A imposição de tectos máximos para o gás russo, o corte de consumo de eletricidade nas horas de ponta e limitar os lucros extraordinários das petrolíferas estão entre as cinco medidas do pacote que será discutido esta sexta-feira para fazer face aos preços "astronómicos" da energia.
Sara Ribeiro
A presidente da Comissão Europeia apresentou esta quarta-feira um pacote de cinco medidas urgentes que serão discutidas no Conselho extraordinário de energia sexta-feira. "A Rússia está a manipular os nossos mercados da energia e deparamo-nos com preços astronómicos", sublinhou na quarta-feira Ursula von der Leyen, na apresentação das medidas que serão discutidas esta semana "para proteger consumidores e empresas".
Uma das propostas passa pelo corte do consumo de eletricidade "de forma inteligente", apontou a presidente da Comissão Europeia. Para tal, Bruxelas vai propor o corte obrigatório no consumo de eletricidade nas horas de pico, ou seja, nos períodos em que há mais procura, que são tipicamente de manhã e ao final da tarde, e por esses motivos costumam levar ao aumento dos preços grossistas. O objetivo é desviar o consumo para outras horas em que não haja tanta pressão no preço. Esta medida é semelhante ao corte de 15% do consumo de gás anteriormente aprovado. Nas últimas semanas, os Estados-membros têm apresentado planos de poupança de energia nesse sentido, estando também previsto que Portugal apresente um pacote do género em breve.
A segunda medida, e talvez a mais polémica, prevê a implementação de um preço máximo ao gás importado da Rússia. "O objetivo é simples: temos de cortar os lucros da Rússia com o gás e que o Kremlin usa para financiar esta guerra atroz", afirmou Ursula Von der Leyen, aproveitando para sublinhar que atualmente o volume do gás russo recebido pela Europa ronda apenas os 9%. Chegou a ultrapassar os 40%. A presidente da Comissão Europeia não revelou, contudo, os valores do tecto que será imposto, mas garantiu que o objetivo é que avance o mais rápido possível.
Vladimir Putin não demorou muito a reagir a este anúncio. O chefe de Estado da Rússia, que falava no 7.º Fórum Económico Oriental, que decorre em Vladivostoque, no extremo oriente do país, voltou a ameaçar cortar fornecimento de petróleo e gás se os preços forem limitados.
A terceira proposta de Bruxelas que será discutida esta sexta-feira passa por avançar com uma contribuição solidária sobre as empresas de combustíveis fósseis, ou seja, o tema de taxar os lucros "caídos do céu" das empresas de petróleo e gás" volta a estar em cima da mesa.
A definição de um tecto máximo de 200 euros por megawatt/hora (MWh) para o preço da eletricidade gerada por "produtores inframarginais", de energias renováveis, é outra das soluções que deverá avançar para tentar tratar os preços "astronómicos" da energia.
Por fim, será discutida uma solução para garantir liquidez às empresas de produção de energia que estão a ser impactadas pela volatilidade do mercado.
Bruxelas quer fixar preço máximo para gás russo e limitar lucros das petrolíferas (dinheirovivo.pt)
Comentário do Wilson:
Eu nunca vi irracionalidade maior do que a fórmula de cálculo para determinar o valor a pagar aos produtores de Energia.
Cada produtor tem os seus custos para gerar electricidade que são o custo do combustível e os custos fixos.
No caso das energias renováveis o custo do combustível (Sol, Ar, Água) é zero ficando apenas os custos fixos derivado dos investimentos e manutenção.
Calcula-se que a maioria destes produtores tenham actualmente lucros a partir dos 5€ / MWh.
Quando há falta de electricidade entram em funcionamento as centrais térmicas a carvão, fuel-Oil, etc. algumas destas centrais são a gás.
Estas centrais tem o combustível mais caro, portanto só vendem a partir de certo preço e no caso das centrais a gás esse preço aumentou em mais de mil porcento nos últimos meses pelo que estão a vender a electricidade a muitas centenas de euros o MWh (entre 200€ e 1000€ actualmente).
Ora quando estas centrais, que são uma minoria, vendem a electricidade a 1000€ então faz com que o preço a pagar a TODOS os produtores (excepto uma minoria que tem contratos especiais a preço fixo) são os mesmos 1000€ mesmo que pudessem vender a electricidade com lucro a 5€.
Na última década o preço da electricidade variava entre o 5€ e os 50€ e todos estavam contentes. (excepto o consumidor) imaginem agora que o preço varia entre os 200€ os 1000€ tendo a maioria a ter estes lucros obscenos só por que uma minoria (a gás) necessita de vender a 1000€ para ter lucro.
Este sistema marginalista deveria acabar mas parece ser mais fácil sobre-taxar estes lucros, como se fez em Portugal, o que não se reflecte na diminuição do preço da electricidade e apenas serve para engordar os cofres do Estado.
Assim aplaudo a medida anunciada por Bruxelas em limitar o pagamento a 200€ a estes produtores, mas ressalvo que isso não muda o paradigma que está errado e urge corrigir.
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