Portugal detém uma longa e histórica ligação ao mar e ao oceano, pelo que era inevitável falar da importância dos marégrafos. Sabe que o nosso país possui o mais antigo marégrafo do mundo ainda em funcionamento?
Em Portugal dispomos de uma rede maregráfica vasta, sendo que neste artigo iremos explorar, essencialmente, o Marégrafo de Cascais, bem como um pouco do Marégrafo da Foz do Douro, também conhecido como Marégrafo da Cantareira ou Marégrafo do Porto.
Marégrafo de Cascais: o mais antigo do mundo ainda em funcionamento e em condições perfeitas!
O Marégrafo de Cascais foi construído e instalado em 1882 sobre um rochedo junto à fortaleza debruçada sobre a baía de Cascais. Foi o primeiro deste tipo a ser instalado em Portugal, sendo que 18 anos mais tarde foi deslocado uns 30 metros para a atual localização.
Neste período, fruto do grande interesse do rei D. Carlos pelo mar e pela ciência, Cascais tornou-se o “quartel-general” das primeiras campanhas oceanográficas portuguesas, inclusive com a instalação de um laboratório pioneiro de biologia marítima em Portugal, em 1896, no Paço Real de Cascais.
Este equipamento possui um sistema de medição elaborado por A. Borrel em 1877, em Paris, e é constituído por uma boia num poço, conectada a um relógio de alta precisão e a um cilindro horizontal. Desde há 134 anos que é obtido um registo gráfico das oscilações da boia.
Estes dados, ainda são, na atualidade, solicitados e consultados pelos cientistas nacionais e internacionais tais como o Permanent Service For Mean Sea Level (PSMSL) e o Instituto Geográfico Português (IGP).
Quais são as várias funções e usos de um marégrafo?
Por exemplo, os registos do Marégrafo de Cascais permitem a medição rigorosa da altitude das montanhas, do relevo cartográfico e elaborar o mapeamento do território submerso, útil para a entrada de um navio na barra de um estuário ou na aviação.
Estes registos são também fulcrais para a observação do nível médio do mar, determinação de movimentos verticais da crosta terrestre e previsão da subida do nível médio das águas do mar.
Estes dados permitiram calcular o nível médio das águas oceânicas na costa portuguesa, bem como o “Zero Hidrográfico”, um mínimo absoluto que nunca é ultrapassado na maré mais baixa nem nas condições mais extremas.
Os dados do Marégrafo de Cascais avaliam ainda o movimento vertical das massas oceânicas e continentais que na área de costa em Cascais já se traduzem numa subida do nível médio do mar de cerca de 20 centímetros.
“O que se regista aqui são as duas preia-mares e as duas baixa-mares diariamente. E este registo é feito consecutivamente durante os sete dias da semana. Ao fim dos sete dias o papel é retirado e colocado um novo papel e volta a registar mais 7 dias, ou seja é um registo contínuo ”, descreve José Campos.
“Aqui é bem notório, quando ocorrem as marés vivas, que são as marés de maior amplitude, temos que retirar a seta, porque esta bate em cima na praia-mar e na baixa-mar bate em baixo e parte o cabo. Isto acontece porque esses 20 cm vão repercutir-se em movimentos muito maiores, e o espaço e a amplitude para poder funcionar já não existe aqui”, acrescenta o perito.
Que curiosidades existem em torno do Marégrafo de Cascais?
- Quando ocorreu o tsunami que destruiu parcialmente a ilha de Samatra, na Indonésia, em 26 de dezembro de 2004, o Marégrafo de Cascais registou com absoluta precisão o fenómeno causado nos oceanos por este terramoto devastador.
- Um dos primeiros observatórios europeus que se empenhou no estudo das correntes e marés foi o Marégrafo de Cascais e hoje é o único que ainda funciona perfeitamente no mundo inteiro.
- A primeira Carta Corográfica de Portugal, na escala 1 para 100.000, foi elaborada a partir dos dados do Marégrafo de Cascais.
- O “Datum Altimétrico” (zero altimétrico, registado há mais de um século em Cascais) é, de acordo com definição em glossário da Associação Portuguesa dos Recursos Hídricos (APRH) o nível convencional a partir do qual se medem as altitudes ou as profundidades de uma região.
Alterações climáticas, subida do nível médio das águas do mar e a importância da preservação dos marégrafos
A subida global do nível médio das águas do mar, causado pelas alterações climáticas, coloca em risco a linha costeira ao gerar o seu recuo. Esta situação expõe algumas cidades a um enorme perigo, bem como as populações ribeirinhas que aí residem.
"Não há dúvida nenhuma que as alterações climáticas estão a aumentar o nível do mar. E os cientistas dizem também que em menos tempo irá subir muito mais”, avisa José Campos.
Neste sentido, os registos obtidos em tempo real pelo Marégrafo de Cascais, ou por outros Marégrafos como o do Porto (equipamento digital) e o de Lagos, são uma mais-valia para a permanente monitorização da variação do nível do mar, sendo que o de Cascais serve como referência para toda a costa portuguesa.
A Direção-Geral do Território (DGT) recolhe os dados sobre o nível médio do mar com interesse para a Ciência e partilha-os, há mais de 130 anos, com o serviço internacional localizado no Reino Unido que mede o nível global dos oceanos.
Sabe o que é um marégrafo? Portugal possui o mais antigo do mundo! (tempo.pt)
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