Avançar para o conteúdo principal

"É como sete bombas atómicas por segundo." Calor acumulado nos oceanos bate novo recorde


© Daniel Foster/Flickr


 Tiago Pitta e Cunha, criador da Fundação Oceano Azul, avisa que está em causa a sobrevivência da vida marinha, a existência de cada vez mais fenómenos meteorológicos extremos e até a própria subsistência do ser humano.


O calor acumulado nos oceanos bateu novos recordes pelo sexto ano consecutivo, indica uma investigação com dados até 2021, publicada, esta segunda-feira, na revista científica "Advances in Atmospheric Sciences".


Os autores do trabalho, realizado por 23 investigadores de 14 institutos de vários países do mundo, alertam que as temperaturas no mar bateram recordes pelo sexto ano consecutivo, e lembram que são resultados do final do primeiro ano da Década das Nações Unidas da Ciência Oceânica para o Desenvolvimento Sustentável (2021-2030).



O relatório resume dois conjuntos de dados internacionais, do Instituto de Física Atmosférica (IAP, na sigla original), da Academia Chinesa de Ciências, e dos Centros Nacionais de Informação Ambiental, da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA, na sigla original), dos Estados Unidos, que analisam observações sobre o calor nos oceanos e o seu impacto desde a década de 1950.


O aquecimento dos oceanos "está a aumentar incessantemente, a nível global, e este é um indicador primário da mudança climática induzida pela humanidade", disse um dos autores do documento, Kevin Trenberth, do Centro Nacional de Investigação Atmosférica do Colorado, Estados Unidos.


No último ano, os investigadores calcularam que os primeiros 2.000 metros de profundidade em todos os oceanos absorveram mais 14 zettajoules de energia sob a forma de calor do que em 2020, o equivalente a 145 vezes a produção mundial de eletricidade em 2020.


Toda a energia que os seres humanos utilizam em todo o mundo num único ano é cerca de metade de um zettajoule (um zettajoule é um joule, unidade para medir energia, seguido de 21 zeros).


Além de calor, os oceanos absorvem atualmente entre 20% e 30% das emissões de dióxido de carbono produzidas pela humanidade, levando à acidificação dos oceanos, disse Lijing Cheng (IAP), acrescentando que "o aquecimento dos oceanos reduz a eficiência da absorção de carbono e deixa mais dióxido de carbono no ar".


Os investigadores também avaliaram o papel de diferentes variações naturais, tais como as fases de aquecimento e arrefecimento conhecidas como "El Niño" e "La Niña", que afetam grandemente as mudanças de temperatura regionais.


Segundo Lijing Cheng, as análises regionais mostram que o forte e significativo aquecimento dos oceanos desde o final dos anos 1950 ocorre em todo o lado e que as ondas de calor marinhas regionais têm enormes impactos na vida marinha.


De acordo com Lijing Cheng o estudo mostra também que o padrão de aquecimento dos oceanos é o resultado de mudanças na composição atmosférica relacionadas com a atividade humana.


"À medida que os oceanos aquecem, a água expande-se e o nível do mar sobe. Os oceanos mais quentes também sobrecarregam os sistemas climáticos, criando tempestades e furacões mais poderosos, bem como aumentando a precipitação e o risco de inundações", alertou.


<strong>"Oceanos são o super-herói esquecido das alterações climáticas"</strong>

Tiago Pitta e Cunha, criador da Fundação Oceano Azul e antigo coordenador da Comissão Estratégica dos Oceanos, afirma que se está a criar uma "tempestade perfeita" para destruição.


Em declarações à TSF, o vencedor do Prémio Pessoa de 2021 refere que o novo recorde de calor acumulado nos oceanos é a pior notícia que podia receber. "Mais de 90% do excesso de calor que o aquecimento global está a gerar no planeta é absorvido pelos oceanos. Nós só estamos vivos ainda e as nossas sociedades humanas só são viáveis porque esse calor está a ser absorvido pelos oceanos. A questão é saber até quando é que os oceanos vão conseguir", indica. "Neste momento, é o equivalente a sete bombas atómicas por segundo durante 24 horas em 365 dias por ano."


Tiago Pitta e Cunha defende, em declarações à TSF, políticas de ação climática para os oceanos


O especialista alerta para os três grandes problemas causados por esta realidade: "o impacto na vida dos seres marinhos" (nota, por exemplo, que, no espaço de 25 anos, desapareceram quase 50% dos corais do planeta); os "fenómenos atmosféricos extremos" (como furacões, depressões e ciclones), que põem em causa "a salvaguarda da vida humana já", e, a longo prazo, o "degelo dos polos" e "o aumento no nível do mar".


"Estamos aqui numa tempestade perfeita para chegarmos ao fim do século com um enorme aumento da temperatura que neste momento não é calculável pelos cientistas e que terá consequências imprevisíveis, pela inundação das bacias hidrográficas do planeta, onde produzimos a maior parte da alimentação dos seres humanos", sublinha.


Para Tiago Pitta e Cunha, os oceanos são "o super-herói esquecido e ignorado" das alterações climáticas, pelo que é preciso criar "um programa de combate às alterações climáticas do oceano propriamente dito".


https://www.tsf.pt/mundo/amp/e-como-sete-bombas-atomicas-por-segundo-calor-acumulado-nos-oceanos-bate-novo-recorde-14479735.html

Comentários

Notícias mais vistas:

Esta cidade tem casas à venda por 12.000 euros, procura empreendedores e dá cheques bebé de 1.000 euros. Melhor, fica a duas horas de Portugal

 Herreruela de Oropesa, uma pequena cidade em Espanha, a apenas duas horas de carro da fronteira com Portugal, está à procura de novos moradores para impulsionar sua economia e mercado de trabalho. Com apenas 317 habitantes, a cidade está inscrita no Projeto Holapueblo, uma iniciativa promovida pela Ikea, Redeia e AlmaNatura, que visa incentivar a chegada de novos residentes por meio do empreendedorismo. Para atrair interessados, a autarquia local oferece benefícios como arrendamento acessível, com valores médios entre 200 e 300 euros por mês. Além disso, a aquisição de imóveis na região varia entre 12.000 e 40.000 euros. Novas famílias podem beneficiar de incentivos financeiros, como um cheque bebé de 1.000 euros para cada novo nascimento e um vale-creche que cobre os custos da educação infantil. Além das vantagens para famílias, Herreruela de Oropesa promove incentivos fiscais para novos moradores, incluindo descontos no Imposto Predial e Territorial Urbano (IBI) e benefícios par...

"A NATO morreu porque não há vínculo transatlântico"

 O general Luís Valença Pinto considera que “neste momento a NATO morreu” uma vez que “não há vínculo transatlântico” entre a atual administração norte-americana de Donald Trump e as nações europeias, que devem fazer “um planeamento de Defesa”. “Na minha opinião, neste momento, a menos que as coisas mudem drasticamente, a NATO morreu, porque não há vínculo transatlântico. Como é que há vínculo transatlântico com uma pessoa que diz as coisas que o senhor Trump diz? Que o senhor Vance veio aqui à Europa dizer? O que o secretário da Defesa veio aqui à Europa dizer? Não há”, defendeu o general Valença Pinto. Em declarações à agência Lusa, o antigo chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas, entre 2006 e 2011, considerou que, atualmente, ninguém “pode assumir como tranquilo” que o artigo 5.º do Tratado do Atlântico Norte – que estabelece que um ataque contra um dos países-membros da NATO é um ataque contra todos - “está lá para ser acionado”. Este é um dos dois artigos que o gener...

Armazenamento holográfico

 Esta técnica de armazenamento de alta capacidade pode ser uma das respostas para a crescente produção de dados a nível mundial Quando pensa em hologramas provavelmente associa o conceito a uma forma futurista de comunicação e que irá permitir uma maior proximidade entre pessoas através da internet. Mas o conceito de holograma (que na prática é uma técnica de registo de padrões de interferência de luz) permite que seja explorado noutros segmentos, como o do armazenamento de dados de alta capacidade. A ideia de criar unidades de armazenamento holográficas não é nova – o conceito surgiu na década de 1960 –, mas está a ganhar nova vida graças aos avanços tecnológicos feitos em áreas como os sensores de imagem, lasers e algoritmos de Inteligência Artificial. Como se guardam dados num holograma? Primeiro, a informação que queremos preservar é codificada numa imagem 2D. Depois, é emitido um raio laser que é passado por um divisor, que cria um feixe de referência (no seu estado original) ...