Os carros modernos possuem estruturas reforçadas e dificilmente terão seu tanque perfurado em um acidente – o risco de explosão em uma colisão mais violenta ainda existe, claro, mas é bem menor do que há algumas décadas.
Um exemplo disso é o Ford Pinto. O compacto lançado em 1971 como modelo de entrada da marca foi alvo de polêmica por conta dos casos de ruptura do tanque de combustível em colisões traseiras desde o início das vendas, e uma investigação do governo dos EUA e dos órgãos de defesa do consumidor. O tanque ficava posicionado entre o eixo traseiro e o para-choque traseiro – como em vários carros da época, diga-se –, mas sua proteção era particularmente ineficaz. Ainda assim, foi só depois de sete anos que, em 1978, a Ford anunciou um recall para a troca da cobertura do tanque.
De lá para cá, a evolução dos automóveis deu conta de mitigar este tipo de problema – por exemplo, colocando o tanque de combustível à frente do eixo traseiro, longe das zonas de impacto. Mas ela também trouxe problemas novos.
É o caso dos carros elétricos, por exemplo. Eles não têm tanques de combustível, obviamente, mas… eles têm baterias e cabos que, dependendo das circunstâncias, de fato podem eletrocutar os passageiros, caso a corrente elétrica chegue ao monobloco e/ou à carroceria. Sim, esta ideia é assustadora. Mas as fabricantes já estão tratando de resolver este problema a fim de evitar controvérsias como a do Ford Pinto. Afinal, os padrões de segurança são muito mais rígidos hoje em dia do que há quatro ou cinco décadas, e as informações se disseminam instantaneamente.
Mas afinal, o que acontece quando você bate em um carro elétrico?
Diferentemente do que ocorre com um carro a combustão, os elétricos trazem a localização das baterias mais ou menos padronizada: como elas ainda pesam muito, seu posicionamento lógico é sob o assoalho, de modo a não ocupar espaço e a manter o centro de gravidade do carro o mais baixo possível. As baterias em si não representam risco – elas são bastante estáveis, e a maioria dos órgãos de segurança automotiva concordam que, no evento de uma colisão, o risco de uma explosão ocasionada pelas bateria é pequeno.
Isto não quer dizer, porém, que uma bateria não possa vazar e ocasionar um incêndio.
Em países onde os elétricos são mais populares, corpos de bombeiros e equipes de salvamento em geral já recebem treinamento específico para lidar com incêndios e gases produzidos pela descarga rápida das baterias, e com vazamento de componentes químicos de dentro delas. O fluido de íon de lítio, ao contrário do chumbo, é altamente inflamável.
O problema está na fiação – os cabos podem se romper e espalhar uma corrente elétrica de alta tensão pela estrutura do carro, ou até mesmo atingir um eventual vazamento do fluido sobre o asfalto.
Em 2011, quando havia acabado de lançar o Chevrolet Volt, a General Motors tomou providências para reduzir os riscos de choque elétrico – tanto para os ocupantes dos carros quanto para as equipes de salvamento: os cabos de alta tensão foram revestidos com uma cor específica (laranja), para tornar sua identificação mais imediata, bem como os pontos de ligação entre o motor e a bateria, para que a conexão entre as duas partes seja eliminada o mais rápido possível. A GM também promoveu treinamentos intensivos aos profissionais de salvamento, incluindo até mesmo instruções sobre onde cortar o carro de forma segura para retirar de dentro dele as vítimas de acidentes.
Ainda assim, há quem esteja disposto a tornar os elétricos ainda mais seguros. Recentemente, a Bosch apresentou um sistema que promete eliminar os riscos de choque em um carro elétrico acidentado. Como? Usando explosões.
Claro, não estamos falando das explosões que se quer evitar em uma colisão grave, mas sim de pequenas explosões controladas, cujo objetivo é interromper de forma física a conexão entre as baterias e o motor elétrico.
Estas explosões serão causadas por dispositivos semicondutores chamados pirofusíveis. Eles já existem, na verdade, e são usados por fabricantes como a Tesla e a BMW para aumentar a segurança de modelos híbridos e elétricos. Atualmente, os sistemas anti curto-circuito atuam com uma pequena guilhotina que, através de um impulso elétrico, literalmente corta o cabo no qual está instalado. O impulso é liberado pelo sensor dos airbags, ao mesmo tempo em que os mesmos, atuando em milissegundos.
A ideia da Bosch é aumentar a eficiência usando pirofusíveis – em vez de uma guilhotina uma série de mini-explosões controladas trata de romper os cabos de alta tensão. O pirofusível é menor que os dispositivos atuais, com o tamanho de uma unha, e pode ser instalado em qualquer carro híbrido ou elétrico. De acordo com a Bosch, a separação entre as metades do cabo rompido é maior do que com uma mini-guilhotina, e também é mais rápido e confiável.
https://www.flatout.com.br/o-que-acontece-quando-se-bate-um-carro-eletrico/
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