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Sabia que Lisboa não é a capital oficial de Portugal?


Lisboa é a capital de Portugal há mais de 700 anos, mas nunca foi declarada oficialmente como tal. Descubra quais foram as outras capitais do país e por que Coimbra ainda mantém o título em termos históricos.

Quando pensamos em Portugal, uma das primeiras imagens que nos vem à cabeça é a de Lisboa, a bela e vibrante cidade à beira do Tejo, cheia de monumentos, cultura e história. Lisboa é, sem dúvida, a capital de Portugal aos olhos de todos, mas sabia que, em termos oficiais, esse título pertence a outra cidade?

Pois é, parece incrível, mas é verdade: Lisboa nunca foi nomeada oficialmente como capital de Portugal por nenhum documento ou lei. Essa decisão foi tomada pelo rei D. Afonso III em 1255, quando se mudou com a sua corte de Coimbra para Lisboa, que era a cidade mais importante e estratégica do país na época. No entanto, essa mudança nunca foi formalizada e assim ficou até aos dias de hoje.

Isso significa que Coimbra ainda é a capital de Portugal em termos históricos e documentais, pois foi a única cidade que recebeu esse título por nomeação de D. Afonso Henriques, o primeiro rei de Portugal. Mas como é que isso aconteceu? E quais foram as outras capitais que Portugal já teve ao longo da sua história?

Coimbra
Coimbra

As primeiras capitais: Guimarães e Coimbra

A história de Portugal começa no século XII, quando o Condado Portucalense se tornou independente do Reino de Leão e Castela, graças à luta de D. Afonso Henriques contra os mouros e contra a sua própria mãe, D. Teresa.

O primeiro rei de Portugal nasceu em Guimarães, a cidade que é considerada o berço da nação e que foi a primeira capital do condado.

No entanto, Guimarães não durou muito como capital, pois D. Afonso Henriques decidiu mudar-se para Coimbra em 1139, depois de ter sido aclamado rei pelos seus nobres na Batalha de Ourique.

Coimbra era uma cidade mais antiga e mais central, que tinha sido reconquistada aos mouros em 1064 pelo conde D. Sesnando. Além disso, Coimbra tinha uma importância religiosa e cultural, pois albergava o Mosteiro de Santa Cruz, onde estavam sepultados os pais do rei.

Coimbra
Coimbra

Foi em Coimbra que D. Afonso Henriques fez o seu testamento em 1179, onde declarou Coimbra como capital do Reino de Portugal e onde determinou que os seus sucessores deveriam ser sepultados no Mosteiro de Santa Cruz. Assim, Coimbra tornou-se oficialmente a capital de Portugal e assim permaneceu durante os reinados dos primeiros cinco reis da dinastia afonsina.

A mudança para Lisboa: uma capital sem documento

No século XIII, Portugal já tinha alargado as suas fronteiras até ao Algarve e tinha iniciado as suas relações comerciais com outros países europeus e africanos. Lisboa era a cidade mais próspera e populosa do reino, graças à sua localização privilegiada no estuário do Tejo e ao seu porto natural que facilitava o comércio com o exterior.

Foi por isso que o rei D. Afonso III resolveu mudar-se com a sua corte de Coimbra para Lisboa em 1255, seguindo o exemplo do seu avô materno, o rei D. Afonso X de Castela, que tinha feito o mesmo com Toledo e Sevilha. Lisboa tornou-se assim a nova capital de Portugal, mas sem nenhum documento ou lei que o confirmasse.

Essa decisão não foi contestada nem questionada pelos nobres, pelos clérigos ou pelo povo, que reconheceram a superioridade e a conveniência de Lisboa como centro do poder e da riqueza. Lisboa passou a ser a capital de facto de Portugal e assim se manteve durante os séculos seguintes, sem que ninguém se lembrasse de Coimbra como tal.

Mas por que é que Lisboa nunca foi declarada oficialmente como capital de Portugal? Não há uma resposta definitiva para esta questão, mas há algumas hipóteses possíveis:

  • Uma delas é que não havia necessidade de formalizar algo que era evidente e consensual para todos. Lisboa era a cidade mais importante e próspera do país, onde se concentravam os poderes político, económico e cultural. Ninguém contestava o seu estatuto de capital e ninguém se lembrava de Coimbra como tal.
  • Outra é que não havia um órgão legislativo competente para fazer essa declaração. Na época medieval e moderna, Portugal era uma monarquia absoluta, onde o rei tinha todo o poder e não havia um parlamento representativo. O rei podia mudar a sua residência e a sua corte para onde quisesse, sem precisar de consultar ou informar ninguém. Só com a revolução liberal de 1820 é que surgiu uma constituição e um parlamento eleito, mas nessa altura já Lisboa era a capital há mais de 500 anos.
  • Outra ainda é que havia um respeito pela tradição e pela história. Coimbra tinha sido a primeira capital oficial de Portugal e tinha sido escolhida pelo fundador da nação, D. Afonso Henriques. Coimbra tinha também uma importância religiosa e cultural, pois era onde estavam sepultados os primeiros reis e onde funcionava a primeira universidade do país. Talvez por isso, os reis posteriores não quiseram desfazer o legado de Coimbra e preferiram manter o seu título de capital em termos históricos.

As capitais temporárias: Rio de Janeiro e Angra do Heroísmo

Lisboa continuou a ser a capital de facto de Portugal durante os séculos seguintes, mas houve duas ocasiões em que outras cidades assumiram esse papel de forma temporária, por motivos políticos e militares.

A primeira foi o Rio de Janeiro, a cidade brasileira onde se refugiou a família real portuguesa durante as invasões francesas de Napoleão Bonaparte, entre 1808 e 1821. Nessa época, o Brasil era ainda uma colónia de Portugal, mas tornou-se na sede do império português, com o rei D. João VI a governar a partir do outro lado do Atlântico. O Rio de Janeiro foi assim a capital de Portugal e do Brasil durante 13 anos, até à independência brasileira em 1822.

A segunda foi Angra do Heroísmo, a cidade açoriana que foi capital de facto por duas vezes: em 1580-1582, quando D. António I, o Prior do Crato, estabeleceu o seu governo contra Filipe II de Espanha, que tinha anexado Portugal à sua coroa; e em 1830-1833, quando D. Maria II se abrigou nesta cidade durante a guerra civil entre liberais e absolutistas, que opunha a rainha ao seu tio D. Miguel.

A situação atual: Lisboa é a capital de todos

Apesar destas interrupções, Lisboa nunca deixou de ser reconhecida como a capital de Portugal pela maioria dos portugueses e pelo resto do mundo. Lisboa é hoje uma cidade moderna e cosmopolita, que preserva o seu património histórico e cultural, mas que também se abre à inovação e à diversidade.

Lisboa é a sede do Presidente da República, do Governo, do Parlamento e dos principais órgãos de soberania. Lisboa é também o centro económico, financeiro, comercial e turístico do país. Lisboa é ainda uma cidade que acolhe eventos internacionais, como a Web Summit, o Rock in Rio ou a Eurovisão.

Lisboa é, enfim, a capital de todos os portugueses, que nela se reveem e se identificam. Mas isso não significa que Coimbra tenha perdido o seu lugar na história e na memória coletiva. Coimbra continua a ser uma cidade importante e prestigiada, sobretudo no campo da educação e da cultura. Coimbra continua a ser a cidade dos estudantes e dos poetas, que encanta com a sua beleza e tradição. 


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