O sistema de avaliação e penalização de cidadãos segundo as ações em sociedade já tem os primeiros lesados. A China está a testar este sistema há cerca de um ano.
Habitualmente, se um cidadão comete um crime ou uma outra infração qualquer, o mais normal é ser acusado e julgado em tribunal, ou instado pelas autoridades a pagar uma multa. Mas na China não é bem assim, pelo menos há cerca de um ano.
O país asiático parece ter encontrado uma forma mais direta (e, possivelmente, mais eficaz) de penalizar os perpetradores de “pequenos crimes” listados neste sistema de “crédito social”, avança o Expresso.
Assim, de acordo com o Centro Nacional de Informações ao Crédito Público, os tribunais chineses proibiram viajantes de comprar voos 17,5 milhões de vezes até ao final de 2018. Além disso, mais 5,5 milhões de pessoas foram impedidas de comprar bilhetes de comboio.
O relatório foi divulgado na semana passada e citado pelo The Guardian e contém uma frase capaz de resumir a intenção das autoridades chinesas: “Uma vez desacreditado, limitado em todos os lugares“.
Este sistema de crédito social tem como objetivo incentivar o “bom” comportamento dos cidadãos, através de penalizações e de benefícios. A ideia é a de “permitir aos confiáveis caminhar por todos os lugares debaixo do céu; e proibir aos desacreditados que deem um só passo”, segundo um documento público do governo, datado de 2014.
No entanto, os tais “desacreditados” podem ser pessoas que não pagam impostos há anos, mas também cidadãos que fumem numa carruagem de comboio ou o que levem o seu cão a passear sem trela.
De negócio a uma experiência de engenharia social
Segundo o Expresso, tudo começou quando duas aplicações móveis que permitem aos utilizadores pagar quase qualquer serviço – a Alipay e o WeChat – tomaram conta do comércio no país. Estas aplicações detém juntas vários terabytes de informação pessoal de milhões de cidadãos chineses.
Em 2013, o Ant Financial, braço financeiro do Alipay, lançou o Zhima Credit , uma aplicação dentro da Alipay que incentiva as pessoas a deixarem-se analisar por um algoritmo.
Este algoritmo destina a cada cidadão um número com três dígitos, que sobe e desce conforme o que compramos, a rapidez com que pagamos as nossas dívidas, as instituições de solidariedade para as quais contribuímos, a nossa formação académica, entre outras coisas.
Neste programa, pontuar dá acesso a vários benefícios, desde descontos em hotéis até à obtenção mais rápida de vistos para viajar para o estrangeiro. Uma espécie de prémio para quem se “porta bem”.
Ora, se o Governo chinês pedir estes dados a estas empresas, tem nas suas mãos uma grande quantidade de informação sobre cada cidadão que pode, depois, colocar à disposição de milhares de instituições públicas e privadas e o acesso a todo o tipo de serviços dependente dessa “pontuação”.
Se para nós este sistema soa a algo estranho e demasiado invasivo, na China não é bem assim. O Expresso falou há um ano com um dos maiores analistas da área, residente em Singapura, que esclareceu que “isto é a China, as pessoas estão habituadas a abdicar de uma boa parte da sua privacidade”.
“Em alguns países da Europa e nos Estados Unidos nós somos muito agarrados à nossa privacidade, é cultural, mas aqui é mais ou menos sabido que o governo, de qualquer forma, já tem acesso a quase tudo o que quer“, explicou ao semanário.
https://zap.aeiou.pt/china-proibiu-23-milhoes-de-viajar-244274
Habitualmente, se um cidadão comete um crime ou uma outra infração qualquer, o mais normal é ser acusado e julgado em tribunal, ou instado pelas autoridades a pagar uma multa. Mas na China não é bem assim, pelo menos há cerca de um ano.
O país asiático parece ter encontrado uma forma mais direta (e, possivelmente, mais eficaz) de penalizar os perpetradores de “pequenos crimes” listados neste sistema de “crédito social”, avança o Expresso.
Assim, de acordo com o Centro Nacional de Informações ao Crédito Público, os tribunais chineses proibiram viajantes de comprar voos 17,5 milhões de vezes até ao final de 2018. Além disso, mais 5,5 milhões de pessoas foram impedidas de comprar bilhetes de comboio.
O relatório foi divulgado na semana passada e citado pelo The Guardian e contém uma frase capaz de resumir a intenção das autoridades chinesas: “Uma vez desacreditado, limitado em todos os lugares“.
Este sistema de crédito social tem como objetivo incentivar o “bom” comportamento dos cidadãos, através de penalizações e de benefícios. A ideia é a de “permitir aos confiáveis caminhar por todos os lugares debaixo do céu; e proibir aos desacreditados que deem um só passo”, segundo um documento público do governo, datado de 2014.
No entanto, os tais “desacreditados” podem ser pessoas que não pagam impostos há anos, mas também cidadãos que fumem numa carruagem de comboio ou o que levem o seu cão a passear sem trela.
De negócio a uma experiência de engenharia social
Segundo o Expresso, tudo começou quando duas aplicações móveis que permitem aos utilizadores pagar quase qualquer serviço – a Alipay e o WeChat – tomaram conta do comércio no país. Estas aplicações detém juntas vários terabytes de informação pessoal de milhões de cidadãos chineses.
Em 2013, o Ant Financial, braço financeiro do Alipay, lançou o Zhima Credit , uma aplicação dentro da Alipay que incentiva as pessoas a deixarem-se analisar por um algoritmo.
Este algoritmo destina a cada cidadão um número com três dígitos, que sobe e desce conforme o que compramos, a rapidez com que pagamos as nossas dívidas, as instituições de solidariedade para as quais contribuímos, a nossa formação académica, entre outras coisas.
Neste programa, pontuar dá acesso a vários benefícios, desde descontos em hotéis até à obtenção mais rápida de vistos para viajar para o estrangeiro. Uma espécie de prémio para quem se “porta bem”.
Ora, se o Governo chinês pedir estes dados a estas empresas, tem nas suas mãos uma grande quantidade de informação sobre cada cidadão que pode, depois, colocar à disposição de milhares de instituições públicas e privadas e o acesso a todo o tipo de serviços dependente dessa “pontuação”.
Se para nós este sistema soa a algo estranho e demasiado invasivo, na China não é bem assim. O Expresso falou há um ano com um dos maiores analistas da área, residente em Singapura, que esclareceu que “isto é a China, as pessoas estão habituadas a abdicar de uma boa parte da sua privacidade”.
“Em alguns países da Europa e nos Estados Unidos nós somos muito agarrados à nossa privacidade, é cultural, mas aqui é mais ou menos sabido que o governo, de qualquer forma, já tem acesso a quase tudo o que quer“, explicou ao semanário.
https://zap.aeiou.pt/china-proibiu-23-milhoes-de-viajar-244274
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