz parte da Rússia porque ucranianos e russos são uma e a mesma coisa. Este é o entendimento do presidente russo, Vladimir Putin, que não teve problemas em afirmá-lo esta sexta-feira. A partir do Fórum Económico Internacional de São Petersburgo, Vladimir Putin garantiu que não procura uma capitulação da Ucrânia, ainda que pretenda que Kiev reconheça a realidade da situação no terreno. “Não procuramos a capitulação da Ucrânia. Insistimos no reconhecimento da realidade que se desenvolveu no terreno”, acrescentou, sem concretizar totalmente o que isso significa. Mas já depois disso, e na confirmação de que pensa numa espécie de reedição da União Soviética, Vladimir Putin afirmou: “Russos e ucranianos são um só povo. Nesse sentido, toda a Ucrânia é nossa”. Apesar disso, e quase que numa aparente contradição, o pr...

Armazenamento holográfico

 Esta técnica de armazenamento de alta capacidade pode ser uma das respostas para a crescente produção de dados a nível mundial Quando pensa em hologramas provavelmente associa o conceito a uma forma futurista de comunicação e que irá permitir uma maior proximidade entre pessoas através da internet. Mas o conceito de holograma (que na prática é uma técnica de registo de padrões de interferência de luz) permite que seja explorado noutros segmentos, como o do armazenamento de dados de alta capacidade. A ideia de criar unidades de armazenamento holográficas não é nova – o conceito surgiu na década de 1960 –, mas está a ganhar nova vida graças aos avanços tecnológicos feitos em áreas como os sensores de imagem, lasers e algoritmos de Inteligência Artificial. Como se guardam dados num holograma? Primeiro, a informação que queremos preservar é codificada numa imagem 2D. Depois, é emitido um raio laser que é passado por um divisor, que cria um feixe de referência (no seu estado original) ...