Quando eclodiu a crise dos semicondutores, a maioria das marcas de automóveis foi apanhada desprevenida e a produção ressentiu-se com a falta de chips. A Stellantis vê aí uma oportunidade de negócio.
A nova empresa chama-se SiliconAuto e pretende tirar partido da experiência e da dimensão das duas companhias para, já a partir de 2026, conceber chips para a “nova geração de plataformas de veículos da indústria automóvel”, informa a Stellantis, que naturalmente vai ser cliente da empresa que detém a meias com a gigante de Taiwan. A Foxconn é “apenas” o maior fabricante de componentes electrónicos e computadores do mundo, o que diz tudo em relação ao seu domínio no universo das tecnologias de informação e comunicação, em geral, e no sector dos semicondutores, em particular. Tanto assim é que esta é a segunda joint-venture que o grupo liderado pelo português Carlos Tavares estabelece com o mesmo parceiro, pois, além da SiliconAuto, a Stellantis e a Foxconn estão igualmente juntas na Mobile Drive, uma companhia criada precisamente para antecipar a evolução tecnológica a bordo dos automóveis, dedicando-se ao desenvolvimento dos chamados cockpits inteligentes, “activados pela electrónica de consumo, interfaces homem-máquina e serviços”.
Com sede nos Países Baixos, à semelhança da própria Stellantis, a SiliconAuto não se vai limitar a “servir” as 14 marcas do grupo franco-italo-americano. A ideia é que forneça igualmente outros construtores de automóveis, sendo conveniente ter presente que quanto mais sofisticado é um veículo, maior é a electrónica que o suporta e, como tal, cresce em proporção a necessidade de chips. Para se ter uma ideia, um veículo moderno pode chegar a integrar 3000 chips, sendo que a tendência vai para que a tecnologia integrada constitua um dos principais factores diferenciadores do produto no ramo automóvel.
Daí que a Stellantis esteja a tratar de antecipar e garantir necessidades futuras, pois o grupo não só está a acelerar para a concepção de quatro plataformas específicas para veículos exclusivamente a bateria, como se encontra a desenvolver uma nova arquitectura de software, a STLA Brain, a qual deve ter “plena capacidade de actualização remota”, isto é, deve ser capaz de corrigir falhas ou instalar upgrades no própria arquitectura eléctrica, indo para além das comuns actualizações a nível do sistema de infoentretenimento e evitando, assim, a deslocação dos clientes às oficinas em grande parte dos casos. Com esta integração vertical e com estas metas pela frente, a estratégia da Stellantis parece que alinha pela realidade operacional da Tesla, excepção feita no que toca à constituição de uma rede própria de carregadores ultra-rápidos.
Para o chief technology officer da Stellantis, Ned Curic, a SiliconAuto vai permitir ao grupo que resultou da fusão da PSA com a FCA “beneficiar de um fornecimento robusto de componentes essenciais, algo fundamental para alimentar a transformação rápida e definida pelo software dos produtos” da Stellantis. “O nosso objectivo é construir veículos que se conectem perfeitamente à vida quotidiana dos nossos clientes e que ofereçam as melhores capacidades anos depois de saírem da linha de montagem”, acrescentou.
É assim que a Stellantis finta a crise dos chips – Observador
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