Avanço científico permite a uma equipa baseada no CERN usar um laser especializado para manipular antimatéria, abrindo caminho a potenciais novas descobertas neste domínio
A questão sobre a escassez de antimatéria no Universo quando comparada com a abundância de matéria intriga a comunidade científica. Agora, a manipulação de antimatéria com recurso a um laser especializado pode ajudar a trazer mais clareza ao assunto. A equipa do projeto ALPHA (Antihydrogen Laser Physics Apparatus) do CERN anunciou ter conseguido abrandar partículas de antihidrogénio arrefecendo-as a temperaturas próximas do zero absoluto e que a inovação vai ter “implicações de longo alcance para os estudos sobre antimatéria”.
Makoto Fujiwara, investigador envolvido no projeto e porta-voz da equipa ALPHA Canadá, explica que o que agora foi conseguido, é o resultado de vários anos de investigação. “Trabalho no campo da Física de antimatéria há 20 anos e o arrefecimento a laser é um dos meus sonhos há muito tempo. Quando comecei, não sabíamos como produzir átomos de antimatéria em grandes quantidades – isto foi no fim da década de 1990 (…) É verdadeiramente excitante de duas formas: realizamos um sonho a que nos propusemos há muitos anos e abrimos muitas novas oportunidades agora”, cita a publicação Vice.
A manipulação com recurso a arrefecimento por laser de diferentes materiais já é usada há algum tempo e abriu caminho a muitas descobertas, mas esta é a primeira vez que é aplicada com sucesso a átomos de antimatéria.
As partículas de antimatéria são idênticas às de matéria, com a diferença de terem a carga exatamente oposta. Uma vez que são idênticas e opostas, quando colidem dão origem a reações de aniquilação espetaculares, criando subprodutos que podem ser detetados em laboratório e que provam a existência de antimatéria. O facto de existir atualmente mais matéria do que antimatéria no universo tem levantado questões e está espelhado no que se convencionou chamar o problema de assimetria de antimatéria.
Devido às suas reações combustíveis e pela hostilidade do nosso ambiente para a antimatéria, tem sido difícil à comunidade isolar estas partículas e ter tempo suficiente para as estudar. Este avanço, ao abrandar as partículas, vai permitir aos investigadores realizar observações mais precisas e eventualmente até manipular as partículas para conseguir fazer experiências e obter respostas.
O trabalho de afinação do ALPHA tem vindo a ser desenvolvido nos últimos dez anos até se conseguir disparar na frequência exata para abrandar as partículas geralmente a uma velocidade de 300 km/h para cerca de 50 km/h.
A equipa pretende continuar a melhorar a técnica para testar a premissa fundamental de que a antimatéria é idêntica à matéria, exceto na carga.
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