O projeto de produção em Portugal de hidrogénio verde em grande escala começa com uma empresa portuguesa de um cidadão holandês, Marc Rechter. Planeou o projeto, articulou com várias entidades, terá sensibilizado vários clientes potenciais na Holanda, na Alemanha e em países adjacentes. Apresentou o projeto de seguida ao governo português e, perante a reação positiva deste, promoveu a ligação a entidades da Holanda - do respetivo governo a off-takers do hidrogénio.
E promoveu amplamente na União Europeia (UE) o projeto, então denominado Green Flamingo; por exemplo, num seminário organizado pela Comissão Europeia em 15 de janeiro de 2020, precisamente para tratar do "Apoio ao desenvolvimento industrial em larga escala de projetos de hidrogénio verde através de um IPCEI", um dos três "projetos-chave" era precisamente o Green Flamingo, que foi apresentado por Rechter.
O governo português ter-lhe-á feito saber que devia ser constituído um consórcio com grandes empresas energéticas portuguesas - a Galp, a EDP, a REN. A constituição deste "consórcio" tem sido escalpelizada pelos media e, aparentemente, pelo Ministério Público.
A 20 de dezembro de 2019 teve lugar no MAAC uma reunião entre governantes e representantes da Galp, da EDP e da REN - todos, a crer nas declarações de representantes da EDP e da Galp, respondendo a um desafio do governo.
Mais tarde, houve reuniões várias do "consórcio" - entretanto alargado à Martifer e à Vestas - com a presença de elementos da empresa de Rechter. Sem surpresa, a empresa do holandês acabou fora do "consórcio".
Entretanto, a 30 de julho de 2020, o governo português aprovou uma importante Estratégia Nacional para o Hidrogénio (EN-H2). Em 21 de maio de 2020, o ministro do Ambiente terá declarado que a EN-H2 contempla um grande projeto em Sines, que custará entre 4 e 4,5 mil milhões de euros dos sete mil milhões (do investimento global em hidrogénio verde), explicando que dessa verba 85% será investimento privado.
E em 23 de setembro de 2020 assinou um memorando de entendimento com o governo holandês com vista a desenvolver "uma cadeia de valor estratégica de exportação-importação" de hidrogénio verde e visando a formalização de uma candidatura a IPCEI. O pressuposto é que, como tem dito Matos Fernandes, "produzir hidrogénio em Portugal pode ser muito barato" (Lusa e TVI, 21 de maio de 2020). Ver a Galp e a EDP empenhadas em produzir energia barata e competitiva a nível europeu é comovente e devia merecer uma comenda a este ministro.
Todavia, o método de armazenamento de energia com recurso a hidrogénio verde deverá levar dez a 15 anos a maturar. No imediato, o método de armazenamento de energia verde de utilização atual e seguramente nos próximos 20 anos é o que recorre ao lítio. Área em que Portugal tem as maiores reservas na UE e em que existem duas empresas portuguesas membros da Aliança Europeia das Baterias (AEB). E, no que respeita à pesquisa e inovação da cadeia de valor das baterias de lítio, existe desde 2019 um IPCEI englobando 12 países da UE e dezenas de empresas da AEB; relativamente ao qual a Comissão Europeia acaba de autorizar ajudas estatais até 2,9 mil milhões de euros. Por que razão o governo português nunca aderiu a este IPCEI, impedindo empresas portuguesas de dele poderem beneficiar? Eis outra pergunta de um milhão de dólares...
https://www.dn.pt/opiniao/hidrogenio-verde-litio-e-ipcei--13280589.html
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