Avançar para o conteúdo principal

Ainda vale a pena comprar placas gráficas para mineração em Portugal?

As placas gráficas para Gaming estão cada vez mais caras. Além do preço, está cada vez mais difícil encontrá-las no mercado. O “boom” na mineração de criptomoedas parece ser a causa de todas estas ocorrências.

O Pplware decidiu enviar a Nvidia GTX 1080 Ti e a AMD Radeon Vega 64 nesta aventura. Vamos descobrir se realmente se pode ganhar dinheiro com a mineração em Portugal.

Há uns meses, a Nvidia enviou um e-mail a várias lojas de hardware em todo o mundo com um pedido relativo a uma disponibilização equitativa das suas placas gráficas.

Por favor, certifiquem-se que existe abundância de placas gráficas disponíveis para os jogadores.

Foi uma reação à crescente escassez de placas gráficas causadas pelos mineradores de criptomoedas. Em outras palavras, estas são pessoas que não usam as GPUs para jogos, mas sim para gerar dinheiro com a mineração de criptomoedas.

A aparente preocupação da Nvidia despertou o nosso interesse. Vale a pena comprar uma placa gráfica que custa quase ou mais de 1000 € só para mineração? Devido à falta de alternativas, não são apenas as placas gráficas mais baratas da AMD que são escassas. Há já muito tempo que as GPUs para gaming de alta-gama começaram a ser igualmente usadas para mineração.

Disponibilidade e aumento no preço
Para dar um exemplo concreto, hoje é quase impossível obter uma GTX 1080 Ti por menos de 1000 €. Isto corresponde a uma inflação de 20% em seis meses. E pelas contas que fizemos, é muito improvável que a situação melhore em breve. Com o lançamento de novas criptomoedas, este problema parece ter uma tendência para se prolongar indefinidamente. Os produtos mais afetados são as placas gráficas AMD da série Vega e RX, bem como os modelos Nvidia GTX 1060 para cima.

Embora a falta geral de memória flash tenha um impacto nos custos, o fator decisivo provém realmente da mineração. É por isso que algumas lojas online limitam as vendas de placas gráficas desde o verão passado. Os limites estão estabelecidos em duas, ou somente uma placa gráfica por pessoa. Infelizmente, estes sistemas são muito fáceis de contornar e, por isso, mesmo o nosso prognóstico mantém-se.

As reais intenções da Nvidia
A Nvidia afirma que, na sua filosofia empresarial, os jogadores estão sempre em primeiro lugar… Mas será que a Nvidia é realmente assim tão altruísta? Quer dizer, certamente que tanto a Nvidia com a AMD ficaram muito satisfeitas quando receberam tantas encomendas e a premissa acima mencionada até poderia ser verdadeira, se os jogadores fossem acionistas destas empresas.

Facto é que, se as criptomoedas perdessem um valor significativo comparativamente à sua subida nos últimos dois anos, o mercado seria inundado com placas gráficas ao preço da chuva. Isto aconteceria porque os mineiros iriam tentar vender todo o seu hardware disponível o mais rapidamente possível e só neste caso em particular é que os jogadores ficariam novamente na Pole Position.

Esta situação hipotética iria obrigar tanto a Nvidia como a AMD a lançarem novos produtos muito mais poderosos e a preços baixíssimos, para que estes fossem adquiridos ao invés das placas vendidas nos sites de vendas de produtos em segunda mão.

Como se processa a mineração?
Voltando ao ponto de partida. Criptomoedas e tudo que está relacionado com as mesmas provém essencialmente de uma construção abstrata. Para ter uma boa ideia de como tudo funciona, leia este artigo.

Resumindo, a moeda criptográfica é baseada num sistema descentralizado peer-to-peer. Não existe um servidor central que controla as transações ou atualiza as contas. Tudo isto é feito pelos utilizadores que usam o sistema. Estes obtêm uma lista de todas as transações até ao momento e usam-na para criar o que é conhecido como uma cadeia de blocos, chamado de blockchain.

Usando o crowdsourcing, estes garantem que a cadeia de blocos não pode ser manipulada. Para ter uma noção mais precisa, de momento são necessários cerca 160GB somente para o blockchain da Bitcoin. O blockchain regista todas as transações e movimentos de uma certa criptomoeda, sendo esse procedimento realizado com a colaboração dos mineiros, que em troca recebem uma recompensa da respetiva criptomoeda, como “pagamento” pelo trabalho feito.

Neste processo, um algoritmo é enviado a todos os sistemas disponíveis na rede que é conhecido como a função de hash. É necessário ter uma grande quantidade de poder de computação para chegar à função e aprovar uma transação e é exatamente por essa razão que alguém é remunerado quando este permite que o seu computador seja usado neste processo conhecido como criptografia.

Como cada moeda usa algoritmos diferentes, nem todos os equipamentos são adequados para o trabalho. A mineração de Bitcoins com GPUs, por exemplo, deixou de ser rentável porque os custos de eletricidade são maiores que o retorno. Neste caso, somente dispositivos de mineração especiais (ASICs), e em países com baixos custos de eletricidade, podem ainda ser rentáveis.

No entanto, a situação é completamente diferente com altcoins ou ethereum, que é o que está a causar a sensação de que encontramos o novo ouro.

Como funciona a mineração e o que é necessário para começar?
Ao lado de uma placa gráfica potente e idealmente um processador potente também, serão necessárias mais três coisas: uma carteira (Wallet), uma conta de mineração (Mining hub account) e software de mineração.

Primeiro é necessário ter uma carteira para receber e enviar criptomoedas. Na maioria destas carteiras, a inserção de dados privados, para configuração, não são necessários. Pessoalmente acho a carteira de Software da Exodus (https://www.exodus.io), a mais intuitiva.

De seguida, é necessário criar uma conta de mineração, para que possa colher os frutos semeados pelo computador, ou seja, para receber pagamentos. O miningpoolhub.com é um exemplo de um hub bastante conhecido. Como existem muitas hipóteses de extrair várias e diferentes moedas, convém unir-se a um grupo.

Pense nisto como se de uma mina real se tratasse. Se estivesse sozinho, não teria muita hipótese de encontrar uma pepita de ouro. Obviamente que se fizesse todo o trabalho sozinho, e tivesse sorte, todo o lucro seria seu. Por outro lado, a possibilidade de encontrar o “tesouro” é muito maior quando existem centenas de pessoas a procura desse tesouro. Quando algo é encontrado, os resultados são repartidos pelo grupo em forma de recompensar todos pelo respetivo trabalho.

O hub permite que escolha qual das diferentes moedas deseja minar. No menu “Hub Workers” é definido um nome de utilizador e uma palavra-passe para esse “Worker” (Trabalhador).

Com apenas uma placa gráfica, um trabalhador (Worker) é suficiente. Estes dados serão mais tarde necessários para criar uma única linha de código para ser executada no software de mineração. Esta linha de código é similar à que usamos:

ethminer -G -S europe.ethash-hub.miningpoolhub.com:20535 -O ricgom.pplware:pplware

Ethminer refere-se ao programa que deseja executar. De seguida, encontra o endereço do servidor tal como o nome do utilizador do hub, o nome e a palavra-passe do trabalhador (Worker).

Para o próprio processo de mineração, é necessário outro pequeno programa para resolver as equações matemáticas. No menu do hub existem várias opções com os respetivos links para descarregar esses pequenos programas correspondentes à moeda que pretende minar. Existem muitas opções, mas nem todas funcionam de forma eficiente com o seu hardware.

Depois de gerar a linha de comando com o devido programa de mineração, a última coisa a fazer é simplesmente correr essa mesma linha de comandos para que a mineração se inicie. Aqui é possível ver a taxa de hash atual, que permite determinar a eficiência do seu computador e explica quantos processos (hash) é que o computador é capaz de processar por segundo.

Tenha em mente que a taxa de hash varia de moeda para moeda e diminui caso esteja a executar outras tarefas no mesmo computador. Para iniciantes, este processo não é fácil de entender, certamente necessitará de algum tempo para se acostumar.

Custos de eletricidade e retorno
O Pplware experimentou Zcash, Zcoin, Ehtereum e TrezarCoin, pois estes registam números bastante eficientes com uma Nvidia GTX 1080 Ti tal como com uma AMD Vega 64. Para facilitar a leitura dos custos de energia e eletricidade, o computador esteve constantemente ligado a uma Mystrom-Switch, fabricada por uma empresa da Suiça.

O desempenho total do computador, em Watt, sem o respetivo monitor e altamente otimizado com a BIOS das placas gráficas alteradas, tal como o CPU somente a correr a 1600Mhz, era em média cerca de 270W para uma GTX 1080 Ti e de 304W para uma Vega 64.

Isto faz cerca de 6 cêntimos por hora. A minerar TrezarCoin, o nosso consumo aumentou até 333W numa GTX 1080 Ti e aos 340W numa Vega 64. Para colocar isto em contexto, realizámos de igual modo um teste a um jogo extremamente mal otimizado, o PUBG. Este necessita de cerca de 370W, porque tem o CPU na máxima performance e não a 1600Mhz que usámos como referência para este teste das criptomoedas.

Nos nossos cálculos, vamos avaliar o caso do Ethereum, com o qual a Vega 64 consegue minar até 38,22 MH/s. Estas novas placas da AMD têm mais poder bruto que as placas da Nvidia, mas, em contrapartida, necessitam de mais energia. Visto que a Nvidia GTX 1080 Ti é a mais comum, vamos usá-la como referência. Se o computador estiver a minerar por dez horas, isto terá um custo de 60 cêntimos em eletricidade. Com uma taxa de hash máxima de 33.44 MH/s na GTX 1080 Ti, podemos minerar 0,00111372 Ethereum naquele período de tempo.

Usando o valor atual do Ethereum, isto traduz-se em 75 cêntimos e num “lucro teórico” de 15 cêntimos. Digamos teórico porque, em primeiro lugar, ainda não cobrimos o investimento feito em Hardware e, em segundo, porque não nos é possível medir o desgaste que este mesmo tem e que certamente vai encurtar o prazo de vida do mesmo.

Este teste foi efetuado diariamente, durante 2 semanas nas quais deixámos o computador a minerar por algumas horas e, de vez em quando, até por períodos de 12 horas consecutivas. O resultado: 0,05928842 Zcoin, 0,01947315 Zcash, 0,00111372 Ethereum e 2,96761658 TrezarCoin. Somando, conseguimos 5€ de lucro teórico.

Se tivéssemos adquirido uma GTX 1080 Ti exclusivamente para mineração de criptomoedas, necessitaríamos de a usar constantemente durante 14 meses, apenas e só para obter o retorno do investimento feito no hardware. Esta simulação assume que o mercado permaneceria estável, o que não se verifica neste momento.

Não obstante, não estamos a equacionar os custos de cada transação feita sempre que um pagamento é solicitado (Fees), nem a já mencionada depreciação do hardware.

Riscos e avaliação do ciclo de vida
Como já mencionámos, devemos ter em conta que o ciclo de vida de todo o hardware vai ser reduzido. Digamos que, apesar de não termos forma de tornar esta parte do teste mensurável com precisão, podemos usar outros fatores como estimativa.

Um computador de alta performance, que é usado diariamente durante 6 a 8 horas, tem um ciclo de vida máximo estimado de 8 anos. Usando o mesmo hardware diariamente por 24 horas, encurtaria o ciclo de vida deste hardware para um máximo de 3 anos. Tanto a placa gráfica, como as memórias e a fonte de alimentação estarão constantemente sobrecarregadas e no limite das suas prestações máximas.

Este tipo de produtos, pura e simplesmente, não foram concebidos para o uso constante e durante longos períodos de tempo. O calor constante acelera o processo de envelhecimento de todos os componentes. Posto isto, é um excelente negócio para a Nvidia e para a AMD, como também para toda a indústria no geral.

Os componentes mais frágeis serão, provavelmente, a fonte de alimentação e todas as ventoinhas. Por isso mesmo aconselhamos a usar uma ferramenta de monitorização à semelhança do MSI Afterburner, NZXT Cam, Corsair Link, Asus AI Suite, entre outros. Estas ferramentas permitem configurar um limite de temperatura máxima de funcionamento para a placa gráfica e o consequente aumento da refrigeração.

Se não estiver preocupado com a placa gráfica e todos os seus componentes, faça-o ao menos pelo ambiente. A mineração de criptomoedas consome muita energia.

Como as leituras do consumo energético em Portugal não são, em grande parte, automatizadas e o cálculo é baseado em estimativas, prepare-se para uma fatura exorbitante logo após a próxima leitura manual do seu contador. Recorde que poderá estar a minerar sem ter um aumento imediato na fatura de eletricidade, mas que irá ser feito um acerto ao longo dos meses seguintes.

Para poder efetuar esse cálculo em casa use 22,44 cêntimos por kW/h como referência caso tenha uma potência contratada de 3.45kVA ou 25,96 cêntimos caso tenha mais potência contratada.

Veredicto: é divertido… para testar
No fundo, um resultado previsível. Depois de testar a mineração de divisas digitais com as placas gráficas mais poderosas do mercado, podemos concluir que não vale a pena comprar uma GPU exclusivamente para mineração. Mesmo estando a minar 24×7, muito dificilmente alcançará os 75€ de lucro mensal. Isto sem considerar todas as outras variáveis já referidas.

Dado que os preços de hardware aumentaram drasticamente e tendo em conta que o valor das criptomoedas está sujeito a uma volatilidade extrema, certifique-se que, em primeiro lugar, consegue cobrir todos os custos associados. No entanto, nós aconselharíamos a investir diretamente na compra e venda de criptomoedas, ao invés de comprar hardware para esse efeito.

Outra opção é a mineração de altcoins. Estas ainda não são bem conhecidas. A taxa de sucesso nas altcoins é muito superior e é possível juntar montantes com bastante rapidez. Com alguma sorte, algumas destas novas moedas podem vir a valorizar imenso no futuro.

Para finalizar: lá se vão os dias em que poderíamos de fato criar uma “tonelada” de dinheiro com a mineração criptográfica e sem um investimento alto e arriscado. Se já possui uma placa gráfica poderosa e não tem dúvidas sobre possíveis problemas ambientais, então aconselhamos a experimentar. Deixe nos comentários se já experimentou, o porquê e os resultados gerais obtidos!

Por Ricardo Gomes para Pplware.com
https://pplware.sapo.pt/gadgets/hardware/ainda-vale-pena-comprar-placas-graficas-mineracao/

Comentários

Notícias mais vistas:

Motores a gasolina da BMW vão ter um pouco de motores Diesel

Os próximos motores a gasolina da BMW prometem menos consumos e emissões, mas mais potência, graças a uma tecnologia usada em motores Diesel. © BMW O fim anunciado dos motores a combustão parece ter sido grandemente exagerado — as novidades têm sido mais que muitas. É certo que a maioria delas são estratosféricas:  V12 ,  V16  e um  V8 biturbo capaz de fazer 10 000 rpm … As novidades não vão ficar por aí. Recentemente, demos a conhecer  uma nova geração de motores de quatro cilindros da Toyota,  com 1,5 l e 2,0 l de capacidade, que vão equipar inúmeros modelos do grupo dentro de poucos anos. Hoje damos a conhecer os planos da Fábrica de Motores da Baviera — a BMW. Recordamos que o construtor foi dos poucos que não marcou no calendário um «dia» para acabar com os motores de combustão interna. Pelo contrário, comprometeu-se a continuar a investir no seu desenvolvimento. O que está a BMW a desenvolver? Agora, graças ao registo de patentes (reveladas pela  Auto Motor und Sport ), sabemos o

Saiba como uma pasta de dentes pode evitar a reprovação na inspeção automóvel

 Uma pasta de dentes pode evitar a reprovação do seu veículo na inspeção automóvel e pode ajudá-lo a poupar centenas de euros O dia da inspeção automóvel é um dos momentos mais temidos pelos condutores e há quem vá juntando algumas poupanças ao longo do ano para prevenir qualquer eventualidade. Os proprietários dos veículos que registam anomalias graves na inspeção já sabem que terão de pagar um valor avultado, mas há carros que reprovam na inspeção por força de pequenos problemas que podem ser resolvidos através de receitas caseiras, ajudando-o a poupar centenas de euros. São vários os carros que circulam na estrada com os faróis baços. A elevada exposição ao sol, as chuvas, as poeiras e a poluição são os principais fatores que contribuem para que os faróis dos automóveis fiquem amarelados. Para além de conferirem ao veículo um aspeto descuidado e envelhecido, podem pôr em causa a visibilidade durante a noite e comprometer a sua segurança. É devido a este último fator que os faróis ba

A falsa promessa dos híbridos plug-in

  Os veículos híbridos plug-in (PHEV) consomem mais combustível e emitem mais dióxido de carbono do que inicialmente previsto. Dados recolhidos por mais de 600 mil dispositivos em carros e carrinhas novos revelam um cenário real desfasado dos resultados padronizados obtidos em laboratório. À medida que as políticas da União Europeia se viram para alternativas de mobilidade suave e mais verde, impõe-se a questão: os veículos híbridos são, realmente, melhores para o ambiente? Por  Inês Moura Pinto No caminho para a neutralidade climática na União Europeia (UE) - apontada para 2050 - o Pacto Ecológico Europeu exige uma redução em 90% da emissão de Gases com Efeito de Estufa (GEE) dos transportes, em comparação com os valores de 1990. Neste momento, os transportes são responsáveis por cerca de um quinto destas emissões na UE. E dentro desta fração, cerca de 70% devem-se a veículos leves (de passageiros e comerciais). Uma das ferramentas para atingir esta meta é a regulação da emissão de di