À medida que a Venezuela se afunda na crise, centenas de obras padecem.
O devastado país, que já foi o mais rico da América Latina, é uma vastidão de estruturas: estacionamentos usados ??como abrigo, edifícios coloniais, obras socialistas inacabadas, complexos improvisados ??de favelas, centros comerciais sem clientes. Mas centenas de edifícios notáveis ??foram abandonados ou destruídos. A capital, Caracas, abriga grande parte deste património, especialmente as construções Art Déco, Bauhaus e Brutalista que a tornaram um centro da arquitetura moderna na região, juntamente com a Cidade do México, Brasília e Rio de Janeiro.
"A arquitetura moderna em Caracas é impressionante. É uma das principais características desta cidade", afirmou Hannia Gómez, arquiteta e diretora da filial venezuelana da Docomomo, uma organização internacional sem fins lucrativos dedicada à conservação de edifícios modernos. "Mas grande parte deste património está muito deteriorado."
Entre os exemplos mais eloquentes está a Ciudad Universitaria de Caracas, classificada como Património Mundial pela UNESCO. O campus possui obras de arte de Victor Vasarely e Fernand Léger. Os painéis acústicos em forma de nuvem na sala de concertos Aula Magna são considerados uma obra-prima do escultor Alexander Calder. Mas a universidade tornou-se uma exibição de fachadas decrépitas, cacos de vidro e paredes cobertas de grafitis. O lixo não é recolhido, e as plantas não são podadas. O campus com frequência torna-se um campo de batalha entre estudantes da oposição e grupos armados leais ao presidente Nicolás Maduro.
Nem todo o património arquitetónico de Caracas está em frangalhos. Alguns edifícios coloniais controlados pelo governo no centro da cidade, datados do século XVII, estão abertos a visitantes. O mesmo acontece com a modernista Villa Planchart, de propriedade particular, projetada por Gio Ponti, o arquiteto italiano também responsável pela segunda encarnação do Museu de Arte de Denver. O Tamanaco, um hotel em forma de pirâmide, inaugurado na década de 1950, está bem conservado e ainda recebe hóspedes.
A arquitetura moderna na Venezuela floresceu entre as décadas de 1950 e 1970, graças a uma combinação de fatores: o boom do petróleo e a migração da Europa.
"Muitas famílias que vieram eram pessoas instruídas de Itália, Espanha e Portugal", disse Miguel Miguel Garcia, curador, pesquisador e crítico de arte de Caracas.
O investimento na arquitetura moderna foi reduzido após repetidas crises económicas na década de 1980. A ascensão do chavismo na década seguinte teve um efeito misto: sob a presidência de Hugo Chávez (1999-2015), membros do governo e especialistas realizaram o primeiro e único inventário do património cultural da Venezuela. Isso significou novas regras de preservação que restringiam as reformas - e irritavam os proprietários.
Mas as leis são vagas e a fiscalização é menos rigorosa para imóveis de simpatizantes do governo, segundo Melin Neva, arquiteta e integrante da ONG Paisaje Ciudad Ciudadania, que promove o património urbano de Caracas. As autoridades nunca apoiaram financeiramente os esforços de preservação, realçou Neva.
Embora os governantes socialistas tenham conservado pelo menos as fachadas de alguns edifícios mais antigos, negligenciaram o modernismo, que associam a valores estrangeiros, disse Neva.
O Ministério da Cultura e o Instituto do Património Cultural da Venezuela não responderam a pedidos de comentários.
Após a morte de Chávez, em 2013, a economia começou a afundar devido a uma queda dos preços do petróleo e ao acumular de anos de má gestão e corrupção. A fome, a hiperinflação e o crime levaram 4,3 milhões de pessoas a sair do país, segundo dados da ONU até agosto. Caracas está cheia de propriedades vazias.
"A sociedade está tão absorvida pelos problemas que ninguém presta atenção à preservação", disse Neva, acrescentando que é um erro considerar o património menos importante do que alimentos e medicamentos. "Sociedades devastadas podem superar períodos sombrios graças à consciencialização do valor do seu património. O património é a reserva moral que permite a retoma do desenvolvimento.
https://www.jornaldenegocios.pt/economia/mundo/americas/detalhe/patrimonio-arquitetonico-da-venezuela-esta-a-desmoronar-se
Como se pode ler, o início do abandono do património arquitectónico começou com a Lei criada para o proteger: com a regulamentação excessiva os proprietários começaram a ter medo de pagar multas por não cumprir algum dos pontos dos regulamentos, assim deixou de se fazer a devida manutenção.
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