Notícias de matanças em massa de morcegos, em várias partes do mundo, estão a alarmar os conservacionistas e defensores dos direitos dos animais - eles consideram que culpar os morcegos pode estar a fazer com que os verdadeiros culpados escapem.
Iroro Tanshi, doutorada nigeriana na Texas Tech University, nos Estados Unidos, pertence a um grupo significativo de cientistas que não são adeptos da imagem negativa dos morcegos, reporta um artigo avançado pela BBC News.
Reputação esta que nunca foi muito popular e que agora se deteriorou ainda mais com a possibilidade destes animais terem inicialmente transmitido o novo coronavírus SARS-CoV-2, causador da Covid-19, para os seres humanos.
Mas afinal, por que motivo os morcegos foram considerados os prováveis culpados?
Segundo a especialista, a culpa recai sobre os morcegos porque o SARS-CoV-2, é 96% similar a outro vírus detetado no passado em morcegos selvagens.
Tal, tornou estes bichos os principais suspeitos. Porém, muita atenção, os morcegos têm um 'álibi científico' bastante forte.
"Pesquisas evolutivas recentes mostram que, cerca de 40 a 70 anos atrás, o vírus SARS-CoV-2 se separou do vírus encontrado em morcegos-ferradura", afirma Tanshi.
"O que acrescenta mais provas de que os morcegos podem não ter transmitido diretamente o novo coronavírus aos seres humanos".
Entretanto, Paul W. Webala, professor sénior de biologia da vida selvagem da Universidade Maasai Mara, no Quénia, partilha a mesma conjetura.
"Em termos evolutivos, morcegos e humanos estão bastante distantes um do outro e, portanto, se o SARS-CoV-2 realmente veio de morcegos, pode ter passado por algum hospedeiro intermediário."
Por outras palavras, mesmo se os morcegos foram a origem do vírus, a verdade é que não foram quem nos transmitiu; e a suspeita incide sim nos pangolins como possíveis intermediários.
E quem é o GRANDE 'culpado'?
A BBC explica que Tanshi e outros cientistas concordam veementemente que os humanos, e não os morcegos, são os culpados pela pandemia e disseminação do novo coronavirús.
Para Webala a atividade humana originou a "tempestade perfeita" para a pandemia da Covid-19.
"A invasão humana de habitats silvestres e a consequente perda e degradação deles, bem como o transporte, armazenamento e comércio de animais silvestres são atividades que criam condições ideais para a transmissão de patógenos entre espécies que não tiveram contato anterior", defende o professor.
"Várias evidências mostram que o risco de surtos zoonóticos (surtos de doenças que se originaram em animais, mas saltaram para os seres humanos) aumenta com a destruição do habitat", elucida Tanshi.
Matar morcegos não irá proteger-nos de forma alguma do coronavírus. Ao invés, destruí-los em massa e deslocá-los de seus habitats pode agravar o cenário.
"Cerca de 70% das mais de 14 mil espécies de morcegos são insetívoras, o que significa que se alimentam apenas de insetos e outros artrópodes", conta Webala.
"Muitos dos insetos aéreos e noturnos comidos por morcegos são vetores de patógenos relevantes para a saúde humana".
Insetos esses que transportam patologias que afetam os seres humanos, destacando-se a malária e a dengue. Ou seja, a matança em massa de morcegos pode potenciar o número de surtos de doenças e o surgimento de novas epidemias e pandemias no futuro.
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