“Ela justificou que naquele momento não tinha sistema e por isso não lhe era possível gerar o código”, adianta este residente no concelho de Almada, que tem procurado, em vão, obter o código através dos contactos frequentes com a linha SNS24. Estes contactos servem para monitorizar a evolução do estado clínico dos utentes; não contemplam a possibilidade de cedência do referido código. Essa responsabilidade cabe aos médicos, como lhe explicaram os profissionais da linha telefónica do Ministério da Saúde, seguindo as orientações vigentes. Na manhã desta sexta-feira, 13, Paulo recebeu nova chamada telefónica de um médico do Centro de Saúde e insistiu no assunto. A resposta voltou a ser evasiva: “Disse-me que não era médico de códigos e encaminhou-me para os serviços administrativos.”
Sem sintomas, Paulo teve alta clínica ontem, mas a mulher e o filho mais velho, de 17 anos, continuam infetados. Tal como ele, não receberam os códigos, apesar de igualmente solicitados aos médicos. Um amigo, acrescenta Paulo, recebeu o código mais de três semanas depois de ter testado positivo, perdendo-se assim o timing para avisar em tempo oportuno potenciais contactos de risco.
Estes exemplos não são exceções – são a regra. No início do mês, também o jornalista da TVI Joaquim Sousa Martins havia dado conta de que nem ele nem a esposa tinham recebido os códigos, apesar de terem sofrido de Covid-19. Mais de 2,5 milhões de portugueses já instalaram a aplicação Stayaway Covid nos telemóveis, mas apenas uma ínfima parte das novas infeções está a dar origem aos respetivos códigos. Até esta quinta-feira, 12, existiam somente 4946 códigos emitidos, para um universo de 135992 novos casos desde 1 de setembro, dia do lançamento da app. Isto significa que, neste intervalo de tempo, só 3,6% das infeções por Sars-Cov-2 tiveram correspondência num código para os pacientes inserirem na aplicação. Na prática, porém, apenas 1415 dessas pessoas o fizeram, uma vez que se trata de uma ação voluntária. Sendo assim, do total de novos casos diários entre 1 de setembro e 12 de novembro, só 1% foi efetivamente registado na Stayaway Covid, o que põe em causa a sua utilidade.
“Se o número de códigos fornecidos pelo Sistema Nacional de Saúde continuar tão baixo, o impacto da app manter-se-á muito limitado”, admite Rui Oliveira, Administrador do Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Tecnologia e Ciência (INESC TEC), responsável pelo desenvolvimento da Stayaway Covid.
O também professor da Universidade do Minho esclarece ainda que, “de acordo com as atuais regras da Direção-Geral da Saúde, só são notificados utilizadores com os quais o contacto de risco ocorreu até dois dias antes dos primeiros sintomas da pessoa infetada ou, no caso de assintomática, dois dias antes de efetuar o teste à Covid-19”.
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