No ecossistema das criptomoedas, há dois mitos urbanos que são frequentemente associados ao Bitcoin. O primeiro, e já mais antigo, é o facto de ser utilizado para esconder, lavar ou ocultar dinheiro. O segundo, e mais recente, mito urbano é o do consumo de energia associado ao Bitcoin
Todos sabemos que os mitos urbanos são fenómenos ficcionais que, por serem narrados infinitas vezes, acabam por serem percecionados como verdadeiros.
No ecossistema das criptomoedas, há dois mitos urbanos que são frequentemente associados ao Bitcoin. O primeiro, e já mais antigo, é o facto de o Bitcoin ser utilizado para esconder, lavar ou ocultar dinheiro. Felizmente, neste momento, é bastante fácil desmontar esse preconceito. Basta uma simples pesquisa no Google! Já existe uma grande variedade de informação acessível que demonstra que utilizar o Bitcoin, uma tecnologia 100% rastreável e transparente, para esconder o que quer que seja, é como colocar algo dentro de uma caixa de vidro transparente. É, portanto, a pior escolha possível para ocultar o que quer que seja.
Encontrar conteúdos variados para rebater esta narrativa é relativamente simples, no entanto torna-se seguramente mais complicado fazê-lo no que respeita ao segundo, e mais recente, mito urbano. Aliás, está já tão entranhado que, até nas comunidades ligadas ao mundo Cripto, começa a ser aceite como sendo um facto verdadeiro. Tal preocupação levou até à criação e promoção das criptomoedas de Proof-of-Stake, que são assim tipo as ações das empresas, que na verdade dependem da boa cabeça de gestores privados, o que não sendo em si mau, não é igual.
E que mito é esse? É o do consumo de energia associado ao Bitcoin e é sobre ele que vou falar nos parágrafos seguintes.
O Bitcoin tal como todo o sistema financeiro tradicional é protegido por eletricidade em computadores, consumindo assim energia. Infelizmente, não há nenhuma alternativa à energia, para a proteção do dinheiro.
No entanto, enquanto todos os computadores do dinheiro tradicional estão normalmente a consumir energia em lugares diferenciados, como as melhores avenidas das grandes cidades e nos edifícios mais charmosos, o Bitcoin é minerado nos lugares onde nem Judas iria perder as botas.
Os mineradores de Bitcoin estabeleceram-se em lugares que não figuram na lista dos lugares onde queremos passar férias ou que achamos não valer a pena visitar, como por exemplo o interior do Cazaquistão ou do Paraguai, na fronteira do Canadá com o Alasca, ou nas grandes cidades desertas do interior da China. Ultimamente, até em aldeias impronunciáveis da Islândia, só porque estão perto de vulcões e a partir dos quais, pasme-se, os mineradores conseguiram retirar energia para a mineração.
O Bitcoin não utiliza petróleo, carvão ou sequer o nuclear. O Bitcoin utiliza eletricidade desperdiçada. E é nos locais recônditos acima referidos que existe eletricidade desperdiçada. Estima-se que cerca de um terço de toda a energia elétrica mundial seja desperdiçada por quebras na transmissão ou consumo fora de horas. Sendo a rede de Bitcoin responsável por qualquer coisa abaixo de 0,1% dessa utilização, implica que, até cada Bitcoin valer 10 milhões de dólares, ainda há margem para melhorar na eficiência energética.
Bitcoin pode ser minerado em qualquer lugar do mundo, mas também fora dele. Um mito urbano ou não, conta-nos que o interesse de Elon Musk na moeda poderá estar associado à ideia de colocar os milhares de satélites da Starlink a minerar Bitcoin nas horas vagas. Se os painéis solares são uma tecnologia que produz eletricidade na terra, produzem bastante mais fora dela.
Em suma, o Bitcoin não só recicla como utiliza energia que mais ninguém estava disposto a comprar, sendo a utilização menos rentável da mesma. Não será assim o Bitcoin um modelo de reciclagem a merecer um selo ponto verde?
* Com mais de 20 anos de experiência na indústria financeira, Pedro Borges foi o primeiro CEO do Saxo Bank no Brasil e tem uma vasta experiência no ambiente de Startups. O lançamento da marca GoBulling no Banco Carregosa; O início do negócio de corretagem online na Orey Financial ou o desenvolvimento das primeiras parcerias de White Label para o Saxo Bank são disso exemplo. Envolvido desde 2014 no mundo do Blockchain e Criptomoedas, criou e liderou nesta área projetos como o ICO SOFA e o AprenderSobreBitcoin.com
Expresso | O Bitcoin recicla energia
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