Avançar para o conteúdo principal

EUA pressionam Portugal a ceder blindados à Ucrânia



 Pentágono insiste com Lisboa para que envie para Kiev um conjunto de blindados M113A. O Governo português já enviou para a Ucrânia quatro veículos de patrulhamento da GNR.


O Pentágono (Departamento de Defesa dos EUA) tem vindo a insistir com o Governo português para enviar para a Ucrânia, no âmbito da ajuda dos Estados-membros da NATO a este país para combater a invasão russa, um conjunto de blindados de lagartas do modelo M113A, de fabrico norte-americano, que se encontram no Campo Militar de Santa Margarida há quase 30 anos ao serviço do Exército nacional – revelou ao Nascer do SOL fonte do Ministério da Defesa.


As viaturas em causa foram adquiridas pelo Exército português em segunda mão aos EUA, a preços reduzidos, aquando da diminuição do efetivo militar norte-americano estacionado na Europa na década de 1990, no âmbito do desanuviamento que se seguiu ao fim da Guerra Fria com a queda do Muro de Berlim (1989) e a implosão da União Soviética (1991) – de que resultou a independência tanto das repúblicas bálticas (Estónia, Letónia e Lituânia, hoje membros da NATO e da União Europeia) como da Ucrânia em relação à Federação Rússa.


Sendo mais vantajoso para o Pentágono deixar na Europa esses veículos, então já em vias de obsolescência tecnológica, em vez de os transportar de volta para os EUA, Portugal, por valores pouco mais do que simbólicos, ficou com 104 M113A2 provenientes dos Países Baixos e 50 M113A1 que se encontravam na Alemanha (com a condição de não os poder revender sem autorização prévia dos norte-americanos).


O Governo de Lisboa tem vindo a protelar a resposta à solicitação de Washington, mesmo depois da reunião ocorrida esta semana na base militar norte-americana de Ramstein, na Alemanha, entre o secretário de Defesa dos EUA, Lloyd Austin, e responsáveis castrenses de cerca de 40 países, sob convocatória do Pentágono, com o objetivo de discutir um plano de ajudas às forças armadas ucranianas (e na qual a ministra portuguesa da Defesa, Helena Carreiras, tendo testado positivo à covid-19, participou à distância por vídeo).


Portugal já forneceu à Ucrânia, há algumas semanas, uma quantidade significativa (para as Forças Armadas nacionais) de munições e morteiros, que se encontram atualmente em trânsito pela Polónia, mas os blindados de lagartas (que não são carros de combate) são o mais próximo que o país tem para poder corresponder ao pedido de equipamento militar que o Presidente ucraniano, Volodyimir Zelensky, fez no seu discurso à Assembleia da República, via vídeo, na semana passada, uma vez que o Exército português não dispõe do material pesado ofensivo que foi solicitado.


Na reunião de Ramstein, os norte-americanos sustentaram a tese de que o conflito russo/ucraniano ameaça arrastar-se durante meses, ou até anos, pelo que os países que se dispõem a ajudar militarmente Kiev a resistir à agressão ordenada por Vladimir Putin se devem preparar para manter esse auxílio de forma prolongada.


Caso o Governo português corresponda ao pedido do Pentágono, estará ainda por decidir quantos blindados de lagartas irá dispensar do lote superior a centena e meia de que dispõe.


As autoridades portuguesas ordenaram também já à GNR que disponibilizasse à Ucrânia quatro  dos seus veículos blindados Iveco M 40.12 WM/P, de fabrico original italiano, que esta força de segurança adaptou e melhorou quando interveio no Iraque como elemento de estabilização policial, ao lado dos exércitos norte-americano e britânico que invadiram e ocuparam o país em 2003.


Na ocasião, o Presidente Jorge Sampaio opôs-se a que o Governo de José Manuel Durão Barroso enviasse para o Iraque elementos do exército português para se juntarem às forças invasoras, e a solução encontrada foi o envio dos elementos da GNR, que para o efeito adquiriu as Iveco, as quais têm estado paradas em Portugal após o fim dessa intervenção e entretanto já foram enviadas para a Ucrânia. Trata-se, porém, de viaturas de patrulhamento e escolta em situações de guerra de baixa intensidade, que não satisfazem as atuais necessidades do exército ucraniano perante o quadro de invasão que está a enfrentar.


Portugal vai reabrir embaixada 


Entretanto, o Nascer do SOL apurou junto de fonte militar que a embaixada portuguesa em Kiev reabrirá em breve, depois de ter sido encerrada (juntamente com outras representações diplomáticas na capital ucraniana) no seguimento da fase inicial da invasão russa, que falhou na tentativa de conquistar a cidade e acabou por recuar (concentrando-se agora no leste do país).


A segurança da embaixada de Portugal estará a cargo de um destacamento do GOE (Grupo de Operações Especiais, unidade antiterrorista da PSP), mas o Exército ainda não nomeou o oficial que irá chefiá-lo


Felícia Cabrita, felicia.cabrita@sol.pt

EUA pressionam Portugal a ceder blindados à Ucrânia (sapo.pt)


Comentários

Notícias mais vistas:

Diarreia legislativa

© DR  As mais de 150 alterações ao Código do Trabalho, no âmbito da Agenda para o Trabalho Digno, foram aprovadas esta sexta-feira pelo Parlamento, em votação final. O texto global apenas contou com os votos favoráveis da maioria absoluta socialista. PCP, BE e IL votaram contra, PSD, Chega, Livre e PAN abstiveram-se. Esta diarréia legislativa não só "passaram ao lado da concertação Social", como também "terão um profundo impacto negativo na competitividade das empresas nacionais, caso venham a ser implementadas Patrões vão falar com Marcelo para travar Agenda para o Trabalho Digno (dinheirovivo.pt)

OE2026: 10 medidas com impacto (in)direto na carteira dos portugueses

  O Governo entregou e apresentou a proposta de Orçamento do Estado para o próximo ano, mas com poucas surpresas. As mudanças nos escalões de IRS já tinham sido anunciadas, bem como o aumento nas pensões. Ainda assim, há novidades nos impostos, alargamento de isenções, fim de contribuições extraordinárias e mais despesa com Defesa, 2026 vai ser “um ano orçamental exigente” e a margem disponível para deslizes está “próxima de zero”. A afirmação em jeito de aviso pertence ao ministro das Finanças, Joaquim Miranda Sarmento, e foi proferida na  apresentação da proposta de Orçamento do Estado  para o próximo ano. O excedente é de cerca de 230 milhões de euros, pelo que se o país não quer voltar a entrar num défice, a margem para mais medidas é "próxima de zero". "Os números são o que são, se não tivéssemos os empréstimos do PRR não estaríamos a fazer alguns projetos", apontou, acrescentando que não vai discutir o mérito da decisão tomada relativamente à 'bazuca europ...

Governo altera regras de ISV para híbridos plug-in

  Híbridos plug-in vão continuar a pagar menos ISV, mas o Governo alterou as regras para evitar agravamento fiscal. Saiba o que está em causa. Atualmente, os  híbridos  plug-in  (que ligam à tomada) têm uma redução de 75% no ISV (Imposto Sobre Veículos), caso tenham uma autonomia mínima elétrica de 50 km e emissões de dióxido de carbono oficiais inferiores a 50 g/km. A partir de 2026, o Governo mantém a redução de 75% do ISV, mas vai aumentar o limite de 50 g/km de CO 2  para 80 g/km, de acordo com o que foi divulgado pela ACAP (Associação Automóvel de Portugal) ao  Expresso . © Volvo A razão para elevar o limite mínimo de emissões deve-se à entrada em vigor, a partir de janeiro de 2026, da norma Euro 6e-bis. Entre várias alterações, a norma vai alterar também a forma como são certificados os consumos e emissões dos híbridos  plug-in , refletindo melhor o uso real destes veículos. Resultado? A maioria dos valores de CO 2  homologados vão subir. Ca...