No comboios de longo curso, a falha foi registada 83 vezes entre janeiro e 15 de outubro deste ano. Solução à vista só a partir de 2025.
Menor velocidade pode significar atrasos e indemnização dos passageiros.
Quando avaria o mecanismo de apoio ao condutor Convel (controlo automático de velocidade), o Alfa Pendular e o Intercidades não podem circular a mais de 100 km/h. Desde o início deste ano até meados de outubro a falha foi registada por 83 vezes. A situação só deverá ficar resolvida a partir de 2025, quando entrar em funcionamento uma solução compatível com sistemas nacionais e europeus de gestão de tráfego.
O problema implica que os dois comboios circulem a metade da velocidade máxima: 220 km/h para as automotoras do Alfa Pendular e 200 km/h para as locomotivas elétricas da série 5600, que rebocam as carruagens do Intercidades.
Desenvolvido pelos canadianos da Bombardier, o sistema Convel começou a funcionar em Portugal em 1991, através da instalação das antenas (nos comboios) para ler a informação enviada pelas balizas (colocadas entre os carris).
O equipamento é fundamental para a segurança a bordo. Por exemplo, se o comboio ultrapassar o sinal vermelho e o maquinista nada fizer é acionada automaticamente a frenagem.
Quando o Convel não está a funcionar, para não comprometer a segurança a bordo, o comboio não pode ultrapassar os 100 km/h se o maquinista estiver acompanhado por um agente de acompanhamento - como o revisor. Se o condutor estiver sozinho, a velocidade máxima desce para 60 km/h.
O sistema, entretanto, foi descontinuado pela Bombardier - entretanto comprada pela francesa Alstom. A CP garante que tem "mantido um acompanhamento de proximidade do serviço de manutenção e definido ações com vista à resolução dos problemas técnicos que têm sido detetados".
Ao fim de 30 anos de serviço, contudo, algumas peças não sobrevivem ao desgaste do tempo. "As avarias que se têm registado estão habitualmente ligadas a falhas em equipamentos eletrónicos, de natureza aleatória" e em que "nenhuma ação de manutenção evita a sua ocorrência", esclarece ao Dinheiro Vivo fonte oficial da CP.
Nos comboios de longo curso, a falha foi registada por 83 vezes entre 1 de janeiro e 15 de outubro, das quais 68 foram na frota do Alfa Pendular. No ano passado, registaram-se 107 avarias, 60 das quais no Alfa. Em 2019, houve 67 ocorrências, 35 delas no comboio Intercidades.
Quanto mais veloz for a linha, mais penalizadora é a situação. Numa viagem Porto-Lisboa, por exemplo, se o sistema avariar logo no início da viagem, é provável que o comboio chegue ao destino uma hora depois do previsto.
Por o atraso ser igual ou superior a uma hora e a responsabilidade ser da CP, o passageiro pode exigir o reembolso de 25% do valor do bilhete. A transportadora, no entanto, não consegue adiantar qual o montante atribuído em indemnizações devido à situação.
Luís Andrade Ferreira recorda-se de, em 2005, ter sido dado o primeiro alerta para futuras falhas do Convel. Nada de significativo acabou por se fazer.
"Não foi por falta de vontade da CP e da IP (gestora da rede ferroviária nacional). Desinvestiu-se na ferrovia e não houve atualizações do sistema. Teremos de conviver com a situação durante mais três ou quatro anos", lamenta o professor da faculdade de Engenharia da Universidade do Porto.
O fim das avarias do Convel depende da entrada em funcionamento do módulo de transmissão STM. A solução será fundamental para uma verdadeira interoperabilidade na rede ferroviária nacional, que será uniformizada pelo sistema de gestão de tráfego europeu ERTMS.
Isto permitirá, por exemplo, que um comboio português circule em Espanha apenas com o sistema ETCS, em vez dos equipamentos nacionais Convel e Asfa.
Em Portugal, o módulo STM está a ser desenvolvido pela Critical Software e Nomad Tech.
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