Avançar para o conteúdo principal

Europa entra em modo defensivo com medo dos compradores da China e EUA


Governos de Berlim, Paris, Roma e Madrid aumentaram os seus poderes para vetar investimentos de fora da UE.

Lançadas numa nova era de maior intervencionismo devido à pandemia do coronavírus, as autoridades da União Europeia tentam proteger os seus ativos mais valiosos após a pior sangria do mercado acionista em quase uma década, que deixou as cotadas vulneráveis a aquisições.

Governos de Berlim, Paris, Roma e Madrid aumentaram os seus poderes para vetar investimentos de fora da UE nas últimas semanas, e o bloco prepara as primeiras regras válidas para o continente com o objetivo de monitorizar aquisições por motivos de segurança. Garantias especiais foram oferecidas a empresas de biotecnologia, já que a corrida por uma vacina contra a covid-19 assume uma importância crítica.

Como o colapso económico se somou às incertezas provocadas pela ascensão da China, a retirada dos EUA e o avanço da Rússia, o bloco de 27 países está em vias de abandonar a sua antiga política de portas abertas devido aos sinais de que outras potências globais tentam tirar partido desta abordagem.

As empresas chinesas apoiadas pelo estado comunista já procuram pechinchas na Europa. A Alemanha aprendeu uma lição amarga com a operação furtiva do investidor bilionário Li Shufu, que se tornou o maior acionista da Daimler em 2018. As autoridades de Berlim também ficaram em alerta com reportagens divulgadas em março sobre uma abordagem do governo dos EUA de uma empresa de fabrico de vacinas, que foi negada pela Casa Branca.

"Trata-se da necessidade de proteger a nossa infraestrutura crítica, para não sermos ingénuos quanto ao que poderia acontecer com alguns setores vulneráveis e tecnologias vulneráveis com intervenções de países terceiros", disse o comissário de Comércio da UE, Phil Hogan, aos deputados europeus a 21 de abril, em Bruxelas.

Até agora, investidores estrangeiros tinham como foco o cumprimento das regras de concorrência da UE, disse Pascal Dupeyrat, que assessora investidores não europeus na França. "Nos próximos cinco a 10 anos, essas transações deverão ser aceitáveis sob a medida muito mais ampla da segurança nacional", afirmou.

Ainda assim, o que europeus chamam de comportamento predatório, outros considerariam jogo justo sob as regras do capitalismo moderno. Críticos argumentam que essa abordagem enfatiza o crescente protecionismo que tem marcado a Europa nos últimos anos.

A UE também deve agir com cuidado devido à importância do investimento direto estrangeiro (IDE) para a economia europeia. O IDE é diretamente responsável por cerca de 16 milhões de empregos na UE, e o bloco atraiu 7,2 biliões de euros em capital estrangeiro até o final de 2018.

Nesse sentido, a Europa tem sido um termómetro da economia global. Em todo o mundo, a proporção de ações de IDE em relação ao PIB global quase multiplicou por seis, para 40% em 2017 em relação aos 7% em 1990, de acordo com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico.

Apesar do maior escrutínio regulatório, o interesse de investidores estrangeiros em ativos europeus permanecerá forte como resultado da queda do mercado de ações, que provavelmente deve durar até o próximo ano, disse Davina Garrod, consultor de investimentos e concorrência do escritório de advocacia Akin Gump Strauss Hauer & Feld, com sede em Londres.

"A maré está a mudar na Europa com maior vigilância, principalmente em relação aos chineses e russos", disse Garrod. "Mas não está a transformar a Europa numa fortaleza."

https://www.jornaldenegocios.pt/economia/europa/detalhe/europa-entra-em-modo-defensivo-com-medo-dos-compradores-da-china-e-eua

Comentários

Notícias mais vistas:

Esta cidade tem casas à venda por 12.000 euros, procura empreendedores e dá cheques bebé de 1.000 euros. Melhor, fica a duas horas de Portugal

 Herreruela de Oropesa, uma pequena cidade em Espanha, a apenas duas horas de carro da fronteira com Portugal, está à procura de novos moradores para impulsionar sua economia e mercado de trabalho. Com apenas 317 habitantes, a cidade está inscrita no Projeto Holapueblo, uma iniciativa promovida pela Ikea, Redeia e AlmaNatura, que visa incentivar a chegada de novos residentes por meio do empreendedorismo. Para atrair interessados, a autarquia local oferece benefícios como arrendamento acessível, com valores médios entre 200 e 300 euros por mês. Além disso, a aquisição de imóveis na região varia entre 12.000 e 40.000 euros. Novas famílias podem beneficiar de incentivos financeiros, como um cheque bebé de 1.000 euros para cada novo nascimento e um vale-creche que cobre os custos da educação infantil. Além das vantagens para famílias, Herreruela de Oropesa promove incentivos fiscais para novos moradores, incluindo descontos no Imposto Predial e Territorial Urbano (IBI) e benefícios par...

"A NATO morreu porque não há vínculo transatlântico"

 O general Luís Valença Pinto considera que “neste momento a NATO morreu” uma vez que “não há vínculo transatlântico” entre a atual administração norte-americana de Donald Trump e as nações europeias, que devem fazer “um planeamento de Defesa”. “Na minha opinião, neste momento, a menos que as coisas mudem drasticamente, a NATO morreu, porque não há vínculo transatlântico. Como é que há vínculo transatlântico com uma pessoa que diz as coisas que o senhor Trump diz? Que o senhor Vance veio aqui à Europa dizer? O que o secretário da Defesa veio aqui à Europa dizer? Não há”, defendeu o general Valença Pinto. Em declarações à agência Lusa, o antigo chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas, entre 2006 e 2011, considerou que, atualmente, ninguém “pode assumir como tranquilo” que o artigo 5.º do Tratado do Atlântico Norte – que estabelece que um ataque contra um dos países-membros da NATO é um ataque contra todos - “está lá para ser acionado”. Este é um dos dois artigos que o gener...

Armazenamento holográfico

 Esta técnica de armazenamento de alta capacidade pode ser uma das respostas para a crescente produção de dados a nível mundial Quando pensa em hologramas provavelmente associa o conceito a uma forma futurista de comunicação e que irá permitir uma maior proximidade entre pessoas através da internet. Mas o conceito de holograma (que na prática é uma técnica de registo de padrões de interferência de luz) permite que seja explorado noutros segmentos, como o do armazenamento de dados de alta capacidade. A ideia de criar unidades de armazenamento holográficas não é nova – o conceito surgiu na década de 1960 –, mas está a ganhar nova vida graças aos avanços tecnológicos feitos em áreas como os sensores de imagem, lasers e algoritmos de Inteligência Artificial. Como se guardam dados num holograma? Primeiro, a informação que queremos preservar é codificada numa imagem 2D. Depois, é emitido um raio laser que é passado por um divisor, que cria um feixe de referência (no seu estado original) ...