Avançar para o conteúdo principal

Frances Haugen diz que o problema do Facebook não é errar, é insistir no erro


Frances Haugen, denunciante do Facebook, na abertura do palco principal da Web Summit 2021. © Álvaro Isidoro/Global Imagens.


 Mulher que há uns meses veio a público denunciar que a rede social Facebook foi construída para criar dependência e extremar posições foi a oradora mais aguardada do primeiro dia da Web Summit.


Aantiga funcionária da Facebook Frances Haugen, reconhecida como 'Facebook Whistleblower' (denunciante, em língua portuguesa) por divulgar contradições insanáveis do Facebook no combate à desinformação, nunca pensou em revelar a identidade, mas assumindo-se satisfeita por ter tido "a oportunidade de expor tudo", esteve na Web Summit esta segunda-feira, onde considerou que o problema da rede social mais famosa do mundo não é errar, mas insistir no erro.


"Há um padrão de comportamentos [na gestão da rede social Facebook] que afeta a nossa segurança", afirmou Frances Haugen, a personalidade mais aguardada do primeiro dia da Web Summit, sublinhando que o problema está em insistir numa forma errada de gerir conteúdos no Facebook.


A questão, segundo Haugen, é que o Facebook "criou uma narrativa" quesimplifica a discussão dos conteúdos publicados na rede social sobre se os utilizadores "querem censura ou liberdade de expressão". Ora, a denunciante defende que há outras "opções". "Fazer a plataforma mais pequena e mais lenta" seria uma delas.


Frances Haugen acredita, todavia, que a rede social ainda se pode modere e alterar a forma como "prioriza os conteúdos" que surgem nos murais dos utilizadores. Questionada sobre o que diria a Zuckerberg, Frances Haugen, afirmou que não é uma "má pessoa" por cometer erros, mas que se tornará numa "se continuar a cometê-los depois de ter conhecimento deles".


A denunciante defendeu que "há muitas pessoas inteligentes e conscientes na Facebook", mas insistiu que "há um custo humano." na forma como a rede social opera.


Qual é o problema do Facebook? Segundo Haugen, o Facebbok segmenta as pessoas em grupos até cinco milhões de membros, ao mesmo tempo que corre um algorítmo que distribui os conteúdos pelos "murais" dos utilizadores. Ora "ao priorizar" conteúdos, a rede social cria o "efeito secundário de amplificar o alcance dos conteúdos". E o problema está aí, no caso dos conteúdos extremos.


"Pessoas e ideias más não são o problema", realçou, contudo. "A questão é quem é que consegue ter o maior megafone [na rede social", disse, referindo que o Facebook criou "quase que um fator viral" em determinados conteúdos, que quando alcançam um grupo considerável de utilizadores tendem a alimentar desinformação, a ajudar a criar dependência e a polarizar opiniões.


"Encontrei coisas que acredito que podem colocar a vida de milhões de pessoas em risco", sem que haja uma "verdadeira consequência" para a rede social, afirmou, desejando criar condições, com a sua denúncia, para que as pessoas tenham acesso "à informação necessária para tomar decisões responsáveis". "As pessoas merecem transparência".


"O que descobri estava a pôr vidas em risco"


Insistindo que o que descobriu "estava a pôr vidas em risco", a denunciante explicou que nem todos os utilizadores das diferentes geografias estão seguros. "Em lugares mais frágeis do mundo, que quase universalmente não têm os sistemas de segurança básicos do Facebook, os sistemas que até o próprio Mark [Zuckerberg] disse que a classificação baseada no engajamento é perigosa, as consequências são mais graves", afirmou.


Haugen deu o exemplo da Etiópia, "onde um incidente de violência étnica está a acontecer agora e está a ser amplificado nas redes sociais", onde há 100 milhões de pessoas, que falam seis línguas e 95 dialetos. "Quando a base de segurança é língua por língua, essa não chega aos lugares mais frágeis do mundo".


Haugen alega que os documentos comprovam que a empresa liderada por Mark Zuckerberg tem mentido sobre a eficácia dos seus esforços para erradicar o discurso do ódio e da violência e a desinformação na rede social.


Haugen é, desde setembro, presença regular na imprensa internacional, depois de ter exposto milhares de documentos internos da empresa à imprensa, ao regulador do mercado de capitais norte-americano e ao Congresso norte-americano. A denunciante libertou milhares A 'Facebook Whistleblower' forneceu em setembro dezenas de milhares de documentos internos à CMVM norte-americana (a SEC).Os documentos, segundo a própria, provam que a rede social mais famosa do mundo está a mentir sobre os esforços feitos para erradicar a desinformação da rede social.


Devido às acusações feitas, Haugen já teve de prestar depoimentos no Congresso dos Estados Unidos.


Quando terminou de intervir, surgiu Paddy Cosgrave que cnsiderou "extraordinário" o feito de Haugen. Para mostrar a importância do feito, chamou a denunciante do Facebook para apertar o botão que marca o arranque da Web Summit, perante um Altice Arena lotado.


Frances Haugen foi contratada pela Facebook em 2018. Entre 2019 a maio de 2021, quando deixou a empresa, foi gestora de produto no departamento de integridade cívica. A 6 de outubro, depois de uma audição de Haugen no Congresso, Zuckerberg disse que a ex-funcionária está a criar uma falsa imagem da empresa. No final do mesmo mês, Zuckerberg anunciou que a empresa vai mudar de nome para Meta, numa tentativa de abranger a sua visão de realidade virtual para o futuro.


https://www.dinheirovivo.pt/empresas/tecnologia/frances-haugen-diz-que-o-problema-do-facebook-nao-e-errar-e-insistir-no-erro-14277662.html

Comentários

Notícias mais vistas:

Diarreia legislativa

© DR  As mais de 150 alterações ao Código do Trabalho, no âmbito da Agenda para o Trabalho Digno, foram aprovadas esta sexta-feira pelo Parlamento, em votação final. O texto global apenas contou com os votos favoráveis da maioria absoluta socialista. PCP, BE e IL votaram contra, PSD, Chega, Livre e PAN abstiveram-se. Esta diarréia legislativa não só "passaram ao lado da concertação Social", como também "terão um profundo impacto negativo na competitividade das empresas nacionais, caso venham a ser implementadas Patrões vão falar com Marcelo para travar Agenda para o Trabalho Digno (dinheirovivo.pt)

OE2026: 10 medidas com impacto (in)direto na carteira dos portugueses

  O Governo entregou e apresentou a proposta de Orçamento do Estado para o próximo ano, mas com poucas surpresas. As mudanças nos escalões de IRS já tinham sido anunciadas, bem como o aumento nas pensões. Ainda assim, há novidades nos impostos, alargamento de isenções, fim de contribuições extraordinárias e mais despesa com Defesa, 2026 vai ser “um ano orçamental exigente” e a margem disponível para deslizes está “próxima de zero”. A afirmação em jeito de aviso pertence ao ministro das Finanças, Joaquim Miranda Sarmento, e foi proferida na  apresentação da proposta de Orçamento do Estado  para o próximo ano. O excedente é de cerca de 230 milhões de euros, pelo que se o país não quer voltar a entrar num défice, a margem para mais medidas é "próxima de zero". "Os números são o que são, se não tivéssemos os empréstimos do PRR não estaríamos a fazer alguns projetos", apontou, acrescentando que não vai discutir o mérito da decisão tomada relativamente à 'bazuca europ...

Bruxelas obriga governo a acabar com os descontos no ISP

 Comissão Europeia recomendou o fim dos descontos no imposto sobre os produtos petrolíferos e energéticos O ministro das Finanças garantiu que o Governo está a trabalhar numa solução para o fim dos descontos no imposto sobre os produtos petrolíferos e energéticos (ISP), recomendado pela Comissão Europeia, que não encareça os preços dos combustíveis. “Procuraremos momentos de redução dos preços, para poder reverter estes descontos”, afirmou o ministro de Estado e das Finanças, Joaquim Miranda Sarmento, que apresentou esta quinta-feira a proposta de Orçamento do Estado para 2026, em Lisboa. O governante apontou que esta questão é colocada pela Comissão Europeia desde 2023, tendo sido “o único reparo” que a instituição fez na avaliação do Programa Orçamental de Médio Prazo, em outubro do ano passado, e numa nova carta recebida em junho, a instar o Governo a acabar com os descontos no ISP. O ministro da Economia e da Coesão Territorial, Manuel Castro Almeida, tinha já admitido "ajusta...