Avançar para o conteúdo principal

Canal do Suez. A surpresa é isto não acontecer mais vezes


 O Ever Given esteve encalhado no Canal do Suez durante seis dias e provocou uma tempestade em quase todas as indústrias. Este período pode ter sido o suficiente para criar efeitos irreversíveis no fornecimento de alguns produtos nas próximas semanas.


Canal do Suez. A surpresa é isto não acontecer mais vezes


Quem diria que um barco encalhado poderia ser a principal notícia no mundo dos negócios na última semana. O Ever Given foi o protagonista na maior parte dos meios de comunicação social, depois de ter ficado preso no Canal de Suez, localizado a 120km do Cairo, no Egito, e bloqueado aquela que é uma das mais importantes rotas marítimas do comércio mundial. Os seis dias de duração do bloqueio, que terminou esta segunda-feira com a embarcação finalmente a retomar a sua rota, parecem pouco no papel, mas podem ter afetado negativamente as cadeias de abastecimento de várias indústrias.


Antes da história, um pouco de História O Canal do Suez foi inaugurado em 1869, depois de ter sido motivo de vários conflitos, incluindo o próprio Império Português com o Império Otomano durante os Descobrimentos. O canal liga o Mar Mediterrâneo ao Mar Vermelho, servindo como uma das principais rotas de comércio entre a Europa e a Ásia. Mas não só. Atualmente, estima-se que 12% a 15% do comércio mundial passe pelo Canal de Suez, sendo que, em 2020, passaram por lá cerca de 19.000 barcos (~51 por dia) com cerca de 1.500 milhões de toneladas em mercadorias, de acordo com a Autoridade do Canal de Suez (SCA).


Egito: estima-se que o Canal do Suez, contribua para a economia do país qualquer coisa como 2% do PIB.


Petróleo: em 2020, estima-se que o canal de Suez sozinho tenha sido responsável entre 5%-10% do comércio mundial de petróleo. Imagine o efeito no seu preço e nas indústrias que dele dependem se alguma coisa fosse acontecer a esta rota.


Agora sim, a história:

 Na última terça-feira, 24 de março, o porta-contentores Ever Given encalhou no canal e impediu que as centenas de embarcações que por lá passam diariamente pudessem prosseguir as suas rotas. Da China em direção a Roterdão, o navio com 400 metros de comprimento (o equivalente a quatro campos de futebol) acabou, ainda inexplicavelmente, preso nas margens de Suez, que tem apenas 190 metros navegáveis de largura. Com tantos barcos desta dimensão a passar no canal, a surpresa é isto não acontecer mais vezes.


Com 220 mil toneladas de mercadorias, avaliadas em 9 mil milhões de dólares, paradas no meio do mar, soaram os alarmes em várias empresas e indústrias, que viram não só os seus produtos incapazes de chegar ao destino, como temeram o que ia acontecer com os navios que “vinham atrás” do Ever Given. Isto porque apesar do incidente ter sido um ótimo catalisador de memes e piadas online, a incerteza de quando é que a situação podia ser resolvida (houve quem dissesse semanas) levou a que empresas corressem o risco de ver o seu negócio ficar, também ele, completamente “encalhado”.


Remar contra a maré Os efeitos do “Bloqueio de Suez” só poderão ser completamente analisados nas próximas semanas, quando os atrasos de fornecimento de produtos se fizerem sentir nas lojas físicas ou online. No entanto, há algumas consequências que já podem ser identificadas:


+300: o número de embarcações presas devido ao bloqueio. Nem todas eram porta-contentores como o Ever Given, mas dá para ter uma noção de que estiveram muitos milhares de milhões de dólares simplesmente a flutuar ou a afundar, dependendo da perspetiva.

Rotas familiares: muitas embarcações decidiram não esperar pelo fim do bloqueio e optaram por ir por outros caminhos. Uma das escolhas mais populares? A rota do Cabo da Boa Esperança, realizada por Vasco da Gama na descoberta do caminho marítimo para a Índia. São “só” mais 9 mil quilómetros e sete dias de navegação. - O próprio Canal estimou estar a perder cerca de 14 a 15 milhões de dólares por dia em receitas, devido a taxas que não estavam a ser cobradas.


Exemplos de indústrias afetadas:

Petróleo: redução da oferta >> subida do preço.

Papel higiénico: a empresa responsável por um terço da polpa utilizada na produção dos rolos viu o seu fornecimento ficar preso em Suez >> escassez de papel higiénico e uma nova histeria nos supermercados.

Café: vários dos contentores parados tinham o tipo de café que a Nescafé utiliza para o seu café instantâneo >> menos café nos supermercados e manhãs mais difíceis.

Chá: A empresa holandesa Vans Rees Group, líder de mercado, disse ter 80 contentores parados em 15 navios >> o chá das cinco ficar chá da próxima semana.

Seguros: a maior parte das empresas vai exigir compensação pelos danos causados pelo bloqueio >> um processo complexo de distribuição de culpas e um risco grande de liquidez para algumas seguradoras.


Lições para o futuro:

Apesar de todo o desenvolvimento tecnológico observado nas últimas décadas, para qualquer empresa que venda os seus produtos no mundo inteiro, mesmo com a logística mais bem preparada de sempre, a diferença entre lucro ou perda pode ser um barco encalhado.


https://24.sapo.pt/economia/artigos/canal-do-suez-a-surpresa-e-isto-nao-acontecer-mais-vezes

Comentários

Notícias mais vistas:

Motores a gasolina da BMW vão ter um pouco de motores Diesel

Os próximos motores a gasolina da BMW prometem menos consumos e emissões, mas mais potência, graças a uma tecnologia usada em motores Diesel. © BMW O fim anunciado dos motores a combustão parece ter sido grandemente exagerado — as novidades têm sido mais que muitas. É certo que a maioria delas são estratosféricas:  V12 ,  V16  e um  V8 biturbo capaz de fazer 10 000 rpm … As novidades não vão ficar por aí. Recentemente, demos a conhecer  uma nova geração de motores de quatro cilindros da Toyota,  com 1,5 l e 2,0 l de capacidade, que vão equipar inúmeros modelos do grupo dentro de poucos anos. Hoje damos a conhecer os planos da Fábrica de Motores da Baviera — a BMW. Recordamos que o construtor foi dos poucos que não marcou no calendário um «dia» para acabar com os motores de combustão interna. Pelo contrário, comprometeu-se a continuar a investir no seu desenvolvimento. O que está a BMW a desenvolver? Agora, graças ao registo de patentes (reveladas pela  Auto Motor und Sport ), sabemos o

Saiba como uma pasta de dentes pode evitar a reprovação na inspeção automóvel

 Uma pasta de dentes pode evitar a reprovação do seu veículo na inspeção automóvel e pode ajudá-lo a poupar centenas de euros O dia da inspeção automóvel é um dos momentos mais temidos pelos condutores e há quem vá juntando algumas poupanças ao longo do ano para prevenir qualquer eventualidade. Os proprietários dos veículos que registam anomalias graves na inspeção já sabem que terão de pagar um valor avultado, mas há carros que reprovam na inspeção por força de pequenos problemas que podem ser resolvidos através de receitas caseiras, ajudando-o a poupar centenas de euros. São vários os carros que circulam na estrada com os faróis baços. A elevada exposição ao sol, as chuvas, as poeiras e a poluição são os principais fatores que contribuem para que os faróis dos automóveis fiquem amarelados. Para além de conferirem ao veículo um aspeto descuidado e envelhecido, podem pôr em causa a visibilidade durante a noite e comprometer a sua segurança. É devido a este último fator que os faróis ba

A falsa promessa dos híbridos plug-in

  Os veículos híbridos plug-in (PHEV) consomem mais combustível e emitem mais dióxido de carbono do que inicialmente previsto. Dados recolhidos por mais de 600 mil dispositivos em carros e carrinhas novos revelam um cenário real desfasado dos resultados padronizados obtidos em laboratório. À medida que as políticas da União Europeia se viram para alternativas de mobilidade suave e mais verde, impõe-se a questão: os veículos híbridos são, realmente, melhores para o ambiente? Por  Inês Moura Pinto No caminho para a neutralidade climática na União Europeia (UE) - apontada para 2050 - o Pacto Ecológico Europeu exige uma redução em 90% da emissão de Gases com Efeito de Estufa (GEE) dos transportes, em comparação com os valores de 1990. Neste momento, os transportes são responsáveis por cerca de um quinto destas emissões na UE. E dentro desta fração, cerca de 70% devem-se a veículos leves (de passageiros e comerciais). Uma das ferramentas para atingir esta meta é a regulação da emissão de di