Avançar para o conteúdo principal

Aérotrain, o comboio de alta velocidade que não avançou para a comercialização



 O TGV, que significa Train à Grande Vitesse, é o mais conhecido comboio de alta velocidade e o que está em funcionamento na Europa, no entanto, este não foi o único projecto do género. Também desenvolvido na França, o Aérotrain seria o comboio do futuro, considerado um hovertrain, pois é um comboio “sem rodas”.


O Aérotrain foi concebido pelo engenheiro aeronáutico e cientista Jean Bertin, nos anos 60, que começou com a ideia de silenciar os motores de avião, em conjunto com o seu colega Louis Duthion. Com o desenvolvimento do projecto, Bertin e a sua equipa descobriram o “efeito solo” e pensou aplica-lo nos comboios.


Bertin era um grande inventor e fundou a Bertin & Co., posteriormente Bertin Technologies, em 1956, e ao longo de 20 anos registou mais de 3.000 patentes. Com essa experiência, ele achava que conseguia ter sucesso onde os outros falharam. A ideia de Bertin seria uma espécie de hovercraft que levitava num único carril, aplicando assim o “efeito solo”, ao contrário dos comboios que levitam por campo magnético. O projecto foi elaborado em conjunto com a Aeroglide Systems.


Foram construídos diversos modelos à escala, que foram demonstrados em Paris o que atraiu o governo para apoiar o projecto, tendo recebido os fundos em 1966, onde iniciou a construção de uma pista de testes com 6,7 quilómetros em Gometz-le-Châtel, em Essonne.


O primeiro protótipo do Aérotrain foi construído em 1965 e sentava apenas seis pessoas, no entanto, conseguiu atingir os 200 km/h e, em 1967 Bertin aplicou um reactor e conseguiu atingir os 345 km/h. Pouco tempo depois, em 1969, foi construído o segundo protótipo, que conseguiu alcançar os 422 km/h, equipado com um reactor da Pratt & Whitney.


Em 1977, o projecto foi cancelado, fazendo com que todas as infraestruturas, edifícios e os protótipos fossem abandonados


Em Julho de 1969, foi criada uma segunda pista de testes, esta era elevada do solo com uma diferença de cinco metros e com vários pilares em betão, em Orléans, com cerca de 18 quilómetros. Os primeiros testes foram efectuados com sucesso e esperava-se que a construção da linha continuasse até Paris. Bertin construiu um terceiro protótipo, o I80, que conseguiu atingir os 430 km/h, batendo o recorde de velocidade de comboios. Este novo Aérotrain poderia sentar 80 pessoas e circular confortavelmente a 250 km/h. Cerca de 3.000 pessoas foram utilizadas para os testes de alta velocidade, como passageiros.

No entanto, a burocracia do governo francês era elevada pois criava um grande desafio para o sistema ferroviário francês. Posteriormente, em Julho de 1974, o novo governo francês cortou os apoios para o Aérotrain, a favor do TGV e, em 1975 Bertin faleceu. Logo de seguida, em 1977, o projecto foi cancelado, fazendo com que todas as infraestruturas, edifícios e os protótipos fossem abandonados.


Os exemplares construídos ficaram anos abandonados num armazém e dois deles foram destruídos por vários incêndios criminosos, em 1991 e 1992, fazendo com que hoje exista apenas um exemplar, que costuma estar presente em exposições e está ao cuidado de um restaurador de veículos militares. As linhas construídas ainda hoje existem, porém algumas partes foram desmanteladas para expansões urbanas.


Ao todo quatro protótipos foram construídos. O Aérotrain 01 é um modelo com ½ da escala, equipado com um motor de avião de 260cv, posteriormente substituído por um motor a jacto Turbomeca Marboré. O Aérotrain 02, que é o exemplar que existe hoje, estava equipado com um motor Pratt & Whitney JT12. O Aérotrain S44 era já um protótipo real, ou seja, já podia sentar passageiros, e estava equipado com um motor linear da Merlin-Gérin. Este foi destruído no incêndio em 1991, em Gometz. Por último, o Aérotrain I80, o exemplar que bateu o recorde de velocidade, estava equipado com dois motores Turbomeca Turmo III E3, com 1.610cv cada. Para atingir o recorde de velocidade, estes motores foram substituídos por um motor JT8D da Pratt & Whitney. Este foi o protótipo destruído no incêndio em 1992, em Chevilly.


Um quinto protótipo foi construído nos EUA, pela Rohr Industries, para testes naquele país designado Urban Tracked Air Cushion Vehicle, que ainda existe hoje e está em exposição no Pueblo Railway Museum.


https://www.motor24.pt/motores/aerotrain-o-comboio-de-alta-velocidade-que-nao-avancou-para-a-comercializacao/1549749/

Comentários

Notícias mais vistas:

Motores a gasolina da BMW vão ter um pouco de motores Diesel

Os próximos motores a gasolina da BMW prometem menos consumos e emissões, mas mais potência, graças a uma tecnologia usada em motores Diesel. © BMW O fim anunciado dos motores a combustão parece ter sido grandemente exagerado — as novidades têm sido mais que muitas. É certo que a maioria delas são estratosféricas:  V12 ,  V16  e um  V8 biturbo capaz de fazer 10 000 rpm … As novidades não vão ficar por aí. Recentemente, demos a conhecer  uma nova geração de motores de quatro cilindros da Toyota,  com 1,5 l e 2,0 l de capacidade, que vão equipar inúmeros modelos do grupo dentro de poucos anos. Hoje damos a conhecer os planos da Fábrica de Motores da Baviera — a BMW. Recordamos que o construtor foi dos poucos que não marcou no calendário um «dia» para acabar com os motores de combustão interna. Pelo contrário, comprometeu-se a continuar a investir no seu desenvolvimento. O que está a BMW a desenvolver? Agora, graças ao registo de patentes (reveladas pela  Auto Motor und Sport ), sabemos o

Saiba como uma pasta de dentes pode evitar a reprovação na inspeção automóvel

 Uma pasta de dentes pode evitar a reprovação do seu veículo na inspeção automóvel e pode ajudá-lo a poupar centenas de euros O dia da inspeção automóvel é um dos momentos mais temidos pelos condutores e há quem vá juntando algumas poupanças ao longo do ano para prevenir qualquer eventualidade. Os proprietários dos veículos que registam anomalias graves na inspeção já sabem que terão de pagar um valor avultado, mas há carros que reprovam na inspeção por força de pequenos problemas que podem ser resolvidos através de receitas caseiras, ajudando-o a poupar centenas de euros. São vários os carros que circulam na estrada com os faróis baços. A elevada exposição ao sol, as chuvas, as poeiras e a poluição são os principais fatores que contribuem para que os faróis dos automóveis fiquem amarelados. Para além de conferirem ao veículo um aspeto descuidado e envelhecido, podem pôr em causa a visibilidade durante a noite e comprometer a sua segurança. É devido a este último fator que os faróis ba

A falsa promessa dos híbridos plug-in

  Os veículos híbridos plug-in (PHEV) consomem mais combustível e emitem mais dióxido de carbono do que inicialmente previsto. Dados recolhidos por mais de 600 mil dispositivos em carros e carrinhas novos revelam um cenário real desfasado dos resultados padronizados obtidos em laboratório. À medida que as políticas da União Europeia se viram para alternativas de mobilidade suave e mais verde, impõe-se a questão: os veículos híbridos são, realmente, melhores para o ambiente? Por  Inês Moura Pinto No caminho para a neutralidade climática na União Europeia (UE) - apontada para 2050 - o Pacto Ecológico Europeu exige uma redução em 90% da emissão de Gases com Efeito de Estufa (GEE) dos transportes, em comparação com os valores de 1990. Neste momento, os transportes são responsáveis por cerca de um quinto destas emissões na UE. E dentro desta fração, cerca de 70% devem-se a veículos leves (de passageiros e comerciais). Uma das ferramentas para atingir esta meta é a regulação da emissão de di