Avançar para o conteúdo principal

Portugal não é um país, é um milagre…


Vamos então a factos. Portugal está em antepenúltimo lugar em PIB per capita da zona euro, antepenúltima posição na produtividade do trabalho, e temos a 3.º maior dívida externa líquida em % do PIB.


Portugal é um dos países mais pobres, mais devedores e dependentes do exterior, menos escolarizados, menos inovadores, e com um dos sistemas de justiça mais ineficazes da zona Euro.

Desculpem lá estragar a vossa trip, e acabar com o efeito delirante desses alucinogénios que os políticos no activo parecem ter tomado e administrado ao país. Quem veja as notícias do amor livre (ou será poliamor?) do primeiro-ministro com o BFF Jerónimo e com o Presidente da República, da indolência da paz e amor de Rui Rio, e dos delírios psicóticos de boa parte da direita (às vezes as drogas batem mal…), deve achar-se em Woodstock no Verão de 69; infelizmente sem a música do Jimmy Hendrix.

Vamos a factos, e se me permitem, usando a zona euro como referência, não vá alguém, num excesso de autoindulgência, achar que nos devíamos comparar com outro bloco qualquer (bloco não era piada).

Portugal está em antepenúltimo lugar em PIB per capita da zona euro, apenas melhor que a Grécia e a Letónia. Em 1995 estávamos melhor que Malta, que a Lituânia, que a Letónia, que a Estónia, que a Eslováquia e que a Eslovénia. Piorámos. Já em valor de remuneração média de trabalhadores por conta de outrem só a Letónia está pior que nós.

Estamos na antepenúltima posição na produtividade do trabalho, por hora de trabalho, apenas melhor que a Grécia e a Letónia. E temos a 3.º maior dívida externa líquida em % do PIB (84,7%), apenas melhor que o Chipre e a Grécia.

Na educação somos o 4.º país com maior taxa de abandono escolar precoce (10,7%). E no que toca a população com o ensino superior em % da população entre os 25 – 64 anos estamos em antepenúltimo lugar (com 26,1%); apenas melhor que a Eslováquia e a Itália.

Na Justiça somos o 4.º país com maior taxa de congestão dos tribunais de 1.º instância de processos criminais (71,2%). No índice de percepção da corrupção estamos abaixo de meio da tabela da zona euro, com uma pontuação (62) mais próxima do Burkina Faso (40) que da Finlândia (86), que ocupa do primeiro lugar da zona euro e o terceiro a nível mundial.

No que toca a dotações orçamentais públicas para investigação e desenvolvimento (I&D) em % do PIB temos 0,3% (2018), pior que em 1995 quando tínhamos 0,4%; 14.º lugar em 19.

Em síntese, Portugal tem problemas estruturais do ponto de vista da produtividade, da criação de riqueza, e da competitividade. Tem problemas crónicos de endividamento externo. Apesar das melhorias do último meio século continua com problemas para debelar do ponto de vista da educação. E tem um sistema de justiça anquilosado, para não dizer outra coisa.

Economia, educação e aumento de qualificações, e justiça têm, portanto, sido as nossas preocupações, e a classe política, apesar das diferentes sensibilidades, conseguiram acordar num pacto de regime reformista, para aumentar a nossa competitividade e diminuir a nossa pobreza, certo? Errado.

Mas pergunta o leitor mais indignado comigo por ter escrito o que escrevi que com a realidade que acabou de ver descrita: como é que num tempo de excepção, de crise pandémica, de emergência, este pode estar para aqui a falar em reformas?

Talvez tenha razão. Admito o excesso de extemporaneidade. E peço desculpa por isso. Nestes dias temos estado ocupados – e alinhados – a preparar um programa de emergência social de extrema capilaridade eficaz para dar resposta a quem ficou sem rendimento. E a simplificar processos e a desburocratizar acessos a financiamento rápido de empresas com problemas de tesouraria. E a assegurar, sem tratamentos desiguais, o alinhamento dos esforços de confinamento dos portugueses, para nos mantermos unidos desta adversidade. E a garantir, pela transparência, segurança e racionalidade, que as directivas das autoridades de saúde são compreendidas e pacificamente acatadas. E tudo isto com um comportamento irrepreensível e uma acção perfeitamente coordenada do Governo.

Não? Infelizmente não.

Portugal, enfiado em casa e de cabeça de fora para ver se já pode sair, assiste a crises governativas, ao lançamento de candidaturas presidenciais, à abertura de creches mal preparadas, a manifestações do 1.º de Maio com transporte patrocinado por câmaras comunistas – isto num fim-de-semana em que não se pôde visitar o familiar que vive no concelho vizinho – e à possibilidade da Festa do Avante! se realizar ao arrepio de todas as outras restrições impostas a toda gente.

E perante isto, eu cedo. As comparações que fiz acima são injustas, porque só se aplicam a países. E Portugal não é um país, é um milagre.

https://observador.pt/opiniao/portugal-nao-e-um-pais-e-um-milagre/

Comentários

Notícias mais vistas:

Esta cidade tem casas à venda por 12.000 euros, procura empreendedores e dá cheques bebé de 1.000 euros. Melhor, fica a duas horas de Portugal

 Herreruela de Oropesa, uma pequena cidade em Espanha, a apenas duas horas de carro da fronteira com Portugal, está à procura de novos moradores para impulsionar sua economia e mercado de trabalho. Com apenas 317 habitantes, a cidade está inscrita no Projeto Holapueblo, uma iniciativa promovida pela Ikea, Redeia e AlmaNatura, que visa incentivar a chegada de novos residentes por meio do empreendedorismo. Para atrair interessados, a autarquia local oferece benefícios como arrendamento acessível, com valores médios entre 200 e 300 euros por mês. Além disso, a aquisição de imóveis na região varia entre 12.000 e 40.000 euros. Novas famílias podem beneficiar de incentivos financeiros, como um cheque bebé de 1.000 euros para cada novo nascimento e um vale-creche que cobre os custos da educação infantil. Além das vantagens para famílias, Herreruela de Oropesa promove incentivos fiscais para novos moradores, incluindo descontos no Imposto Predial e Territorial Urbano (IBI) e benefícios par...

"A NATO morreu porque não há vínculo transatlântico"

 O general Luís Valença Pinto considera que “neste momento a NATO morreu” uma vez que “não há vínculo transatlântico” entre a atual administração norte-americana de Donald Trump e as nações europeias, que devem fazer “um planeamento de Defesa”. “Na minha opinião, neste momento, a menos que as coisas mudem drasticamente, a NATO morreu, porque não há vínculo transatlântico. Como é que há vínculo transatlântico com uma pessoa que diz as coisas que o senhor Trump diz? Que o senhor Vance veio aqui à Europa dizer? O que o secretário da Defesa veio aqui à Europa dizer? Não há”, defendeu o general Valença Pinto. Em declarações à agência Lusa, o antigo chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas, entre 2006 e 2011, considerou que, atualmente, ninguém “pode assumir como tranquilo” que o artigo 5.º do Tratado do Atlântico Norte – que estabelece que um ataque contra um dos países-membros da NATO é um ataque contra todos - “está lá para ser acionado”. Este é um dos dois artigos que o gener...

Armazenamento holográfico

 Esta técnica de armazenamento de alta capacidade pode ser uma das respostas para a crescente produção de dados a nível mundial Quando pensa em hologramas provavelmente associa o conceito a uma forma futurista de comunicação e que irá permitir uma maior proximidade entre pessoas através da internet. Mas o conceito de holograma (que na prática é uma técnica de registo de padrões de interferência de luz) permite que seja explorado noutros segmentos, como o do armazenamento de dados de alta capacidade. A ideia de criar unidades de armazenamento holográficas não é nova – o conceito surgiu na década de 1960 –, mas está a ganhar nova vida graças aos avanços tecnológicos feitos em áreas como os sensores de imagem, lasers e algoritmos de Inteligência Artificial. Como se guardam dados num holograma? Primeiro, a informação que queremos preservar é codificada numa imagem 2D. Depois, é emitido um raio laser que é passado por um divisor, que cria um feixe de referência (no seu estado original) ...