Avançar para o conteúdo principal

Há um 'plano B' para o novo aeroporto de Lisboa?

 As insuficiências da solução ‘Portela+Montijo’ são claras, quer na proteção da Reserva Natural do Estuário do Tejo, quer a impossibilidade de ampliação futura. Por fim, este projeto fazia depender a sua viabilidade do aumento (ainda mais) da capacidade do aeroporto da Portela e, espante-se, previa a continuação dos voos noturnos em Lisboa, proibindo-os no Montijo.


António Prôa - opiniao@newsplex.pt


Nota prévia: O Plano Regional de Ordenamento do Território da Área Metropolitana de Lisboa em vigor continua a prever o novo aeroporto de Lisboa em Alcochete. O Plano está em vigor desde 2002 e ninguém cuidou de o alterar. Isto diz muito sobre a importância do planeamento em Portugal.


Será que os recentes anúncios em relação à avaliação de alternativas ao Montijo são para levar a sério?


Para além das dúvidas sobre a possibilidade de alterar a localização e as condições de funcionamento do novo aeroporto de Lisboa, esta tem de ser uma oportunidade para defender os interesses da cidade de Lisboa. O atual aeroporto na Portela representa uma penalização insuportável para a cidade. O ruído excessivo, os voos noturnos e a poluição do ar prejudicam a saúde e a qualidade de vida dos lisboetas, para além do risco de acidente inerente. Qualquer solução que venha a ser decidida, terá de acautelar estas questões (facto que não sucedeu com a solução prevista).


O indeferimento, pela Autoridade Nacional da Aviação Civil, da proposta de construção do aeroporto no Montijo fez retomar a discussão sobre a localização do novo aeroporto da região de Lisboa.


Com o enquadramento legal que obriga a parecer favorável de todos os municípios afetados pelo novo aeroporto, bastou a posição desfavorável de duas das autarquias (Moita e Seixal), para bloquear a decisão. O Governo reagiu com os anúncios sobre a intenção de alterar a lei e sobre a disponibilidade para a realização de uma Avaliação Ambiental Estratégica (AAE) com soluções alternativas à inicial.


Aliás, a questão da ausência de uma AAE é incompreensível tendo em conta que se trata de um projeto com elevado impacto. A opção foi para um estudo de impacto ambiental para o Montijo, sem avaliação do impacto da ampliação do aeroporto da Portela, tudo ao arrepio do entendimento da Comissão Europeia neste tipo de situações.


As insuficiências da solução ‘Portela+Montijo’ são claras, quer na proteção da Reserva Natural do Estuário do Tejo, quer a impossibilidade de ampliação futura. Por fim, este projeto fazia depender a sua viabilidade do aumento (ainda mais) da capacidade do aeroporto da Portela e, espante-se, previa a continuação dos voos noturnos em Lisboa, proibindo-os no Montijo.


As alterações à situação de partida alteraram-se: a emergência da construção não é a mesma depois da atual crise. Será que a procura, mesmo a prazo, não se alterará, por exemplo nas deslocações em trabalho? E a reestruturação da TAP não influencia a solução? Estas condições serão consideradas?


Perante o chumbo do aeroporto no Montijo, será que a abertura do Governo para avaliar outras soluções é verdadeira? Quais serão os fatores a considerar numa futura avaliação de cenários? E qual será a sua ponderação? E se outra solução implicar investimento público? Estará o país em condições de o suportar? Até que valor estaremos dispostos a pagar por uma melhor solução?


Será que se corre o risco de aproveitamento da boa-fé na viabilização da alteração da lei que atualmente permite que um único município inviabilize um projeto de interesse nacional? Será que o anúncio de aparente abertura para reavaliação de alternativas não irá conduzir à reafirmação da solução inicial?


O ideal seria a construção de um aeroporto que pudesse aumentar a capacidade em função das necessidades em vez de estar limitado à partida, uma solução de longo prazo que permitisse compensar a progressiva diminuição da pressão no aeroporto da Portela. A solução mais adequada é, sem dúvida, Alcochete. No entanto, seja qual for a opção, o aeroporto de Lisboa terá de restringir os voos noturnos e deve diminuir o número de movimentos em vez de os aumentar.


https://sol.sapo.pt/artigo/727121/ha-um-plano-b-para-o-novo-aeroporto-de-lisboa-

Comentários

Notícias mais vistas:

Diarreia legislativa

© DR  As mais de 150 alterações ao Código do Trabalho, no âmbito da Agenda para o Trabalho Digno, foram aprovadas esta sexta-feira pelo Parlamento, em votação final. O texto global apenas contou com os votos favoráveis da maioria absoluta socialista. PCP, BE e IL votaram contra, PSD, Chega, Livre e PAN abstiveram-se. Esta diarréia legislativa não só "passaram ao lado da concertação Social", como também "terão um profundo impacto negativo na competitividade das empresas nacionais, caso venham a ser implementadas Patrões vão falar com Marcelo para travar Agenda para o Trabalho Digno (dinheirovivo.pt)

Motor de desenvolvimento ou de danos irreparáveis? Parque solar planeado para Portugal abre polémica

    Vista da central solar de Serpa, no sul de Portugal, quarta-feira, 28 de março de 2007.  -    Direitos de autor    ANTONIO CARRAPATO/AP2007 Direitos de autor ANTONIO CARRAPATO/AP2007 A empresa por detrás do projeto promete "conciliar a produção de energia renovável com a valorização ambiental do território". Ainda assim, as associações ambientalistas e os municípios têm-se insurgido contra a implantação do Parque Solar Fotovoltaico Sophia. Quais os motivos? Um novo projeto solar, que será sediado no distrito português de Castelo Branco, está a ser amplamente contestado tanto pelas associações ambientalistas como pelos próprios municípios. Chama-se Parque Solar Fotovoltaico Sophia e, segundo anunciado no  site da empresa por detrás da iniciativa , a Lightsource bp, o seu objetivo passa por " conciliar a produção de energia renovável com a valorização ambiental do território  e benefícios duradouros para as comunidades locais". Tratar-...

As obras "faraónicas" e os contratos públicos

  Apesar da instabilidade dos mercados financeiros internacionais, e das dúvidas sobre a sustentabilidade da economia portuguesa em cenário de quase estagnação na Europa, o Governo mantém na agenda um mega pacote de obras faraónicas.  A obra que vai ficar mais cara ao país é, precisamente, a da construção de uma nova rede de alta velocidade ferroviária cujos contornos não se entendem, a não ser que seja para encher os bolsos a alguns à custa do contribuinte e da competitividade. Veja o vídeo e saiba tudo em: As obras "faraónicas" e os contratos públicos - SIC Notícias