"É fácil fazer cinco mil euros em dois ou três dias": histórias de portugueses que ganham dinheiro (por vezes muito dinheiro) na internet
Desde maneiras mais elaboradas até formas mais simples - como um negócio de chá -, estes são os relatos de quem se sustenta digitalmente. Veja como - e leia alguns conselhos se quiser fazer o mesmo
Há quem tenha começado por brincadeira e acabou num rumo totalmente inesperado a fazer milhares de euros por mês. As opções para ganhar um rendimento extra nunca foram tão vastas: do dropshipping ao freelance, sem esquecer as redes sociais, muitos portugueses encontraram na internet uma forma de fazer dinheiro ou diversificar as suas fontes de rendimento.
"Não é difícil fazer muito dinheiro no digital. É fácil fazer cinco mil euros em dois ou três dias. Uma pessoa com autoridade e com uma marca construída consegue facilmente fazer as faturações de cinco dígitos", explica Catarina Brandão, 33 anos e autora do projeto Cat Poupança, ligado à área das finanças pessoais.
A página que gere permitiu-lhe deixar para trás o trabalho de escritório numa consultora e focar-se exclusivamente no crescimento deste projeto em várias plataformas e no lançamento de vários produtos digitais. Mas a sua página surgiu apenas como um hobby de partilha dos seus conhecimentos - com várias dicas de poupança e gestão de orçamento.
"Ao início foi tudo muito natural. Só fazia publicações e não ganhava nada com o projeto. Recomendava algumas formas de ganhar dinheiro mas eu não ganhava nada", explica, ela que agora oferece vários produtos que ajudam os seus seguidores a melhorar a sua gestão financeira.
Os chamados e-produtos são fáceis e baratos de produzir e a sua distribuição está apenas à distância de um download. Estes produtos permitem ao criador converter os seus conhecimentos sobre um determinado tema em dinheiro, através da criação de um e-book, um programa de treino, dietas ou guias e planos de viagem. No caso da Cat Poupança, o primeiro produto foi um curso online enviado por e-mail. "A dada altura surgiu a ideia de criar um curso online de poupança - com conselhos para o supermercado, sobre as contas da casa, sobre o consumo e viagens. Enviava um e-mail por dia durante 30 dias."
Já publicou entretanto um e-book de objetivos financeiros e agora tem um Excel que pretende ajudar as pessoas a gerir as suas finanças ao longo do ano. Além disso, aposta nas sessões de acompanhamento individual.
À medida que o interesse das pessoas pelo projeto aumentava, Catarina Brandão começou a investir em formas de acrescentar valor aos seus seguidores. Investiu o seu dinheiro na criação de um site e de uma newsletter. Hoje sublinha a importância deste passo, uma vez que lhe dá alguma independência do Instagram e permite fazer conteúdos diferentes.
"Eu tenho o instagram, mas o meu site é a minha plataforma mais importante. Nele há quase uma bíblia de finanças pessoais a que as pessoas podem aceder de forma gratuita", explica.
Questionada sobre quanto dinheiro é possível fazer na internet, responde que o valor varia de pessoa para pessoa e que nem sempre o número de seguidores se traduz em capacidade de fazer dinheiro. Nas redes sociais, diz, é mais importante encontrar um nicho do que viver com o foco em seguidores.
"Com menos de dez mil seguidores consegues facilmente ter um negócio rentável. As pessoas acham que os seguidores têm muito significado mas não têm de todo. Um perfil com mil ou dois mil mas com um produto muito bom consegue fazer negócio."
As publicações publicitárias são uma das formas mais comuns de monetizar conteúdos por parte dos criadores. No fundo, consiste numa parceria entre uma marca e um influencer para que este faça uma publicação a promover um produto ou serviço a troco de dinheiro. E há várias formas de o fazer. Porém, a Cat Poupança destaca a dificuldade que alguns criadores têm em saber ou em definir qual o valor justo a cobrar a algumas das empresas que os abordam.
Depois de encontrar o seu nicho, existem muitas formas de rentabilizar o seu conhecimento. Um fator que contribui para o possível sucesso é a capacidade de dominar várias plataformas para chegar ao maior número de pessoas possível. Um boa hipótese é a criação de um podcast. Os custos necessários para começar um podcast são relativamente pequenos e os criadores de conteúdos podem receber dinheiro das plataformas onde publicam dependendo do número de ouvintes. Mas não só - também é possível cobrar uma subscrição ou fazer publicidade de marcas durante o programa.
Mas existem muitas mais formas de fazer dinheiro nas redes sociais. Alguma vez viu um criador de conteúdos a promover um código ou de um link que oferece descontos numa marca ou num produto? Então já esteve em contacto com o chamado “affiliate marketing”. Através deste método, apesar de não garantir uma fonte de rendimento certa, os influencers podem acabar por criar uma forma de rendimento passivo - que pode escalar dependendo do número de cliques ou de vendas que conseguem. Por outro lado, para as marcas é uma boa forma de medir o sucesso de uma parceria com um influencer.
O chá
O comércio digital tem sido uma das maiores tendências dos últimos anos e ainda não deu sinais de abrandar. Para algumas marcas que têm os seus alicerces em lojas físicas, a criação de lojas digitais, nas redes sociais, foi o caminho natural a seguir. João Pedro Pupo e a namorada, Montse López, viram na pandemia uma oportunidade para tornar um hobby num negócio: a paixão pelo chá transformou-se numa oportunidade de ganhar dinheiro.
“Foi uma das boas coisas que o covid-19 nos deu. A minha namorada queria começar uma loja há algum tempo e sabíamos que era um produto com uma cultura muito grande e com potencial de crescimento significativo", contou o jovem empreendedor. Utilizar as redes sociais para alavancar foi um passo lógico.
É cada vez mais indispensável para marcas utilizarem a montra das redes sociais para promover os seus produtos e testar novas formas de interagir com potenciais consumidores. Os serviços da Meta, que detém empresas como o Facebook ou o Instagram, permitem às empresas criar coleções de produtos ou apresentá-los da forma mais apelativa, com descrições detalhadas com toda a informação relevante, incluindo forma de comprar diretamente o produto sem sair da aplicação.
"Neste momento, se não estás integrado nas redes sociais ficas atrás de tudo e todos. Se queres ter uma loja online e não fazer um investimento a sério nessa área ficas com uma desvantagem brutal na área", explica João Pedro Pupo.
Apesar do conceito da marca que criou ser uma revolta pacífica contra a correria citadina - a motivação inicial era tentar passar a cultura de acalmar, sair da cidade, um ritmo diferente -, o jovem empresário admite que sem a colaboração com as redes sociais seria muito mais difícil expandir o seu negócio. Atualmente, cerca de 75% dos seus clientes compram ou conheceram os seus produtos através das redes sociais.
Os NFT
A pandemia precipitou uma autêntica revolução na forma como trabalhamos, empurrando milhões de profissionais para o trabalho remoto. Mas, para alguns profissionais, vender os seus talentos online é uma realidade há muitos anos. Da tradução à programação, passando pelo design, produção de vídeo ou gestão de redes sociais, tudo isto pode ser colocado à venda em plataformas como o Fiverr, UpWork, Frelancer ou a Guru.
Talvez nunca tenha pensado nisso, mas alguns dos seus talentos podem ser muito procurados e até lhe podem valer um bom rendimento extra todos os meses. Tudo o que precisa é criar uma conta, escolher a área em que quer trabalhar e quanto é que quer receber por isso. Mas lembre-se que tem concorrência e há quem possa propor o mesmo serviço com menos dinheiro.
David Comprido começou a trabalhar na indústria do calçado mal acabou os estudos na área de design de produto. Um ano e meio depois saiu e abriu a sua própria empresa, onde vende designs 3D de sapatos, maioritariamente para clientes norte-americanos. “Depois de começar a trabalhar com 3D, descobri o Fivver, que me permitiu prestar um serviço diretamente ao consumidor, onde eu pude expandir o meu negócio”, disse em conversa à CNN Portugal.
Foi aí que, em conversas com alguns clientes estrangeiros, descobriu o mundo dos Non-Fungible Tokens (NFT). A transição foi natural. Começou com encomendas de objetos 3D, que passaram para animações ou imagens 3D com vista explodida. A certa altura, os seus clientes começaram a dizer que queriam sapatos 3D para vender em formato NFT. Agora, poucos meses depois, esta tecnologia ocupa a quase totalidade do seu tempo e já não consegue “socorrê-los a todos”.
"Estas plataformas podem vir a abrir muitas portas aos artistas. Os artistas que não têm trabalho ou que não conseguem utilizar todas as suas potencialidades podem ter aqui uma grande oportunidade", diz o jovem designer.
O design gráfico é mesmo uma das áreas mais rentáveis desta plataforma, com alguns dos designers mais procurados a cobrarem cerca de 1.400 euros pela criação de logotipos. A criação de um site, criação e revisão de artigos, marketing e produtos NFT são algumas das áreas mais procuradas na plataforma.
Youtube e Twitch
Sente que passa muito tempo a jogar videojogos? Talvez esteja na hora de criar uma conta no Twitch e começar a criar uma audiência para assistir enquanto você joga. O sistema até é parecido ao do “Super Chat” do Youtube, com o criador a receber doações dos seus seguidores. Além disso, pode também escolher passar anúncios no seu canal, aumentando ainda mais os seus rendimentos.
Porém, criar uma audiência fiel não é fácil e pode demorar anos, mas em Portugal há quem ganhe a vida fazer streaming diariamente. Um exemplo disso é MoraisHD, que conta com mais de 250 mil seguidores nesta plataforma e que deixou para trás um emprego na banca para se dedicar em exclusivo à Twitch.
"De repente vi-me desempregado e com tempo livre e passei a full-time streamer desde que acordo até que me deito. Faço disto vida, exclusivamente. Não tenho outro emprego. E compensa do ponto de vista monetário: ganho mais dinheiro do que ganhava no banco.", contou à CNN Portugal.
MoraisHD sublinha ainda que, ao contrário do que algumas pessoas pensam, esta é um profissão como todas as outras e que paga impostos e Segurança Social como trabalhador independente.
O Youtube é uma das formas mais populares entre criadores de conteúdos para se ganhar dinheiro, com alguns dos principais criadores a fazerem mais de 20 milhões de euros por ano. No entanto, a plataforma de vídeo funciona de forma um pouco diferente da Twitch e permite aos seus utilizadores fazerem dinheiro de várias formas, sendo que a mais conhecida é a receita das publicidades que nos interrompem a visualização dos vídeos.
Mas nem todos os anúncios são iguais, nem tão pouco quanto é que cada criador recebe por eles. O Youtube dá 55% da receita da publicidade aos criadores, ficando com 45% do restante.
A plataforma permite aos youtubers escolher o tipo de publicidade que querem ter nas suas páginas, sendo que umas (as mais intrusivas) são mais rentáveis que outras.
Aqui o proprietário da página pode escolher anúncios que têm a opção de saltar depois de cinco segundos ou anúncios que obrigam o espectador a ver entre 15 a 20 segundos de publicidade sem opção de saltar. Existe também a possibilidade do anúncio bumper, um vídeo curto de seis segundos que não tem opção de passar à frente e a do anúncio overlay, uma imagem ou um texto exibido ao comprido na parte inferior do vídeo.
Quanto é que o autor dos vídeos vai ganhar com cada um destes anúncios depende de vários critérios. Conteúdos que contenham linguagem ofensiva, conteúdos para adultos, violência e outros temas podem limitar severamente a quantidade de dinheiro que um criador pode receber.
Além disso, é possível criar um clube exclusivo, com conteúdos só para assinantes, que pagam uma mensalidade para ter acesso aos mesmos. Para isso, o seu canal tem de ter no mínimo mais de mil subscritores, ter mais de 18 anos e os vídeos não podem estar classificados pela plataforma como “conteúdo para crianças”. Alguns dos maiores criadores fazem mais de 40 mil euros por mês só com dinheiro pago diretamente pelos seus subscritores.
À semelhança dos influencers, também podem fazer parcerias com marcas para promover os seus produtos e, dessa forma, ganhar ainda mais dinheiro com publicidade, mas sem ter de dividir as receitas com o Youtube e sem estar limitado pelas restrições que a empresa impõe.
Dropshipping
E se lhe disserem que é possível fazer dinheiro a vender um produto sem ter de o ver ao vivo? Esta é uma das maiores tendências dos últimos anos no mundo do comércio online e há quem ganhe enormes quantidades de dinheiro com este método.
Mas, afinal, o que é o dropshipping? No fundo, é cumprir a função de intermediário entre um vendedor grossista e o cliente final.
Para começar, você precisa de encontrar um produto que seja vendido por atacado em plataformas como Alibaba, Amazon ou a Etsy. Depois, trate de criar uma conta numa plataforma como a Shopify, Wix ou Jumpseller, onde pode vender esse mesmo produto a um preço mais elevado que o original. Cabe a si fazer o marketing do seu produto e torná-lo mais atrativo para o cliente final do que era antes. E há várias formas de o fazer: desde fotografias que tornem o produto mais apetecível a entregas personalizadas com o nome e a imagem da sua marca.
Este processo faz com que tenha pouco controlo sobre a qualidade do produto que envia para os seus clientes, mas permite-lhe poupar muito em questões logísticas, uma vez que não tem de se preocupar com a produção, armazenamento e envio do produto.
Sempre que um cliente tentar comprar um dos seus produtos, o seu fornecedor recebe o pedido e envia-o diretamente para o cliente final.
De acordo com a plataforma de gestão de comércio digital BlueCart, o rendimento desta ocupação varia de acordo com a capacidade de encontrar um produto com uma elevada margem de lucro. Para a maioria dos utilizadores, esta varia entre 20% a 30%, acabando por poder gerar rendimentos entre os mil e os cinco mil euros por mês.
Apesar de ser um negócio altamente competitivo, com os vários vendedores em constante busca pelos produtos que têm as melhores margens, é possível fazer perto de 100 mil euros por ano, de acordo com os dados Shopify.
Blogues
Da mesma forma, os influencers podem utilizar os seus blogues e sites para criar formas alternativas de colaboração com as marcas, aumentando ainda mais as suas fontes de rendimento. As publicações pagas em blogs e websites permitem aos criadores de conteúdos partilharem informações sobre as marcas que os patrocinam e explicar de forma mais detalhada alguns produtos.
Além disso, os bloggers conseguem garantir algum rendimento do tráfego que conseguem nas suas páginas, com a colocação de anúncios em banners. Quanto maior for o tráfego que um blogue conseguir maior é o rendimento potencial que um criador pode receber.
Testes de aplicações e sites
Não sabe desenvolver aplicações ou sites? Não se preocupe, pode ganhar dinheiro apenas ao testar o funcionamento de sites e aplicações em plataformas como a UserTesting. Aqui a sua opinião é paga e não precisa de sair de casa para o fazer. De forma semelhante, pode responder a questionários online em sites como o Swagbucks ou o Branded Surveys.
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