Avançar para o conteúdo principal

Advogado de Rui Pinto deixa associação de penalistas que pediu para hacker não ser ouvido no Parlamento

Fundador do Fórum Penal, Francisco Teixeira da Mota considerou que carta enviada a Ferro Rodrigues para que Rui Pinto não seja ouvido no Parlamento é "uma tomada de posição cúmplice".



▲Francisco Teixeira da Mota é um dos advogados do alegado hacker Rui Pinto

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR


Francisco Teixeira da Mota, o advogado de Rui Pinto, deixou o Fórum Penal depois de esta associação de advogados penalistas ter enviado uma carta ao presidente da Assembleia da República para impedir que o alegado hacker seja ouvido na comissão parlamentar de inquérito (CPI) do Novo Banco — uma “tomada de posição” que considera “cúmplice”, apurou o Observador.


Ignoro o que o Sr. Rui Pinto terá para dizer no âmbito da CPI, mas parece-me absolutamente inaceitável esta tomada de posição pública da Fórum Penal pelo que entendo dever deixar de fazer parte da Fórum Penal, agradecendo que esta minha renúncia produza efeitos imediatos”, lê-se no texto que enviou à associação e ao qual o Observador teve acesso.

Fundador do Fórum Penal, Teixeira da Mota divulgou este sábado a sua decisão por entender que não pode “aceitar pertencer a uma associação que pretende impedir que uma Comissão Parlamentar de Inquérito tenha acesso a informações eventualmente relevantes para os seus objetivos”.

Na passada sexta-feira, Rui Pinto divulgou no Twitter uma carta do Fórum Penal, assinada por 20 advogados, que pediam a Ferro Rodrigues que não permitisse “seja violada a Constituição ao admitir como prova no inquérito parlamentar sobre o Novo Banco aquela que foi obtida com acesso criminoso aos sistemas informáticos de advogados, magistrados e instituições públicas e privadas”. Esta carta é, para Teixeira da Mota, “inaceitável”.


Não particularmente pelo que diz — não desconsidero os princípios constitucionais no mesmo invocados —  mas pelo que omite e, assim, transmite publicamente: uma tomada de posição cúmplice com o imenso universo da criminalidade económica que faz, esse sim, perigar a nossa democracia”, afirma.

Para o advogado, “pretender que os deputados da Assembleia da República, no âmbito de uma Comissão Parlamentar de Inquérito, não possam ouvir um  cidadão que consideram poder contribuir para o esclarecimento da verdade é uma tentativa de silenciar quem possa contribuir para a descoberta da verdade e de, lamentavelmente, cercear a liberdade dos deputados”. Teixeira da Mota acrescenta ainda que espera que os resultados da comissão parlamentar de inquérito “correspondam às altas expectativas”, ao mesmo tempo que tem “bem presente que a crise resultante da derrocada do Banco Espírito Santo teve consequências devastadoras para o país“.


A carta enviada pelo Fórum Penal é assinada por advogados como Germano Marques da Silva, presidente da associação, Carlos Pinto de Abreu, presidente da Caixa de Previdência dos Advogados e Solicitadores, Carlos Pinto de Abrey, João Medeiros, Paulo de Sá e Cunha, Paulo Saragoça da Matta, Rui Patrício, Carlos de Almeida Lemos, Carlos Melo Alves, José António Barreiros, Manuel de Magalhães e Silva, Nuno Cerejeira Namora, Raúl Soares da Veiga, Rogério Alves e Teresa Serra. E subscrita por Cláudia Amorim, João Barroso Neto, João Matos Viana, Pedro Duro, Vânia Costa Ramos e Sofia Ribeiro Branco, advogada que representa a Doyen no processo Football Leaks.

Rui Pinto já tinha reagido a este pedido. No Twitter, alertou para as que considera ser “tentativas” de o “silenciar e impedir que seja ouvido na Comissão Parlamentar de Inquérito”. “Alguns senhores têm medo! Muito medo!“, escreveu ainda.

Rui Pinto, o principal arguido do processo Football Leaks, encontra-se a ser julgado num caso pelo qual responde por 90 crimes — todos relacionados com o facto de ter acedido aos sistemas informáticos e caixas de emails de pessoas ligadas ao Sporting, à Doyen, à sociedade de advogados PLMJ, à Federação Portuguesa de Futebol, à Ordem dos Advogados e à PGR. Entre os visados estão Jorge Jesus, Bruno de Carvalho, que entretanto desisitiu da queixa, o então diretor do DCIAP Amadeu Guerra ou o advogado José Miguel Júdice. São, assim 68 de acesso indevido, 14 de violação de correspondência, seis de acesso ilegítimo e ainda por sabotagem informática à SAD do Sporting e por tentativa de extorsão ao fundo de investimento Doyen.


Aníbal Pinto, o seu advogado à data dos alegados crimes, responde pelo crime de tentativa de extorsão porque terá servido de intermediário de Rui Pinto na suposta tentativa de extorsão à Doyen.

O alegado pirata informático esteve em prisão preventiva desde 22 de março de 2019 e foi colocado em prisão domiciliária a 8 de abril deste ano, numa casa disponibilizada pela PJ. Na sequência de um requerimento apresentado pela defesa do arguido, a juiz Margarida Alves, presidente do coletivo de juízes — que está a julgar Rui Pinto e que tem como adjuntos os juízes Ana Paula Conceição e Pedro Lucas — decidiu colocá-lo em liberdade. O alegado pirata informático deixou as instalações da PJ no início de agosto e a sua morada atual é desconhecida.

Comentários

Notícias mais vistas:

Diarreia legislativa

© DR  As mais de 150 alterações ao Código do Trabalho, no âmbito da Agenda para o Trabalho Digno, foram aprovadas esta sexta-feira pelo Parlamento, em votação final. O texto global apenas contou com os votos favoráveis da maioria absoluta socialista. PCP, BE e IL votaram contra, PSD, Chega, Livre e PAN abstiveram-se. Esta diarréia legislativa não só "passaram ao lado da concertação Social", como também "terão um profundo impacto negativo na competitividade das empresas nacionais, caso venham a ser implementadas Patrões vão falar com Marcelo para travar Agenda para o Trabalho Digno (dinheirovivo.pt)

As obras "faraónicas" e os contratos públicos

  Apesar da instabilidade dos mercados financeiros internacionais, e das dúvidas sobre a sustentabilidade da economia portuguesa em cenário de quase estagnação na Europa, o Governo mantém na agenda um mega pacote de obras faraónicas.  A obra que vai ficar mais cara ao país é, precisamente, a da construção de uma nova rede de alta velocidade ferroviária cujos contornos não se entendem, a não ser que seja para encher os bolsos a alguns à custa do contribuinte e da competitividade. Veja o vídeo e saiba tudo em: As obras "faraónicas" e os contratos públicos - SIC Notícias

Motor de desenvolvimento ou de danos irreparáveis? Parque solar planeado para Portugal abre polémica

    Vista da central solar de Serpa, no sul de Portugal, quarta-feira, 28 de março de 2007.  -    Direitos de autor    ANTONIO CARRAPATO/AP2007 Direitos de autor ANTONIO CARRAPATO/AP2007 A empresa por detrás do projeto promete "conciliar a produção de energia renovável com a valorização ambiental do território". Ainda assim, as associações ambientalistas e os municípios têm-se insurgido contra a implantação do Parque Solar Fotovoltaico Sophia. Quais os motivos? Um novo projeto solar, que será sediado no distrito português de Castelo Branco, está a ser amplamente contestado tanto pelas associações ambientalistas como pelos próprios municípios. Chama-se Parque Solar Fotovoltaico Sophia e, segundo anunciado no  site da empresa por detrás da iniciativa , a Lightsource bp, o seu objetivo passa por " conciliar a produção de energia renovável com a valorização ambiental do território  e benefícios duradouros para as comunidades locais". Tratar-...