Avançar para o conteúdo principal

Gigante bloqueia o Suez e pode travar comércio mundial durante "semanas"

 A circulação no canal de Suez continua bloqueada devido ao gigante Ever Given (aka Evergreen).

 A empresa responsável pela operação de remoção não exclui a hipótese de os trabalhos demorarem "semanas".

A dona do navio, a japonesa Shoei Kisen Kaisha, já emitiu um comunicado em que pede desculpa pelo transtorno no comércio global. © EPA/Media Suez Canal Head Office


(Photographs by Kees Torn)


Desde terça-feira que o gigante Ever Given, um navio cargueiro com 400 metros de comprimento, está a bloquear a circulação no canal de Suez, via crucial para o comércio global - estima-se que entre 10% e 15% do comércio mundial passe por aqui - e rota importante para o transporte de crude e gás natural.


Apesar do transtorno da situação, as consequências deste impasse deverão ser transitórias, apontam os analistas, embora estejam dependentes do tempo que seja necessário para remover a embarcação.


O navio, que tem um comprimento semelhante à altura do arranha-céus Empire State Building, está encalhado diagonalmente no canal, devido ao mau tempo que se fazia sentir naquela zona no início da semana. Com a passagem bloqueada por este gigante, há já centenas de navios em fila de espera, causando um engarrafamento na via que liga o mar Vermelho e o mar Mediterrâneo.


"Muito provavelmente teremos impactos desta restrição, mas perspetiva-se que sejam transitórios com os atuais níveis de inventários e stocks a poderem mitigar o impacto de atrasos nas encomendas, reforçadas por algum transporte aéreo que pode beneficiar desta restrição", aponta o Banco Carregosa. A mesma entidade nota que, neste momento, "existe esforço, estímulo e motivação para remover o bloqueio existente atendendo que a imobilização de navios com respetivas mercadorias ou a utilização das rotas alternativas se traduziriam em acrescidos custos e encargos que não se pretende".


Embora a entidade responsável pela gestão do canal tenha aberto a via antiga, na tentativa de escoar algum do trânsito marítimo, uma rota alternativa para o comércio de mercadorias entre a Ásia e a Europa implicaria o recurso ao cabo da Boa Esperança, contornando África - uma viagem significativamente mais demorada e dispendiosa.


O Banco Carregosa relembra ainda que este incidente já está a fazer mexer o valor dos fretes. "Neste início de ano, o preço dos fretes marítimos já se tinha elevado para máximos de quase dez anos, o que auxiliou empresas como operadores marítimos globais como a MAERSK ou a EVERGREEN (cujo navio da sua frota origina este bloqueio), registaram cotações máximas deste ano, e agora com este bloqueio já fez aumentar o valor dos fretes."



Já Pedro Brinca, da Nova SBE, nota que este incidente demonstra que vivemos "num mundo extremamente ligado", onde "muitas vezes é difícil perceber qual o grau de robustez das cadeias de abastecimento". Questionado sobre o impacto expectável deste bloqueio, Pedro Brinca crê que "se a pandemia não pôs em causa o abastecimento de bens essenciais não será o canal do Suez [a fazê-lo]".


Preço do petróleo

O canal de Suez é um ponto importante de passagem para o crude, que serve de referência para países como Portugal. Com este bloqueio, Filipe Garcia, economista da IMF, explica que o efeito sentido no preço do petróleo "foi muito momentâneo". Para este economista, "não parece haver um receio de escassez no mercado", passível de trazer alterações significativas ao preço do petróleo.


"É uma situação que não vai ter repercussões a médio prazo no preço do petróleo", afirma, notando que o efeito é de "curto prazo no preço e já estará dissipado". "O mercado está bem abastecido, o nível de stock decorrente de pandemia é muito alto, não há receios de escassez." O professor da Nova SBE, Pedro Brinca, foca-se na mesma ideia: em relação ao petróleo, o facto de "estar num ponto historicamente baixo da procura, devido à pandemia" poderá atenuar as consequências desta paragem.


Já na análise de Henrique Tomé, da XTB, "as cotações do petróleo têm estado bastante voláteis nesta semana". O analista recorda que, no início da semana, "assistimos a quedas na ordem dos 7% num só dia, motivadas pelos receios em torno da evolução da pandemia na Europa, podendo afetar os níveis de procura por esta matéria-prima."


Filipe Garcia, da IMF, recorda que tem existido uma correção no preço do petróleo. "O mercado do petróleo subiu muito desde outubro, tivemos uma aceleração muito forte quando parte dos 35 dólares para os 60 dólares, muito pelas perspetivas de recuperação económica", resultando numa subida de "quase 100%". Mas, conforme aponta Filipe Garcia, "ainda é cedo para dizer que impactos poderá ter" este bloqueio, estando dependente do tempo de resolução.


Henrique Tomé, da XTB, recorda os relatos da imprensa local, que apontam que a solução "deverá demorar cerca de cinco a seis dias até que fique normalizada". Este analista antecipa ainda que "esta suspensão da rota pelo canal de Suez poderá ter impacto também no volume do comércio mundial durante este ano, podendo vir a registar quedas na ordem de 1%-2%".


No momento do fecho desta edição, a circulação no canal continuava suspensa, conforme anunciou a gestora responsável pelo canal. De acordo com a Bloomberg, o CEO da Boskalis Westminster, a empresa dona da companhia que está a trabalhar na remoção do navio, o processo poderá demorar mais tempo se for necessário remover toda a carga que se encontra a bordo, não estando excluída a hipótese de a operação "demorar semanas".


As estimativas do Lloyd"s List apontam para um custo de 8,5 mil milhões de euros por dia de paragem.


Cátia Rocha em: 

https://www.dinheirovivo.pt/economia/internacional/gigante-bloqueia-o-suez-e-pode-travar-comercio-mundial-durante-semanas-13501623.html

Comentários

Notícias mais vistas:

Motores a gasolina da BMW vão ter um pouco de motores Diesel

Os próximos motores a gasolina da BMW prometem menos consumos e emissões, mas mais potência, graças a uma tecnologia usada em motores Diesel. © BMW O fim anunciado dos motores a combustão parece ter sido grandemente exagerado — as novidades têm sido mais que muitas. É certo que a maioria delas são estratosféricas:  V12 ,  V16  e um  V8 biturbo capaz de fazer 10 000 rpm … As novidades não vão ficar por aí. Recentemente, demos a conhecer  uma nova geração de motores de quatro cilindros da Toyota,  com 1,5 l e 2,0 l de capacidade, que vão equipar inúmeros modelos do grupo dentro de poucos anos. Hoje damos a conhecer os planos da Fábrica de Motores da Baviera — a BMW. Recordamos que o construtor foi dos poucos que não marcou no calendário um «dia» para acabar com os motores de combustão interna. Pelo contrário, comprometeu-se a continuar a investir no seu desenvolvimento. O que está a BMW a desenvolver? Agora, graças ao registo de patentes (reveladas pela  Auto Motor und Sport ), sabemos o

Saiba como uma pasta de dentes pode evitar a reprovação na inspeção automóvel

 Uma pasta de dentes pode evitar a reprovação do seu veículo na inspeção automóvel e pode ajudá-lo a poupar centenas de euros O dia da inspeção automóvel é um dos momentos mais temidos pelos condutores e há quem vá juntando algumas poupanças ao longo do ano para prevenir qualquer eventualidade. Os proprietários dos veículos que registam anomalias graves na inspeção já sabem que terão de pagar um valor avultado, mas há carros que reprovam na inspeção por força de pequenos problemas que podem ser resolvidos através de receitas caseiras, ajudando-o a poupar centenas de euros. São vários os carros que circulam na estrada com os faróis baços. A elevada exposição ao sol, as chuvas, as poeiras e a poluição são os principais fatores que contribuem para que os faróis dos automóveis fiquem amarelados. Para além de conferirem ao veículo um aspeto descuidado e envelhecido, podem pôr em causa a visibilidade durante a noite e comprometer a sua segurança. É devido a este último fator que os faróis ba

A falsa promessa dos híbridos plug-in

  Os veículos híbridos plug-in (PHEV) consomem mais combustível e emitem mais dióxido de carbono do que inicialmente previsto. Dados recolhidos por mais de 600 mil dispositivos em carros e carrinhas novos revelam um cenário real desfasado dos resultados padronizados obtidos em laboratório. À medida que as políticas da União Europeia se viram para alternativas de mobilidade suave e mais verde, impõe-se a questão: os veículos híbridos são, realmente, melhores para o ambiente? Por  Inês Moura Pinto No caminho para a neutralidade climática na União Europeia (UE) - apontada para 2050 - o Pacto Ecológico Europeu exige uma redução em 90% da emissão de Gases com Efeito de Estufa (GEE) dos transportes, em comparação com os valores de 1990. Neste momento, os transportes são responsáveis por cerca de um quinto destas emissões na UE. E dentro desta fração, cerca de 70% devem-se a veículos leves (de passageiros e comerciais). Uma das ferramentas para atingir esta meta é a regulação da emissão de di