Avançar para o conteúdo principal

CO₂: comparação das emissões indiretas dos carros elétricos com os de combustão

Os veículos elétricos estão a mudar o paradigma da mobilidade. São já mais de um milhão a circular na Europa e a tendência é para que esse número continue a crescer. Contudo, são vários os cidadãos que se mantêm céticos em relação a esta nova modalidade de automóveis. Há quem questione a ecologia da energia elétrica produzida para os alimentar…

Deste modo, decidimos fazer um conjunto de simulações para conseguir responder a estas questões e retirar conclusões sobre as emissões de dióxido de carbono (CO₂) dos carros elétricos e dos carros com motores de combustão.

Este estudo é baseado em dados oficiais da EDP e dados das fabricantes dos veículos usados como modelo. Só deste modo se garante um mínimo de coerência e rigor nos resultados, que mesmo assim dependem de um número quase infindável de variáveis. Posto isto, avaliámos a quantidade de emissões de CO₂ desencadeadas por veículos elétricos e veículos de combustão na sua locomoção.

No caso dos vulgares veículos com motor de combustão, esta constatação é simples de realizar visto que a combustão é efetuada in loco e as emissões de CO₂ também o são. Estes valores são facultados pelas fabricantes e dependem de modelo para modelo.

Quanto aos veículos elétricos, não é emitido CO₂ localmente pois o movimento é desencadeado pelo motor elétrico. No entanto, a produção de energia elétrica pode não ser um processo completamente limpo para o ambiente e assim é emitido CO₂ durante esse mesmo processo.

No processo de produção das baterias dos carros elétricos são igualmente produzidas quantidades massivas de gases com influência no efeito de estufa, mas como os estudos nesse âmbito são inconclusivos devido aos diferentes tipos de fabrico, não tivemos em conta tal variável.

Para além disso, a poluição provocada pela refinação dos combustíveis fósseis também não foi considerada.

Emissões de CO₂ por parte dos veículos com motor de combustão
Como referência, considerámos o carro mais vendido em Portugal e as suas motorizações a gasóleo e gasolina. Ou seja, a nossa referência foi o Renault Clio.

Na sua motorização 1.5 dCi com 90 cv e movido a gasóleo, o Renault Clio emite 82 g de CO₂ por km percorrido.

No que toca a motorizações a gasolina, o Renault Clio conta com o 0.9 TCe de 90 cv e emissões de 105 g/km de CO₂.

Foram estes valores que usámos na comparação de emissões com os veículos elétricos. São motores com bastantes vendas, ou seja, têm uma presença elevada no nosso parque automóvel sendo deste modo mais representativos. Para além disso, têm a mesma potência o que acaba por dar mais credibilidade à comparação.

Emissões indiretas de CO₂ por parte do veículo com motor elétrico
Neste quesito, usámos igualmente o veículo elétrico mais vendido em Portugal. O modelo de estudo foi então o Renault Zoe.

O Renault Zoe conta com baterias que perfazem uma potência de carga máxima de 22 kWh. Com estas baterias, o Renault Zoe consegue alcançar 300 km de autonomia e 92 cv de potência, que são valores bastante satisfatórios e que representam bem a eficiência e nível de evolução dos motores elétricos atuais.

Ora, agora é momento de analisar a energia elétrica produzida em Portugal. Em 2017, segundo a EDP, 65% da energia elétrica foi produzida através de fontes renováveis e limpas, com especial destaque para as energias eólicas. Neste aglomerado de energia elétrica produzida através de diversas fontes, registou-se um nível de emissões específicas de CO₂ de 209,09 g / kWh.

Tendo em conta que o Renault Zoe tem baterias de 22 kWh, podemos determinar que o carro elétrico da Renault acaba por emitir, indiretamente, 4617,8 g de CO₂ ao carregar totalmente as baterias.

Simplificando estes valores para comparar com os tabelados relativamente aos veículos com motor de combustão, temos de dividir o valor total de CO₂ emitido no carregamento pela autonomia do Renault Zoe (emissões no carregamento/quilómetros de autonomia). Efetuando os cálculos, concluímos que o Renault Zoe – tendo em conta os dados de produção de energia elétrica em 2017 – emite 15 g/km de CO₂.

Estes são valores nitidamente mais baixos que os apresentados pelos motores a combustão, movidos a gasóleo e gasolina. Fica assim demonstrado o ambientalismo deste tipo de motorização que promete mudar o paradigma da mobilidade, especialmente a urbana.

Não obstante, caso o parque automóvel português passasse a ser totalmente movido a eletricidade, as fontes de energia renováveis seriam largamente insuficientes para o consumo necessário. Deste modo, teríamos de recorrer às fontes de energias não-renováveis.

Neste âmbito, a EDP afirma no mesmo relatório acerca da produção relativa a 2017:

A restante energia consumida pelos nossos clientes foi garantida por centrais, utilizando fontes convencionais (centrais termoelétricas).

No que toca à produção de energia elétrica através de centrais termoelétricas, a maior de Portugal é a Central de Sines. Segundo um relatório da EDP, a Central de Sines tem uma emissão específica de CO₂ de 841 g de CO₂ por kWh de energia produzida.

Assim sendo, temos de analisar também a produção de energia elétrica proveniente das centrais termoelétricas e de que forma isso influencia o ambientalismo dos carros elétricos.

Simulemos então os níveis de emissões, que são lançadas para a atmosfera pelas centrais termoelétricas, necessárias para carregar completamente as baterias de um Renault Zoe.

Como foi referido anteriormente, o Renault Zoe tem baterias de 22 kWh. Segundo o relatório da EDP relativo à Central de Sines, esta emite 841 g/kWh de CO₂. Assim sendo, para carregar as baterias de um Renault Zoe, acabariam por ser emitidos 18502 g de CO₂.

Convertendo este valor para confrontar com as emissões geradas pelos motores movidos a combustíveis fósseis, podemos concluir que o Renault Zoe, quando movido a energia elétrica produzida por fontes não renováveis (carvão) da Central Termoelétrica de Sines, emite indiretamente 62 g/km de CO₂.


Conclusão:

Os resultados não deixam dúvidas quanto à eficiência e ambientalismo das soluções de mobilidade elétrica. Tendo em conta a realidade da energia elétrica produzida atualmente em Portugal, o duelo é esmagador e os carros elétricos são indubitavelmente mais amigos do ambiente.

Contudo, como comprovam os resultados, é importante apostar e investir em soluções de energias renováveis. Caso tal não ocorra, será necessário recorrer a mais energias não-renováveis para alimentar o consumo elétrico da população e aí o conceito perde algum sentido e passa a ter emissões de CO₂ superiores.

Obviamente este estudo efetuado não tem em conta diversas variáveis envolvidas em todos os processos – sendo que a produção das baterias é algo polémico – mas já garante um bom nível de confiança para comparar estas duas modalidades de mobilidade que tanto se confrontam atualmente: mobilidade elétrica e motores de combustão.

Quanto a si, gostaríamos de ouvir a sua opinião. Deste modo, deixe a sua visão e opinião sobre o assunto na caixa de comentários abaixo, nomeadamente o nível de interesse que tem em adquirir um veículo elétrico no futuro!

https://pplware.sapo.pt/ciencia/carros-eletricos-vs-combustao-em-emissoes-de-co2/

Comentários

Notícias mais vistas:

Motores a gasolina da BMW vão ter um pouco de motores Diesel

Os próximos motores a gasolina da BMW prometem menos consumos e emissões, mas mais potência, graças a uma tecnologia usada em motores Diesel. © BMW O fim anunciado dos motores a combustão parece ter sido grandemente exagerado — as novidades têm sido mais que muitas. É certo que a maioria delas são estratosféricas:  V12 ,  V16  e um  V8 biturbo capaz de fazer 10 000 rpm … As novidades não vão ficar por aí. Recentemente, demos a conhecer  uma nova geração de motores de quatro cilindros da Toyota,  com 1,5 l e 2,0 l de capacidade, que vão equipar inúmeros modelos do grupo dentro de poucos anos. Hoje damos a conhecer os planos da Fábrica de Motores da Baviera — a BMW. Recordamos que o construtor foi dos poucos que não marcou no calendário um «dia» para acabar com os motores de combustão interna. Pelo contrário, comprometeu-se a continuar a investir no seu desenvolvimento. O que está a BMW a desenvolver? Agora, graças ao registo de patentes (reveladas pela  Auto Motor und Sport ), sabemos o

Saiba como uma pasta de dentes pode evitar a reprovação na inspeção automóvel

 Uma pasta de dentes pode evitar a reprovação do seu veículo na inspeção automóvel e pode ajudá-lo a poupar centenas de euros O dia da inspeção automóvel é um dos momentos mais temidos pelos condutores e há quem vá juntando algumas poupanças ao longo do ano para prevenir qualquer eventualidade. Os proprietários dos veículos que registam anomalias graves na inspeção já sabem que terão de pagar um valor avultado, mas há carros que reprovam na inspeção por força de pequenos problemas que podem ser resolvidos através de receitas caseiras, ajudando-o a poupar centenas de euros. São vários os carros que circulam na estrada com os faróis baços. A elevada exposição ao sol, as chuvas, as poeiras e a poluição são os principais fatores que contribuem para que os faróis dos automóveis fiquem amarelados. Para além de conferirem ao veículo um aspeto descuidado e envelhecido, podem pôr em causa a visibilidade durante a noite e comprometer a sua segurança. É devido a este último fator que os faróis ba

A falsa promessa dos híbridos plug-in

  Os veículos híbridos plug-in (PHEV) consomem mais combustível e emitem mais dióxido de carbono do que inicialmente previsto. Dados recolhidos por mais de 600 mil dispositivos em carros e carrinhas novos revelam um cenário real desfasado dos resultados padronizados obtidos em laboratório. À medida que as políticas da União Europeia se viram para alternativas de mobilidade suave e mais verde, impõe-se a questão: os veículos híbridos são, realmente, melhores para o ambiente? Por  Inês Moura Pinto No caminho para a neutralidade climática na União Europeia (UE) - apontada para 2050 - o Pacto Ecológico Europeu exige uma redução em 90% da emissão de Gases com Efeito de Estufa (GEE) dos transportes, em comparação com os valores de 1990. Neste momento, os transportes são responsáveis por cerca de um quinto destas emissões na UE. E dentro desta fração, cerca de 70% devem-se a veículos leves (de passageiros e comerciais). Uma das ferramentas para atingir esta meta é a regulação da emissão de di