Avançar para o conteúdo principal

Estado aumenta capital da TAP e eleva a 1.662 milhões apoio dado à empresa

 Estado aumentou capital da TAP SA para fazer chegar 462 milhões de euros de compensação por danos do Covid-19. E ficou com 92% da empresa de aviação. Apoio já dado à TAP ascende a 1.662 milhões.


JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR


O Estado subscreveu um aumento de capital da TAP SA para materializar a entrada de 462 milhões de euros de fundos públicos autorizados pela Comissão Europeia a título de compensação pelos danos causados pela pandemia. Com esta injeção, os apoios públicos dados no último ano à companhia aérea totalizam os 1662 milhões de euros.


Este novo apoio, que tinha recebido luz verde em abril, é atribuído ao abrigo do regime europeu que permite os estados apoiarem empresas e setores que tenham sido fortemente penalizados por um evento excecional como foi a pandemia. A compensação cobre os prejuízos sofridos pela TAP entre 19 de março e 30 de junho do ano passado, em resultado das restrições legais à realização de viagens impostas por vários países.


A operação anunciada esta segunda-feira passa pela entrada de dinheiro fresco na empresa que tem o negócio da aviação comercial e torna a Direção-Geral do Tesouro no maior acionista direto da TAP SA com 92% do capital. Esta terá sido uma condição de Bruxelas na medida para evitar que os recursos fossem usados em outras empresas ou atividades do grupo TAP que não a aviação.


Entrada direta do Estado na TAP SA dilui direitos económicos de Humberto Pedrosa

Até agora, a TAP SA era detida totalmente pela TAP SGPS, a holding onde estava representado o Estado e o acionista privado Humberto Pedrosa. Com este aumento de capital, o Estado entra diretamente na TAP e a TAP SGPS reduz a sua participação na principal empresa do grupo para 8%, o que também implicará uma diluição dos direitos económicos dos privados na empresa que passam a ter 27,5% de 8%.


Para além de passar a controlar a TAP SA, o Estado já era o beneficiário efetivo da empresa ao deter 72,5% do capital da holding do grupo, pelo que esta operação “não altera o materialmente o controlo exercido sobre a TAP”, segundo comunicado enviado à Comissão de Mercado de Valores Mobiliários.


A transação realizada esta segunda-feira traduziu-se num aumento de capital de 41,5 milhões para 503,5 milhões de euros da TAP através da emissão de 92,4 milhões de ações de cinco euros cada. A operação permitirá “um reforço da estrutura de capitais” e aliviar as necessidades de tesouraria sentidas nos últimos meses, fruto da forte queda da atividade e do atraso na aprovação do plano de reestruturação apresentado à Comissão Europeia.


A nova entrada de dinheiro na companhia já estava prevista há várias semanas, mas acontece dias depois do Tribunal Geral de Justiça europeu ter anulado a ajuda dada à TAP em 2020, ao abrigo de um outro regime, o de resgate e reestruturação de empresas. No entanto, o efeito desta decisão negativa foi suspenso para permitir à Comissão Europeia fundamentar melhor as razões para ter autorizado a ajuda que é contestada pela Ryanair.


Apoio conta para o bolo final das ajudas permitidas por Bruxelas que terá de convencer o Tribunal Europeu

A TAP aguarda ainda luz verde da Comissão Europeia ao plano de reestruturação que teve de apresentar em troca do empréstimo de 1,2 mil milhões de euros recebido no ano passado e que foi alvo da queixa da companhia low-cost. Este plano que prevê um corte de custos sobretudo a nível laboral também antecipa a atribuição mais apoios públicos à transportadora aérea, sendo que os 462 milhões de euros agora pagos contam para o valor final da ajuda a autorizar. A sua aprovação tem vindo sistematicamente a derrapar no tempo, estando atualmente apontada para junho.


Questionada pelo Observador sobre a demora na análise do plano de reestruturação e se a decisão do tribunal europeu podia atrasar o processo, fonte oficial da DG Comp (a autoridade da concorrência europeia) não quis comentar. Acrescentou que apenas que os serviços vão “estudar com cuidado a sentença e refletir sobre os próximos passos possíveis”.


A mesma fonte assinala os efeitos suspensivos que o próprio Tribunal decretou e apesar da medida em causa se reportar a uma operação completa que inclui várias fases, a sentença “não altera situação existente, nem o plano de reestruturação apresentado por Portugal”. Esse plano continua a ser avaliado, mas a Comissão não antecipa um resultado ou data para a conclusão desse processo.


Cabe à Comissão fundamentar a decisão de aprovar a ajuda à TAP e não ao Estado português cujos principais responsáveis — primeiro-ministro e ministro das Infraestruturas têm aliás desvalorizado o efeito desta decisão judicial nas ajudas à TAP. Uma das razões que levaram o Tribunal a suspender os efeitos da anulação do auxílo à TAP é porque a sua concretização poderia obrigar a empresa a devolver os 1.2 mil milhões de euros recebidos no ano passado, o que teria consequências particularmente prejudiciais para a economia portuguesa no quadro dos efeitos da pandemia.


Por Ana Suspiro em:

https://observador.pt/2021/05/24/dinheiro-para-compensar-covid-chega-a-tap-via-aumento-de-capital-feito-pelo-estado-que-fica-com-92/

Comentários

  1. Se o António Costa não tivesse revertido a privatização da TAP, agora não seria problema nosso. Assim o contribuinte é chamado mais uma vez a alimentar este elefante branco que a TAP sempre foi.

    ResponderEliminar

Enviar um comentário

Notícias mais vistas:

Constância e Caima

  Fomos visitar Luís Vaz de Camões a Constância, ver a foz do Zêzere, e descobrimos que do outro lado do arvoredo estava escondida a Caima, Indústria de Celulose. https://www.youtube.com/watch?v=w4L07iwnI0M&list=PL7htBtEOa_bqy09z5TK-EW_D447F0qH1L&index=16

Movimentos antiocupas já estão em Portugal e autoridades tentam identificar membros

 Investigação surge depois de há uma semana e meia, a TVI ter revelado que estes movimentos, já conhecidos em Espanha, tinham chegado a Portugal As autoridades portuguesas estão a tentar identificar as pessoas envolvidas em empresas e movimentos antiocupas, grupos que se dedicam a expulsar quem ocupa ilegalmente uma casa ou um imóvel. A investigação surge depois de há uma semana e meia a TVI ter revelado que estes movimentos, já conhecidos em Espanha, tinham chegado a Portugal. Os grupos antiocupas têm-se multiplicado no nosso país, sendo que uns vêm de Espanha, outros nasceram em Portugal e todos com o mesmo princípio: devolver casas a quem é o legítimo proprietário. Os grupos que tentam devolver as casas são conhecidos pelo uso da força, mas o grupo com quem a TVI falou diz ser diferente. Solicitações não têm faltado, já que têm sido muitas as casas ocupadas de forma ilegal, em todo o país. Os grupos, que surgem como falta de resposta da lei, garantem que atuam de forma legal, ma...

Aeroporto: há novidades

 Nenhuma conclusão substitui o estudo que o Governo mandou fazer sobre a melhor localização para o aeroporto de Lisboa. Mas há novas pistas, fruto do debate promovido pelo Conselho Económico e Social e o Público. No quadro abaixo ficam alguns dos pontos fortes e fracos de cada projeto apresentados na terça-feira. As premissas da análise são estas: IMPACTO NO AMBIENTE: não há tema mais crítico para a construção de um aeroporto em qualquer ponto do mundo. Olhando para as seis hipóteses em análise, talvez apenas Alverca (que já tem uma pista, numa área menos crítica do estuário) ou Santarém (numa zona menos sensível) escapem. Alcochete e Montijo são indubitavelmente as piores pelas consequências ecológicas em redor. Manter a Portela tem um impacto pesado sobre os habitantes da capital - daí as dúvidas sobre se se deve diminuir a operação, ou pura e simplesmente acabar. Nem o presidente da Câmara, Carlos Moedas, consegue dizer qual escolhe... CUSTO DE INVESTIMENTO: a grande novidade ve...