Passageira com três filhos teve o voo cancelado pela suspensão de tráfego, a 29 de janeiro, e procurava remarcar rota, tal como indicaram as autoridades brasileiras.
Centenas de brasileiros ficaram retidos em Portugal quando, a 27 de janeiro, o governo português anunciou a suspensão de todos os voos para o Brasil, a partir do dia 29. Muitos sem meios de subsistência, desempregados devido à pandemia, já sem teto em alguns casos, ficaram sem possibilidade de regressar e não conseguiram apoio das autoridades brasileiras.
Foi o caso de Aline, mãe de três filhos, com idades entre os 3 e os 14 anos, que ficou a viver "de favor" em casa de conhecidos durante duas semanas, sem soluções para regressar a casa. "O consulado mandou-nos procurar rotas alternativas, pois é possível seguir por Madrid ou por Paris. Mas não consegui falar com a Latam por telefone, nem por email, fiquei horas em espera e nunca devolveram a chamada", queixou-se.
Esta segunda-feira, já sem sítio para ficar, partiu da Figueira da Foz com as três crianças e oito malas para fazer uma derradeira tentativa ao balcão da Latam, no Aeroporto de Lisboa. "Estava fechado, já era muito tarde e não tinha para onde ir", relatou, ao JN. "Havia mais um casal brasileiro a dormir no aeroporto, então coloquei lençóis e cobertores no chão e deixei as crianças dormir", explicou.
A fotografia dos filhos foi partilhada com os compatriotas do grupo de Whatsapp que Aline criou e lidera, em busca de soluções para o regresso a casa. Em poucas horas, um jornalista da Globo escreveu a história e publicou a imagem, que chocou a comunidade brasileira e alertou as autoridades do aeroporto.
"A polícia chegou junto de nós e disse que não podíamos estar ali. Expliquei que estava aguardando abrir o balcão da Latam, mas disseram que teria de acompanhá-los. Levaram-me para um local, não sei onde, tive de deixar os meus filhos do lado de fora, acompanhados de três polícias. Durante toda a conversa, senti-me humilhada e maltratada, porque disseram que tinha de telefonar ou mandar email e não podia estar no aeroporto. Antes de me mandarem embora, disseram que iriam multar-me por violar o confinamento. Depois, escoltaram-me até à rua, queriam que apanhasse um táxi, sem eu saber para onde ir", relata a jovem mãe, que não conseguiu resolver a alteração do bilhete.
"Tive de ir em dois táxis, por causa das malas, e como não conheço nada em Lisboa, pedi ao taxista informação sobre um hotel que estivesse aberto, porque a maioria está fechada, e que fosse barato, porque já não está dando para gastar em hotel", lamentou Aline.
A brasileira criou e lidera o grupo de Whatsapp onde cerca de 300 brasileiros retidos em Portugal trocam informações, desde o final de janeiro, na esperança de conseguir voos. Ali, souberam que vários compatriotas conseguiram trocar a rota dos bilhetes já adquiridos, pagando a diferença de tarifa, para partir de Espanha, onde não são aceites desembarques de brasileiros, mas é permitido o regresso desses cidadãos ao país natal. Portugal não oferece a mesma possibilidade. Além disso, o valor que os passageiros pagaram pelos bilhetes de voos cancelados não é devolvido de imediato, impedindo quem não tem mais fundos de adquirir novos bilhetes.
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