Avançar para o conteúdo principal

Engenheiros e ex-presidente do LNEC dão cartão vermelho a "remendo" Montijo

 Bastonário dos Engenheiros e antigo presidente do LNEC defendem Alcochete como solução duradoura para novo aeroporto. Custo não chegaria a 2 mil milhões de euros, garante Carlos Matias Ramos.


Montijo, 10/01/2019 - Reportagem sobre o futuro aeroporto do Montijo. Base aŽrea nº 6 do Montijo. (A-gostocom/Global


O atual bastonário da Ordem dos Engenheiros, Carlos Mineiro Aires, e o seu antecessor, Carlos Matias Ramos, consideram que a Avaliação Ambiental Estratégica (AAE) que o governo pretende que seja feita no quadro da expansão da capacidade aeroportuária de Lisboa, chega tarde. Críticos da opção Montijo, que a Ordem classifica de uma espécie de "remendo", não têm dúvidas que uma solução mais duradoura seria localizada no Campo de Tiro de Alcochete. O ex-líder do Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC) contesta valores mencionados para a construção de um aeroporto internacional, considerado que a opção Alcochete não chegaria a dois mil milhões de euros.


O regulador da aviação civil, a ANAC, colocou há dias um travão na transformação da base aérea do Montijo em aeroporto complementar. O governo vai assim avançar com a AAE a três soluções de infraestruturas: a que estava prevista - Portela e Montijo como aeroporto complementar -; a Portela conjugada com o Montijo mas com a infraestrutura na Margem Sul a ganhar "progressivamente" o estatuto de principal; e um aeroporto internacional no Campo de Tiro Alcochete (CTA).


O bastonário da Ordem dos Engenheiros diz ao Dinheiro Vivo que "uma vez que estamos a falar de um investimento de interesse e âmbito nacional", avançar com a AAE é uma "decisão que peca por tardia, uma vez que todo o processo devia ter começado por aí, o que não foi feito por quem o decidiu em 2015". Carlos Mineiro Aires nota, nomeadamente, que a "polémica" em torno do aeroporto se deve à "inesperada opção de ser utilizada a BA6 do Montijo como solução complementar ao aeroporto da Portela, em detrimento da solução prevista inicialmente". Em 2009, durante o governo Sócrates, a solução aprovada era um novo aeroporto internacional em Alcochete, tendo mesmo sido alvo de uma Avaliação de Impacto Ambiental (AIA), que validou a opção, mas cuja validade "caducou em dezembro passado, o que obrigará a retomar todo o processo".


"É bom recordar que a utilização da BA6 nunca esteve prevista aquando da concessão dos aeroportos nacionais à Vinci, pois o que estava contemplado era o NAL, tendo o contrato, alterado três anos depois, em 2015, passado a contemplar esta possibilidade, mais barata, situação que o atual governo herdou e que tem de gerir", acrescenta.


Carlos Matias Ramos, antigo presidente do LNEC e ex-bastonário da Ordem dos Engenheiros, partilha da mesma ideia. E defende que a construção de uma infraestrutura de raiz em Alcochete "é uma solução muita mais favorável que o Montijo", que considera ser "uma solução de remendo sem qualquer futuro". Tendo liderado os trabalhos para estudo de AAE para a construção de um aeroporto em Alcochete, e que caducou, Matias Ramos defende que esta opção foi "avaliada tendo sete fatores críticos para a decisão", desde o espaço aéreo, passando pelos aspetos técnicos, financeiros e ambientais.


Questionado sobre os riscos que as três opções que a AAE vai analisar, determinada atualmente pelo governo, o atual bastonário prefere falar de duas soluções: Portela+1 e Alcochete. "Em relação à solução Portela+1, também é mais que sabido que a BA6 tem uma localização complicada para qualquer uso comercial com muito maior frequência de tráfego, não tem possibilidades de expansão e oferece sérios riscos de operação, nomeadamente pela possibilidade de embate contra aves de porte significativo, o que se agrava no caso de motores a reação", diz Mineiro Aires, acrescentando que o Montijo "trata-se evidentemente de um remendo, sem perenidade e que não serve ninguém".



Por isso, defende que a única solução que resultou da "única análise séria e fundamentada" foi a que levou à localização do novo aeroporto em Alcochete "cujo processo de AIA foi aprovado sem grandes contrapartidas de mitigação. Acresce que o processo de escolha deste local e o próprio AIA foram credíveis, transparentes e isentos, o que depois já não sucedeu".


Custos financeiros

O bastonário da Ordem dos Engenheiros sustenta que "o que é mais barato, nem sempre é o que convém, ou interessa" ao país. "É preciso perceber que a solução do Montijo é uma "não solução", com um prazo de vida relativamente curto, sem capacidade de expansão, mas que alguém vai ter de pagar, sejam os utilizadores, através de uma das mais altas taxas aeroportuárias da Europa, ou os contribuintes, através dos seus impostos, mas que em termos de futuro nada resolverá, continuando a solução adiada".


E, tal como o ex-presidente do LNEC, levanta dúvidas sobre os valores recentemente apresentados pelo presidente da ANA, José Luís Arnaut. O responsável da gestora dos aeroportos apontou que um aeroporto em Alcochete custa mais seis mil milhões de euros aos contribuintes" comparativamente com o projeto do Montijo. Defendeu que o investimento total seria de 7,6 mil milhões, dos quais cinco mil milhões teriam de ser injeção pública.


O ex-líder do LNEC cita os números obtidos no passado no âmbito da avaliação feita à solução Alcochete, para assinalar que os custos seriam na casa de 1,9 mil milhões de euros. Quanto aos prazos de execução, Matias Ramos sustenta que, ao contrário do que estimou o líder da ANA, que apontou a concretização do Montijo em cerca de três anos, a empreitada na base deverá demorar pelo menos quatro anos.


Ana Laranjeiro em:

https://www.dinheirovivo.pt/empresas/engenheiros-e-ex-presidente-do-lnec-dao-cartao-vermelho-a-remendo-montijo-13451615.html

Comentários

Notícias mais vistas:

Motores a gasolina da BMW vão ter um pouco de motores Diesel

Os próximos motores a gasolina da BMW prometem menos consumos e emissões, mas mais potência, graças a uma tecnologia usada em motores Diesel. © BMW O fim anunciado dos motores a combustão parece ter sido grandemente exagerado — as novidades têm sido mais que muitas. É certo que a maioria delas são estratosféricas:  V12 ,  V16  e um  V8 biturbo capaz de fazer 10 000 rpm … As novidades não vão ficar por aí. Recentemente, demos a conhecer  uma nova geração de motores de quatro cilindros da Toyota,  com 1,5 l e 2,0 l de capacidade, que vão equipar inúmeros modelos do grupo dentro de poucos anos. Hoje damos a conhecer os planos da Fábrica de Motores da Baviera — a BMW. Recordamos que o construtor foi dos poucos que não marcou no calendário um «dia» para acabar com os motores de combustão interna. Pelo contrário, comprometeu-se a continuar a investir no seu desenvolvimento. O que está a BMW a desenvolver? Agora, graças ao registo de patentes (reveladas pela  Auto Motor und Sport ), sabemos o

Saiba como uma pasta de dentes pode evitar a reprovação na inspeção automóvel

 Uma pasta de dentes pode evitar a reprovação do seu veículo na inspeção automóvel e pode ajudá-lo a poupar centenas de euros O dia da inspeção automóvel é um dos momentos mais temidos pelos condutores e há quem vá juntando algumas poupanças ao longo do ano para prevenir qualquer eventualidade. Os proprietários dos veículos que registam anomalias graves na inspeção já sabem que terão de pagar um valor avultado, mas há carros que reprovam na inspeção por força de pequenos problemas que podem ser resolvidos através de receitas caseiras, ajudando-o a poupar centenas de euros. São vários os carros que circulam na estrada com os faróis baços. A elevada exposição ao sol, as chuvas, as poeiras e a poluição são os principais fatores que contribuem para que os faróis dos automóveis fiquem amarelados. Para além de conferirem ao veículo um aspeto descuidado e envelhecido, podem pôr em causa a visibilidade durante a noite e comprometer a sua segurança. É devido a este último fator que os faróis ba

A falsa promessa dos híbridos plug-in

  Os veículos híbridos plug-in (PHEV) consomem mais combustível e emitem mais dióxido de carbono do que inicialmente previsto. Dados recolhidos por mais de 600 mil dispositivos em carros e carrinhas novos revelam um cenário real desfasado dos resultados padronizados obtidos em laboratório. À medida que as políticas da União Europeia se viram para alternativas de mobilidade suave e mais verde, impõe-se a questão: os veículos híbridos são, realmente, melhores para o ambiente? Por  Inês Moura Pinto No caminho para a neutralidade climática na União Europeia (UE) - apontada para 2050 - o Pacto Ecológico Europeu exige uma redução em 90% da emissão de Gases com Efeito de Estufa (GEE) dos transportes, em comparação com os valores de 1990. Neste momento, os transportes são responsáveis por cerca de um quinto destas emissões na UE. E dentro desta fração, cerca de 70% devem-se a veículos leves (de passageiros e comerciais). Uma das ferramentas para atingir esta meta é a regulação da emissão de di