O objetivo é que a ferramenta construa um perfil físico através da análise de material genético recolhido numa amostra de ADN
ACorsight AI, uma subsidiária de reconhecimento facial da empresa israelita Cortica, especializada em Inteligência Artificial, quer desenvolver uma solução que utiliza amostras de ácido desoxirribonucleico (ADN), elemento que contém as informações genéticas de um ser, para recriar o rosto de alguém que depois pode ser identificado através de um sistema de reconhecimento facial.
“DNA to Face” (ADN para Face, em tradução livre) é o nome do produto apresentado por Robert Watts, diretor executivo da Corsight, e Ofer Ronen, vice-presidente da empresa, na conferência Imperial Capital Investors, realizada em Nova Iorque, EUA, em dezembro do ano passado. De acordo com a publicação MIT Technology Review, a ferramenta constrói um perfil físico ao analisar material genético recolhido numa amostra de ADN, e a empresa está focada em desenvolvê-la para forças governamentais e policiais identificarem indivíduos.
“Não estamos a falar de momento com a imprensa enquanto os detalhes do que estamos a fazer são confidenciais da empresa”, respondeu a Corsight quando contactada para comentar os planos apresentados. No entanto, ainda não há provas sobre a capacidade real do sistema em funcionar ou até mesmo da sua viabilidade.
Uma tecnologia em construção
Para desenvolver este novo sistema de reconhecimento facial, são precisos estudos e dados científicos que, de acordo com Dzemila Sero, investigadora do Instituto Nacional de Pesquisa em Matemática e Ciência da Computação dos Países Baixos – o Computational Imaging Group do Centrum Wiskunde & Informatica –, ainda não estão suficientemente desenvolvidos, encontrando-se em falta estudos sobre genes necessários para produzir representações precisas a partir de amostras de ADN. Além disso, não só os genes individuais não afetam tanto a aparência do rosto, como o meio ambiente e o envelhecimento são dois fatores que provocam efeitos substanciais, nos rostos, que não podem ser identificados através do ADN.
A investigadora, que utilizou o conceito inverso e combinou fotografias 3D com amostras de ADN afirmou, em comunicado à publicação MIT Technology Review, que estes métodos e sistemas devem ser utilizados com cautela “ao levantarem riscos de disparidades raciais na justiça criminal” e ao “prejudicarem a confiança e o apoio à pesquisa genómica”, o que “não iria gerar nenhum benefício social”.
Esta ideia não é, no entanto, nova. A Human Longevity afirmou ter usado ADN para recriar modelos de rostos em 2017, e a Parabon NanoLabs é conhecida por fornecer representações físicas de pessoas, feitas através de amostras de ADN, à polícia. Snapshot é como se chama a linha de produtos desta última empresa e que inclui genealogia genética e renderizações em 3D dos rostos. Gerados por computador, os compostos têm também um conjunto de características fenotípicas, como a cor dos olhos ou da pele, que recebem uma pontuação de confiança. Por exemplo, um composto pode dizer que “há 80% de possibilidade de a pessoa procurada ter olhos azuis”. Além disso, a estas composições também se podem adicionar outros fatores não genéticos, como o peso e a idade.
A Parabon afirmou que o seu software já resolveu mais de 200 casos dos mais de 600 nos quais já trabalhou, embora a maioria seja resolvida com genealogia genética e não com compostos de análise. Esta tecnologia não incorpora reconhecimento facial com inteligência artificial e a empresa alertou que, por isso, os seus clientes não devem usar as imagens geradas a partir de amostras de ADN como entrada em sistemas de reconhecimento facial. O Snapshot “não informa o número exato de milímetros entre os olhos ou a proporção entre os olhos, o nariz e a boca” e “apenas prevê a forma geral do rosto de alguém, o que impossibilita os algoritmos de reconhecimento facial de fornecerem resultados precisos”, disse Ellen McRae Greytak, diretora de bioinformática da empresa, em comunicado à publicação MIT Technology Review.
No ano passado, a Corsight também melhorou os recursos e a precisão do seu sistema de reconhecimento facial, a que chamou de “sistema de reconhecimento facial mais ético para condições altamente desafiadoras”, passando a identificar indivíduos com uma máscara no rosto, incluindo máscaras de esqui. Segundou o grupo IPVM, a probabilidade deste sistema reconhecer o rosto de alguém com uma máscara de esqui era de 65%, mas este processo era dificultado em situações de má iluminação e maus ângulos, ou quando os indivíduos eram mulheres, indivíduos mais velhos ou muito jovens, ou indivíduos com a pele mais escura.
Comentários
Enviar um comentário