Avançar para o conteúdo principal

Requisição de casas privadas do Zmar viola a Constituição alerta a Ordem dos Advogados

 A Ordem dos Advogados defende que a requisição temporária do complexo turístico Zmar, em Odemira (Beja), para alojar trabalhadores agrícolas devido à covid-19, não pode abranger casas privadas, sob pena de violar a Constituição.


O bastonário da Ordem dos Advogados, Luís Menezes Leitão, fala aos jornalistas após visitar o Zmar Eco


O bastonário da Ordem dos Advogados, Luís Menezes Leitão, fala aos jornalistas após visitar o Zmar Eco Experience, complexo turistico alvo de requisição civíl pelo Governo para acolher pessoas que necessitem de isolamento profilático devido à covid-19, Odemira, 03 de maio de 2021. NUNO 


Após visitar o empreendimento turístico, no concelho de Odemira (Beja), o bastonário da Ordem dos Advogados (OA), Luís Menezes Leitão, invocou o artigo 34, n.º 2 da Constituição da República Portuguesa (CRP) para argumentar que a requisição civil do complexo não pode abranger as casas privadas aí existentes.


"O artigo 34, n.º 2 da Constituição diz expressamente que ninguém entra no domicílio de outra pessoa sem uma ordem judicial e, precisamente por isso, espero que a Constituição seja respeitada", alertou.


Segundo Menezes Leitão, a requisição civil decretada pelo Governo ao Zmar Eco Experience, na freguesia de Longueira-Almograve, com 260 habitações, das quais cerca de 100 são do complexo e as outras 160 são particulares, "chegaria se não estivesse em causa o domicílio privado de pessoas".


"A Constituição protege o domicílio, seja ele qual for", argumentou, reafirmando: "O que nós temos é um despacho do Governo. Não temos nenhuma ordem judicial".


Depois de conversas com diversos proprietários de casas no empreendimento, o bastonário da OA disse compreender "a situação dramática" dos trabalhadores agrícolas, sobretudo migrantes, de Odemira, concelho onde duas freguesias estão sob cerca sanitária, devido à elevada incidência de casos de covid-19.


Contudo, para Luís Menezes Leitão, a falta de condições de habitação para estes trabalhadores "tem origem numa resolução do Conselho de Ministros de outubro de 2019, que permitiu 16 pessoas por unidade de alojamento, quatro por quarto e umas área de 3,4 metros quadrados" para os migrantes.


"A resolução do problema deles é imperiosa", mas "não deve passar pela ocupação de domicílios privados, porque a inviolabilidade do domicílio é uma garantia constitucional", insistiu.


Para justificar a sua posição, o bastonário disse ainda que também "a nível de direitos humanos" é preciso não haver violações, aludindo ao "artigo 12 da Declaração Universal dos Direitos do Homem" e ao "artigo 8.º da Convenção Europeia".


Lembrando que o estado de emergência já não está em vigor, Menezes Leitão considerou que o Governo, ao decretar a requisição do Zmar, provocou "uma mistura de situações bastante diferentes", porque "uma coisa é a requisição de empreendimentos turísticos" ou "comerciais" e outra "é a de habitações privadas", sejam elas de primeira ou de segunda habitação.


"O caso de primeira habitação ainda mais grave, porque a pessoa é colocada na rua precisamente neste quadro de pandemia. Mas, mesmo sendo de segunda, é um caso de violação da intimidade da vida privada" e, a partir do momento em que acabou o estado de emergência, "não podem mais ser suspensos os direitos fundamentais das pessoas", assinalou.


Já no que toca ao núcleo de casas pertencente ao complexo turístico, Luís Menezes Leitão disse não colocar "o mesmo problema" relativo às habitações privadas.


No sábado, a Ordem dos Advogados anunciou ter solicitado a intervenção da sua Comissão de Direitos Humanos para analisar esta questão da requisição do Zmar e, questionado hoje pela agência Lusa, o bastonário destacou que o mesmo organismo vai debruçar-se sobre a falta de condições de habitação para os trabalhadores rurais do concelho, como é o caso da sobrelotação.


"Também vai ser objeto da Comissão de Direitos Humanos", que "quer vir" a Odemira, na quarta-feira, "tratar com associações a possibilidade de arranjar alojamento condigno para os trabalhadores", revelou.


"E é isso que nos parece também muito importante, porque os trabalhadores não podem estar numa situação destas, durante a pandemia. É absolutamente essencial que asseguremos simultaneamente a habitação aos trabalhadores, mas isso não passa pela entrada em domicílios privados. Temos que garantir os direitos fundamentais de todos", defendeu.


No diploma sobre o "reconhecimento antecipado da necessidade de declarar a situação de calamidade no município de Odemira", publicado em Diário da República, é decretada "a requisição temporária, por motivos de urgência e de interesse público e nacional, da totalidade dos imóveis e dos direitos a eles inerentes que compõem o empreendimento "ZMar Eco Experience", localizado na freguesia de Longueira-Almograve".


O espaço ficará alocado à realização do "confinamento obrigatório e do isolamento profilático por pessoa a quem o mesmo tenha sido determinado", lê-se no diploma.


Relativamente à "requisição temporária, por motivos de urgência e de interesse público e nacional, da totalidade dos imóveis e dos direitos a eles inerentes" do empreendimento "ZMar Eco Experience", é estabelecido que a requisição "é válida enquanto a declaração da situação de calamidade for aplicável ao concelho de Odemira", sendo a operação da competência do município de Odemira, como "o apoio da autoridade de saúde e do responsável da segurança social territorialmente competentes".


https://www.dinheirovivo.pt/geral/-requisicao-de-casas-privadas-do-zmar-viola-a-constituicao-alerta-a-ordem-dos-advogados-13679458.html

Comentários

Notícias mais vistas:

Patrões exigem ao Governo “período de fidelização” dos imigrantes às empresas

 Protocolo para as migrações exige às empresas que forneçam habitação e formação aos migrantes em troca de vistos em 30 dias. A contra-proposta dos patrões pede garantias: ou os imigrantes ficam no país por um período mínimo ou o Estado reembolsa as empresas pelos custos com o trabalhador. As empresas asseguram contrato, formação e alojamento e, em troca, o Governo compromete-se a acelerar o processo dos vistos dos imigrantes, em parceria com a Agência para a Integração, Migrações e Asilo (AIMA), nos postos consulares dos países de origem em 30 dias. Esta é a base do protocolo de cooperação apresentado pelo Governo às confederações patronais no início do mês e que está agora a ser discutido. No início de janeiro, o ministério liderado por António Leitão Amaro voltará a sentar-se à mesa com os representantes das empresas e, ainda esta semana, as confederações irão reunir-se para alinhar as propostas a apresentar ao Executivo. Os patrões pedem uma responsabilidade partilhada à tutela...

Foi aprovado a descida de tarifas na mobilidade elétrica

 A Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos (ERSE) desceu as tarifas aplicadas aos comercializadores de eletricidade para mobilidade elétrica e aos operadores de pontos de carregamento em 37,1%, tendo os detentores de pontos de carga uma redução de 61,7%, segundo avançado pela imprensa. Num comunicado, citado pela imprensa, a Mobi.E, Entidade Gestora da rede de Mobilidade Elétrica (EGME) informou que, a partir do dia 1 de janeiro, a tarifa aplicável aos Comercializadores de Eletricidade para a Mobilidade Elétrica (CEME) e aos Operadores de Pontos de carregamento (OPC) vai baixar 37,1%. Por sua vez, os valores a aplicar aos Detentores de Pontos de Carregamento (DPC) "serão reduzidos de forma ainda mais acentuada", em 61,7%. A decisão foi anunciada recentemente pela ERSE. Segundo o comunicado, no próximo ano, "a tarifa EGME a suportar, tanto por CEME como OPC por cada carregamento efetuado na rede nacional de carregamento será de 0,1572 euros, quando, em 2024, o valor ...

O universo pode existir dentro de um buraco negro

A maioria dos cientistas concorda que o universo foi moldado pelo Big Bang, uma enorme explosão que ocorreu há mil milhões de anos. Mas de onde veio? Uma teoria criada por um grupo de físicos sugere que o universo pode estar dentro de um buraco negro. Caso esta teoria se comprovasse verdadeira, o nosso universo seria apenas um de muitos outros, e os buracos negros poderiam ser as passagens entre eles. O Dr. Nikodem Poplawski, da Universidade de New Haven (EUA), é um dos defensores da teoria. Os buracos negros são geralmente considerados “armadilhas mortais”, com uma gravidade que funciona como um vácuo de alta potência de onde nada, nem mesmo a luz, pode escapar. Pensa-se que estão no centro de cada galáxia, incluindo a Via Láctea. Poplawski crê que, quando os buracos negros alcançam o limite da sua singularidade, isso pode levar a um grande estrondo. O motivo do limite (e, posteriormente, da explosão criadora de universo que se segue) é que os buracos negros giram – a velocida...