Avançar para o conteúdo principal

Movimento Cinco Estrelas foi financiado pelo chavismo, revelam documentos secretos



Partido no governo de Itália recebeu uma mala com 3,5 milhões de euros vindos da Venezuela em 2010. Financiamento foi intermediado por suspeitos de narcotráfico. País nunca reconheceu Guaidó.

O Movimento Cinco Estrelas, a que pertencem alguns ministros do governo de coligação italiano de Giuseppe Conte, recebeu um financiamento de 3,5 milhões de euros autorizado por Nicolás Maduro, atual Presidente de facto da Venezuela, no tempo em que Hugo Chávez era o Chefe de Estado. O dinheiro foi enviado em 2010, quando Maduro era ministro dos Negócios Estrangeiros, numa mala recebida no consulado venezuelano em Milão.

A notícia está a ser avançada pelo ABC, que teve acesso a documentos secretos da Direção Geral de Espionagem Militar venezuelana. O financiamento foi intermediado por Gian Carlo di Martino, cônsul da Venezuela em Itália, que depois entregou o dinheiro a Gianroberto Casaleggio, co-fundador do partido ao lado de Beppe Grillo.

O dinheiro foi enviado “de maneira segura e secreta através de mala diplomática” e saiu dos fundos de reserva geridos pelo então ministro do Interior, Tareck el Aissami, ex-vice-presidente da Venezuela acusado de tráfico de drogas e corrupção nos Estados Unidos, Canadá e Reino Unido.

Uma vez no consulado, a mala foi encontrada por um funcionário diplomático que relatou a descoberta a Hugo Carvajal, diretor-geral da espionagem militar em 2010 e também ele suspeito de narcotráfico. Depois disso, “foram dadas instruções verbais ao nosso funcionário em Itália para não continuar a relatar o assunto, o que poderia tornar-se um problema diplomático”, diz o documento a que o ABC teve acesso.

Nem o governo venezuelano, nem os atuais líderes do Movimento Cinco Estrelas responderam às perguntas do jornal espanhol sobre o financiamento. No entanto, já durante as eleições em Itália o partido tinha sido criticado pelo aparente apoio (nunca totalmente verbalizado) ao chavismo.

Itália é um dos três países europeus (além do Chipre e Eslováquia) que não reconhece Juan Guaidó como Presidente da Venezuela. “Não consideramos conveniente apressarmo-nos em reconhecer investiduras que, de qualquer forma, não passaram por um processo eleitoral”, disse em 2019 o primeiro-ministro Giuseppe Conte.

Era uma mensagem que contrastava com um tweet de Matteo Salvini feito no início desse ano: “Entendo que há diferentes sensibilidades no governo, mas é a Constituição da Venezuela que diz que, terminado o mandato de Maduro, ditador vermelho, o Presidente da Câmara toma posse, Guaidó”.

Manlio di Stefano, sub-secretário do Ministério de Assuntos Exteriores e membro do Movimento, justificou então que Itália não reconhece Juan Guaidó porque é “totalmente contra o facto de um país ou um grupo de países terceiros poder determinar as políticas internas de outro país”.



Comentários

Notícias mais vistas:

Está farto de chamadas comerciais ‘spam’? Decore estas três frases ‘mágicas’ que o podem safar

 As chamadas comerciais, muitas vezes referidas como chamadas spam, são aquelas em que empresas contactam os consumidores para tentar vender produtos ou serviços. Estas chamadas tornaram-se uma das maiores fontes de irritação para os utilizadores, principalmente porque, na maioria das vezes, os produtos oferecidos não são do interesse de quem atende. Além disso, essas chamadas tendem a acontecer nos momentos mais inconvenientes, como quando acabamos de fechar os olhos para uma sesta ou enquanto estamos a pagar as compras no supermercado. Pior ainda, não se trata apenas de uma única chamada por dia; há casos em que os consumidores recebem várias dessas chamadas indesejadas em poucas horas, o que aumenta o nível de frustração. Com o crescimento da cibercriminalidade, as chamadas telefónicas tornaram-se também uma via popular para fraudes, o que faz com que os consumidores queiram eliminar este tipo de contactos para evitar confusões entre chamadas legítimas e tentativas de burla. Ape...

Os professores

 As últimas semanas têm sido agitadas nas escolas do ensino público, fruto das diversas greves desencadeadas por uma percentagem bastante elevada da classe de docentes. Várias têm sido as causas da contestação, nomeadamente o congelamento do tempo de serviço, o sistema de quotas para progressão na carreira e a baixa remuneração, mas há uma que é particularmente grave e sintomática da descredibilização do ensino pelo qual o Estado é o primeiro responsável, e que tem a ver com a gradual falta de autoridade dos professores. A minha geração cresceu a ter no professor uma referência, respeitando-o e temendo-o, consciente de que os nossos deslizes, tanto ao nível do estudo como do comportamento, teriam consequências bem gravosas na nossa progressão nos anos escolares. Hoje, os alunos, numa maioria demasiado considerável, não evidenciam qualquer tipo de respeito e deferência pelo seu professor e não acatam a sua autoridade, enfrentando-o sem nenhum receio. Esta realidade é uma das princip...

Aníbal Cavaco Silva

Diogo agostinho  Num país que está sem rumo, sem visão e sem estratégia, é bom recordar quem já teve essa capacidade aliada a outra, que não se consegue adquirir, a liderança. Com uma pandemia às costas, e um país político-mediático entretido a debater linhas vermelhas, o que vemos são medidas sem grande coerência e um rumo nada perceptível. No meio do caos, importa relembrar Aníbal Cavaco Silva. O político mais bem-sucedido eleitoralmente no Portugal democrático. Quatro vezes com mais de 50% dos votos, em tempos de poucas preocupações com a abstenção, deve querer dizer algo, apesar de hoje não ser muito popular elogiar Cavaco Silva. Penso que é, sem dúvida, um dos grandes nomes da nossa Democracia. Nem sempre concordei com tudo. É assim a vida, é quase impossível fazer tudo bem. Penso que tem responsabilidade na ascensão de António Guterres e José Sócrates ao cargo de Primeiro-Ministro, com enormes prejuízos económicos, financeiros e políticos para o país. Mas isso são outras ques...