Atualmente, a produção de Hidrogénio a partir de fontes não renováveis continua a ser mais competitiva na ótica dos custos.
I. A importância do fator “custo” no vetor Hidrogénio Verde
Érecorrentemente assumido que o fator “custo” assume uma particular preponderância no atual contexto de transição energética.
De acordo com dados da International Energy Agency, colocar o planeta num rumo consequente com o nível 0, em média, de emissões líquidas de CO2 até 2050 requer um aumento substancial de ativos energéticos de base renovável – eólica, solar fotovoltaica, veículos elétricos e eletrolisadores.
É neste contexto que se insere o caso do Hidrogénio Verde, sabendo de antemão que tanto a escala como a disponibilidade deste vetor energético são função da disponibilidade de fontes energéticas de baixo carbono, mais uma vez com destaque para a eólica e a solar fotovoltaica.
Atualmente, a produção de Hidrogénio a partir de fontes não renováveis continua a ser mais competitiva na ótica dos custos, sabendo que o custo de produção do Hidrogénio Cinzento (reformação a vapor de gás natural ou carvão) pode chegar a valores de 1 USD/kg, em especial em regiões com preços mais reduzidos nos mercados do gás natural e do carvão, tais como Médio Oriente, Rússia ou América do Norte.
No curto-prazo, os custos de produção do Hidrogénio Verde estão situados num intervalo entre 2,5-6 USD/kg, sendo que, na maioria dos casos, tal significa que o Hidrogénio Verde ainda é significativamente mais caro do que o Hidrogénio Cinzento ou o Hidrogénio Azul (que utiliza o gás natural como fonte energética, sendo que o CO2 libertado é posteriormente capturado e armazenado no solo).
Em termos de longo prazo – grosso modo, com efeitos ao horizonte já mencionado de 2050 – os efeitos de escala e os spill-overs projetados por entidades como a International Energy Egency ou o World Energy Council permitem antecipar um cenário de aproximação à paridade ao nível dos custos de produção entre Hidrogénio Verde e o Hidrogénio com base em fontes não-renováveis, particularmente no que concerne às utilizações de perfil industrial.
Um indicador digno de realce, neste contexto, respeita ao tamanho médio da unidade dos novos eletrolisadores, que aumentou cerca de dez vezes, de 0,1 MWe em 2000–2009 para 1,0 MWe em 2015–2019, indicando uma alteração no estado de maturidade no mercado eletrolisadores, permitindo a passagem de projetos piloto e de demonstração a aplicações com escala comercial.
Para atingir estes cenários alvo será necessário adotar políticas públicas suficientemente atrativas (incluindo, porventura com destaque, para os planos fiscal e financeiro), sabendo que as componentes de custos – com destaque para o CAPEX, mas não marginalizando, de modo algum, o OPEX – são o fator decisivo para qualquer modelo de negócio e, ao mesmo tempo, o principal elemento indutor (ou dissuasor) à realização de investimentos neste setor.
II. Os “Levelized Costs of Hydrogen” (LCOH) e o respetivo cálculo
Neste contexto, sobretudo na comparação com os custos inerentes à produção de eletricidade, emerge o cálculo dos designados “Levelized Costs of Hydrogen” (LCOH), que incluem todos os custos de capital (CAPEX) e operacionais (OPEX) inerentes à produção de Hidrogénio – sendo de salientar que, por razões compreensíveis, os referidos LCOH não contemplam os custos associados ao transporte e armazenamento.
Tendo por base as orientações fornecidas pela International Energy Agency, poderão sintetizar-se na seguinte Tabela os passos necessários ao apuramento dos referidos LCOH – em termos que, neste caso desprovidos da simbologia formal, permitam uma compreensão mais acessível à generalidade dos leitores:
Passo 1
– Determinação de valores de CAPEX (construção e custos de equipamento)
– Determinação de valores de OPEX (OPEX fixo e variável; custos com combustíveis ou eletricidade; custos com CO2)
– Estabelecimento de dados sobre Produção Expectada
Passo 2
Soma de Valor Presente Líquido dos Custos Totais Espectados (CAPEX e OPEX), para cada ano (período “n”)
Passo 3
Soma de Valor Presente Líquido da Produção Total Expectada, para cada ano (período “n”)
Passo 4
Dividir Custos (2) pela Produção Líquida (3)
O cálculo destes LCOH é particularmente relevante para a aferição das vantagens competitivas de cada país e economia em relação à Economia do Hidrogénio Verde – sobretudo sabendo de antemão que, conforme está a suceder ao nível da estruturação do mercado português, não é a oferta a induzir a procura, mas a oferta e a procura a gerarem induções recíprocas.
Como tal, à semelhança do que já sucedeu com outros vetores energéticos, caberá ao setor privado um papel crucial na estruturação do mercado do Hidrogénio e ao setor público o papel não menos relevante de implementar, com especial rigor, os incentivos necessários à indução de oferta e procura – como, de algum modo, já tem vindo a suceder, em termos que, segundo se antecipa, venham a adquirir uma expressão ainda mais alargada, nomeadamente com a ampliação da rede de benefícios fiscais e tarifários aplicados a este vetor energético, para além da realização dos leilões.
https://eco.sapo.pt/opiniao/os-custos-de-producao-do-hidrogenio-verde/
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