Avançar para o conteúdo principal

Venezuela, a amarga herança de um ditador ignóbil


O que está a acontecer na Venezuela é um crime hediondo perpetrado por um regime odioso, liderado por um dos mais ignóbeis líderes do mundo contemporâneo.

Cada dia que passa sem se falar no drama humano dos venezuelanos é um dia de cumplicidade com um dos mais abjectos regimes do nosso tempo. Já sabíamos das sistemáticas violações das regras democráticas e do estado de direito, já sabíamos do êxodo de milhões de venezuelanos para os países vizinhos e, sim, também já sabíamos que a maioria da população sobrevivia em condições de vida miseráveis. Mas, apesar de todo esse conhecimento, as revelações do Fundo Monetário Internacional que apontam para uma redução de 20% da população e uma quebra no rendimento nacional medido pelo PIB de 65% em apenas cinco anos vão muito para lá da ideia de ruína que poderíamos ter projectado. O que está a acontecer na Venezuela é um crime hediondo perpetrado por um regime odioso liderado por um dos mais ignóbeis líderes do mundo contemporâneo.

Perante um retrato assim tão avassalador, deixa de ser possível qualquer tipo de condescendência ou qualquer esforço de compreensão sobre Nicolás Maduro e os seus sequazes. O que aconteceu, melhor, o que está a acontecer na Venezuela só tem paralelo em regiões devastadas por desastres naturais ou em países arrasados por uma guerra. Mas a Venezuela, que desde 2013 viu a sua riqueza reduzir-se em dois terços, nem foi flagelada pelo clima nem perturbada pela guerra. A sua destruição e a condenação de todo um povo à miséria fizeram-se sob a égide de um tirano dissimulado sob as bandeiras de um socialismo anunciado como libertador e sob a égide de um líder, Simón Bolívar, venerado como um herói. Uma das mais colossais mentiras do nosso tempo.

Depois de décadas de corrupção, de desigualdade e violência social e económica, a Venezuela desfaz-se perante os nossos olhos pela determinação de um ditador e da sua clientela corrupta. Não é fácil derrubar um líder e um regime assim. Todas as pressões diplomáticas estão condenadas ao desdém. Todas as sanções acabarão por penalizar os que já hoje mais sofrem. Havendo petróleo na equação, haverá sempre uma Rússia, uma China ou um Donald Trump a quebrar consensos. Havendo palavras de ordem contra a América ou contra o capitalismo, haverá sempre políticos ou intelectuais patéticos a defender Nicolás Maduro e a apontar o dedo aos que supostamente o obrigaram a condenar o seu povo a uma intolerável miséria.

Entre os extremos da cegueira ideológica, sobram ainda assim todos os que, da esquerda ou da direita, não se resignam a um suposto fatalismo do drama venezuelano. Deixar de o recordar e denunciar a cada passo é fazer o jogo que mais interessa ao cruel ditador de Caracas.

https://www.publico.pt/2020/01/30/mundo/editorial/venezuela-amarga-heranca-ditador-ignobil-1902212

Comentários

Notícias mais vistas:

Esta cidade tem casas à venda por 12.000 euros, procura empreendedores e dá cheques bebé de 1.000 euros. Melhor, fica a duas horas de Portugal

 Herreruela de Oropesa, uma pequena cidade em Espanha, a apenas duas horas de carro da fronteira com Portugal, está à procura de novos moradores para impulsionar sua economia e mercado de trabalho. Com apenas 317 habitantes, a cidade está inscrita no Projeto Holapueblo, uma iniciativa promovida pela Ikea, Redeia e AlmaNatura, que visa incentivar a chegada de novos residentes por meio do empreendedorismo. Para atrair interessados, a autarquia local oferece benefícios como arrendamento acessível, com valores médios entre 200 e 300 euros por mês. Além disso, a aquisição de imóveis na região varia entre 12.000 e 40.000 euros. Novas famílias podem beneficiar de incentivos financeiros, como um cheque bebé de 1.000 euros para cada novo nascimento e um vale-creche que cobre os custos da educação infantil. Além das vantagens para famílias, Herreruela de Oropesa promove incentivos fiscais para novos moradores, incluindo descontos no Imposto Predial e Territorial Urbano (IBI) e benefícios par...

"A NATO morreu porque não há vínculo transatlântico"

 O general Luís Valença Pinto considera que “neste momento a NATO morreu” uma vez que “não há vínculo transatlântico” entre a atual administração norte-americana de Donald Trump e as nações europeias, que devem fazer “um planeamento de Defesa”. “Na minha opinião, neste momento, a menos que as coisas mudem drasticamente, a NATO morreu, porque não há vínculo transatlântico. Como é que há vínculo transatlântico com uma pessoa que diz as coisas que o senhor Trump diz? Que o senhor Vance veio aqui à Europa dizer? O que o secretário da Defesa veio aqui à Europa dizer? Não há”, defendeu o general Valença Pinto. Em declarações à agência Lusa, o antigo chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas, entre 2006 e 2011, considerou que, atualmente, ninguém “pode assumir como tranquilo” que o artigo 5.º do Tratado do Atlântico Norte – que estabelece que um ataque contra um dos países-membros da NATO é um ataque contra todos - “está lá para ser acionado”. Este é um dos dois artigos que o gener...

Armazenamento holográfico

 Esta técnica de armazenamento de alta capacidade pode ser uma das respostas para a crescente produção de dados a nível mundial Quando pensa em hologramas provavelmente associa o conceito a uma forma futurista de comunicação e que irá permitir uma maior proximidade entre pessoas através da internet. Mas o conceito de holograma (que na prática é uma técnica de registo de padrões de interferência de luz) permite que seja explorado noutros segmentos, como o do armazenamento de dados de alta capacidade. A ideia de criar unidades de armazenamento holográficas não é nova – o conceito surgiu na década de 1960 –, mas está a ganhar nova vida graças aos avanços tecnológicos feitos em áreas como os sensores de imagem, lasers e algoritmos de Inteligência Artificial. Como se guardam dados num holograma? Primeiro, a informação que queremos preservar é codificada numa imagem 2D. Depois, é emitido um raio laser que é passado por um divisor, que cria um feixe de referência (no seu estado original) ...