... e quase metade do plástico são redes de pesca abandonadas. Estes e outros factos sobre a "mancha" que está a servir de símbolo da batalha contra o plástico
Tem sido fonte de manchetes por todo o mundo. "Ilha de plástico: como o nosso lixo está a destruir o paraíso", diz a CNN. "A mancha de detritos tem duas vezes o tamanho da França e é 16 vezes maior do que se pensava", escreve o The Guardian. "Mancha de plástico no Oceano Pacífico está a crescer rapidamente", titula a BBC.
A maior parte dos textos que têm sido publicados sobre a "ilha de plástico do Pacífico Norte dão a entender que se trata disso mesmo: uma gigantesca ilha feita de plástico. Uma organização não-governamental foi ao ponto de criar uma campanha junto das Nações Unidas para fundar um país, chamado Ilhas de Lixo, com Al Gore como primeiro signatário. Mas Al Gore, ou qualquer outro candidato à cidadania "lixiana", teria dificuldades em pôr o pé em terra (ou plástico) firme - é que a "ilha de plástico" é tudo menos uma ilha. É, isso sim, uma área muitíssimo dispersa em que, devido às correntes, biliões de pedaços de plástico tendem a permanecer.
É, no entanto, enganador usar a expressão ilha, mancha ou mesmo concentração de plástico. Se há coisa que aquele plástico não está é concentrado. É impossível ser visto do ar, por exemplo, e mesmo um barco pode atravessar toda a região sem ver sinais dos detritos. Na verdade, as 79 mil toneladas que se calcula pesar todo aquele lixo junto não é muito, quando espalhado por uma área tão grande (equivale a um pequeno icebergue). E aquelas fotos que muitas vezes surgem associadas ao tema, nas notícias, de manchas imensas de lixo a flutuar? São imagens de lixo junto à costa de grandes cidades do sudoeste asiático (Manila, nas Filipinas, é o exemplo mais divulgado).
Outro pormenor é que, apesar de este problema estar a ser usado como a face da guerra contra o plástico doméstico, quase metade dos detritos são redes de pesca.
Aqui ficam alguns dados, de um estudo publicado na revista científica Scientific Reports, do grupo da Nature, que ajudam a perceber melhor em que consiste esta "ilha de plástico" que de ilha não tem nada.
- Calcula-se que 46% do total de lixo seja redes de pesca abandonadas ou perdidas
- 20% do lixo são detritos arrastados pelo tsunami do Japão em 2011
- 94% dos biliões de pedaços de plástico têm menos de 0,5 centímetros
- O peso total a "mancha" de plástico pesa 79 mil toneladas - um peso equivalente ao aço da Ponte 25 de Abril
- Um grupo de estudos patrocinado pelo governo britânico recolheu várias amostras de objetos na "ilha" ainda com etiquetas: um terço dizia "made in China" e outro terço foi fabricado no Japão. No total, havia plásticos de 12 países
- Calcula-se que, por ano, em todo o mundo, cem mil animais (sobretudo mamíferos, como tartarugas, focas e baleias) morram estranguladas em redes de pesca abandonadas
LUÍS RIBEIRO em http://visao.sapo.pt/actualidade/mundo/2018-03-31-A-ilha-de-plastico-afinal-nao-e-uma-ilha
Tem sido fonte de manchetes por todo o mundo. "Ilha de plástico: como o nosso lixo está a destruir o paraíso", diz a CNN. "A mancha de detritos tem duas vezes o tamanho da França e é 16 vezes maior do que se pensava", escreve o The Guardian. "Mancha de plástico no Oceano Pacífico está a crescer rapidamente", titula a BBC.
A maior parte dos textos que têm sido publicados sobre a "ilha de plástico do Pacífico Norte dão a entender que se trata disso mesmo: uma gigantesca ilha feita de plástico. Uma organização não-governamental foi ao ponto de criar uma campanha junto das Nações Unidas para fundar um país, chamado Ilhas de Lixo, com Al Gore como primeiro signatário. Mas Al Gore, ou qualquer outro candidato à cidadania "lixiana", teria dificuldades em pôr o pé em terra (ou plástico) firme - é que a "ilha de plástico" é tudo menos uma ilha. É, isso sim, uma área muitíssimo dispersa em que, devido às correntes, biliões de pedaços de plástico tendem a permanecer.
É, no entanto, enganador usar a expressão ilha, mancha ou mesmo concentração de plástico. Se há coisa que aquele plástico não está é concentrado. É impossível ser visto do ar, por exemplo, e mesmo um barco pode atravessar toda a região sem ver sinais dos detritos. Na verdade, as 79 mil toneladas que se calcula pesar todo aquele lixo junto não é muito, quando espalhado por uma área tão grande (equivale a um pequeno icebergue). E aquelas fotos que muitas vezes surgem associadas ao tema, nas notícias, de manchas imensas de lixo a flutuar? São imagens de lixo junto à costa de grandes cidades do sudoeste asiático (Manila, nas Filipinas, é o exemplo mais divulgado).
Outro pormenor é que, apesar de este problema estar a ser usado como a face da guerra contra o plástico doméstico, quase metade dos detritos são redes de pesca.
Aqui ficam alguns dados, de um estudo publicado na revista científica Scientific Reports, do grupo da Nature, que ajudam a perceber melhor em que consiste esta "ilha de plástico" que de ilha não tem nada.
- Calcula-se que 46% do total de lixo seja redes de pesca abandonadas ou perdidas
- 20% do lixo são detritos arrastados pelo tsunami do Japão em 2011
- 94% dos biliões de pedaços de plástico têm menos de 0,5 centímetros
- O peso total a "mancha" de plástico pesa 79 mil toneladas - um peso equivalente ao aço da Ponte 25 de Abril
- Um grupo de estudos patrocinado pelo governo britânico recolheu várias amostras de objetos na "ilha" ainda com etiquetas: um terço dizia "made in China" e outro terço foi fabricado no Japão. No total, havia plásticos de 12 países
- Calcula-se que, por ano, em todo o mundo, cem mil animais (sobretudo mamíferos, como tartarugas, focas e baleias) morram estranguladas em redes de pesca abandonadas
LUÍS RIBEIRO em http://visao.sapo.pt/actualidade/mundo/2018-03-31-A-ilha-de-plastico-afinal-nao-e-uma-ilha
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