A criptoesfera é repleta de projetos ruins, que nascem rapidamente e morrem com a mesma velocidade. Em 2023, foque no básico. Entenda por que bitcoin e ether seguem sendo as apostas menos arriscadas para o investidor
Por Felippe Percigo*
Quanto maior a complexidade do investimento, maior o retorno, certo? Errado. Faça um favor para você em 2023: descomplique. Que tal se ater ao básico?
No mercado cripto, bitcoin e ether estão aí para provar. Dois ativos digitais pioneiros que são os verdadeiros heróis da resistência de 2022. Não apenas se mostraram resilientes a mais um ciclo de baixa em seus currículos, como também antifrágeis em um cenário de grande incerteza econômica e geopolítica.
Enquanto isso, no mesmo período, mais de 12 mil moedas digitais fracassaram. Para ser mais exato, elas viraram “zumbis”, não estão “nem vivas nem mortas”, como apontou um levantamento realizado em outubro pela Nomics a pedido da Bloomberg.
Segundo a Nomics, foram classificadas como zumbis as criptos que, teoricamente, até podem estar por aí, mas chegaram a registrar um mês inteiro no ano sem negociações. O número atual de zumbis supera em mais de três vezes o de 2021.
A pesquisa corrobora o que venho defendendo há muito tempo: a roubada dos hypes. A maioria dos projetos mortos são esquemas e fraudes fantasiadas de criptomoedas.
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Hoje, existem projetos potencialmente interessantes, mas a segurança de verdade reside na solidez. Até agora, bitcoin e ether, a criptomoeda nativa da rede Ethereum, foram os únicos ativos que realmente se provaram.
A porcentagem de queda do bitcoin no ano faz muita gente questionar a força do ativo. Afinal, ele desvalorizou por volta de 65% desde a sua máxima histórica, em novembro de 2021. Trata-se de um tombo significativo.
No entanto, se olharmos com mais profundidade, fica evidente que a queda não está relacionada à perda de fundamentos da moeda. Eles continuam lá, intactos. O bitcoin segue sendo escasso, descentralizado, deflacionário, independente e imutável.
Grande parte do medo e incerteza entre investidores que vimos em 2022 se deve a condutas irresponsáveis no mercado, como as que levaram à falência da FTX, à ruína do esquema Terra (LUNA), de plataformas CeFi como a Celsius e de fundos que recorreram a operações extremamente arriscadas com o dinheiro de seus usuários.
Mesmo com todos esses episódios lamentáveis, a desvalorização não chegou a ser a maior da história recente do bitcoin. Em 2018, a cripto chegou a desabar mais de 80%.
Em 2023, vamos abrir os nossos horizontes e aprender a olhar para o todo. Só assim, teremos uma visão realista do mercado e pararemos de decretar a morte do bitcoin todo "inverno cripto". O mundo está em constante transformação, com altos e baixos, e não faz sentido pensar que o bitcoin vai fugir à regra. Estamos falando aqui de investimentos de longo prazo.
Portanto, pensemos em perspectiva. O analista PlanB, criador do famoso modelo Stock-To-Flow (STF), postou recentemente um gráfico no Twitter mostrando que, nos últimos dez anos, o bitcoin teria valorizado 1.000 vezes. O gráfico exibe uma correlação com o índice S&P 500, que teria valorizado apenas 4 vezes no período.
Outro analista célebre na criptoesfera, Raoul Pal também fez as contas e apresentou o resultado em seu perfil na rede social. De acordo com o seu levantamento, quem comprou bitcoin no início de 2013 e segurou até hoje viu suas moedas renderem 114.000%, a despeito da forte queda deste ano.
E a tendência é que o ativo siga valorizando. Estamos a 18 meses do próximo Halving, que deixará a moeda ainda mais escassa no mercado. Ao mesmo tempo, a demanda pelo ativo cresce no mundo inteiro.
Satoshi Nakamoto, o criador do bitcoin, determinou no whitepaper que a emissão da criptomoeda deveria ser reduzida de tempos em tempos. Essa metodologia, batizada de halving, garante que, a cada quatro anos, a produção do ativo caia à metade até chegar a zero, o que está previsto para acontecer em 2140, quando a última parte das 21 milhões de unidades for minerada.
Até agora, o modelo tem funcionado como previsto, o que deixa ainda mais evidente a solidez do projeto de Nakamoto.
Sólida também tem se mostrado a rede Ethereum. Apesar das críticas em torno de sua descentralização, a rede criada por Vitalik Buterin não para de crescer e revelar um universo incrível de tecnologias. O desenvolvimento de smart contracts instauraram uma nova era no setor financeiro.
Tem muita coisa acontecendo na Ethereum. O ecossistema gigantesco é conduzido por milhares de desenvolvedores e abriga outros milhares de projetos. O maior de todos do mercado cripto.
Outras plataformas tentam seguir os passos da rede, prometendo criar inclusive versões mais eficientes ao solucionar o trilema descentralização-segurança-escalabilidade. Segundo o conceito cunhado por Vitalik Buterin, quando dois desses pilares são fortalecidos em uma blockchain, o terceiro está destinado a ficar fragilizado.
Até agora, a maioria dos intitulados “Ethereum Killers” não mostrou exatamente ao que veio. E todos estão ainda bem longe do líder. O marketshare atual do ether soma 60%, tornando a missão complicada para os concorrentes.
Novas atualizações da rede também estão previstas para acontecer em 2023, em especial o tão aguardado sharding, que pretende atacar o problema crítico de escalabilidade da Ethereum. O sharding, ou fragmentação, consiste na divisão do banco de dados em um conjunto de fragmentos horizontais, formando uma coleção de mini-blockchains.
A ideia é que a nova estrutura permita a qualquer pessoa executar a Ethereum em um laptop ou telefone pessoal. A implementação do sharding prepara a rede para suportar cerca de 100 mil transações por segundo. Hoje, ela suporta apenas 30.
O processo será otimizado para armazenar transações processadas nos protocolos de segunda camada, apontados como as grandes apostas para 2023. Destaque para os rollups otimistas (Optimistic Rollups) e os rollups de conhecimento zero (ZK Rollups). Existe uma grande expectativa em torno da explosão dessas tecnologias.
Outro motivo que deve impulsionar a valorização da Ethereum e, consequentemente, do ether, é a conformidade com as demandas ESG, atualmente um elemento de peso nas decisões de investimento. Com a recente atualização The Merge, a rede passou a adotar o Proof-of-Stake (PoS) como mecanismo de consenso, em substituição ao Proof-of-Work (PoW), considerado inimigo do meio ambiente pelo alto consumo energético.
Com o PoS, prevê-se uma redução de 99,95% no uso total de energia. O site Ethereum.org afirma que “o gasto de energia do Ethereum é aproximadamente igual ao custo de funcionamento de um laptop modesto para cada nó na rede”.
A atualização The Merge representou um avanço para a política monetária do ether. Além da forte redução na quantidade de tokens emitidos a cada ano, um novo mecanismo de queima também foi introduzido para diminuir a oferta da moeda no mercado. Assim, o ether tende a se tornar deflacionário, o que pode ser bastante atrativo em um mundo castigado pela inflação.
Bom, vimos que há motivos de sobra para ficar no básico. Para que complicar? Ao investir em bitcoin e ether, você não desperdiça o seu tempo tentando entender projetos ruins e tem menos chances de ganhar um abraço zumbi.
Bitcoin e Ethereum: as armas contra o apolise zumbi no universo das criptomoedas | Exame
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