Artigo de Germano Almeida, comentador SIC.
1 – PUTIN COM MEDO DAS PERGUNTAS CHATAS
É a primeira vez em dez anos e a pergunta ficou no ar. Por que motivo o Presidente russo não vai dar a grande conferência de imprensa habitual de fim de ano? Depois do anúncio do Kremlin, as explicações começaram a surgir. Tatiana Stanovaya, analista política russa, afirma que o Presidente Putin não quer "perder" tempo com "pequenas coisas". "Não acho que Putin não tenha nada para dizer, até porque ele tem falado muito ultimamente. Em vez disso, terá uma falta de vontade psicológica de responder a perguntas chatas e rotineiras", afirmou, citada pela Sky News.
Noutro âmbito, o presidente russo diz não saber se poderá confiar num eventual acordo de paz com Kiev. Está pronto para negociações, mas é sempre obrigado a pensar "com quem está a lidar". Os comentários de Merkel aumentaram a "desconfiança". "No final teremos de chegar a um acordo. Já disse várias vezes que estamos prontos para essas negociações, estamos abertos, mas isso obriga-nos a pensar com quem estamos a lidar", disse o Presidente russo, à margem de uma cimeira regional no Quirguistão. Vladimir Putin reagia a comentários recentes da ex-chanceler alemã Angela Merkel, que disse que o acordo de Minsk de 2014, entre Moscovo e Kiev, assinado sob a égide da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), deu à Ucrânia tempo para se fortalecer e enfrentar um conflito armado com a Rússia.
2 – CASA BRANCA DENUNCIA "PARCERIA MILITAR EM LARGA ESCALA" ENTRE MOSCOVO E TEERÃO
Em breve essa parceria poderá permitir aos dois países fabricarem 'drones' em conjunto. O porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos EUA vincou que o desenvolvimento desta parceria é "prejudicial" para a Ucrânia, para os países vizinhos do Irão e para "a comunidade internacional". O Reino Unido juntou-se aos EUA e também denunciou a relação entre Moscovo e Teerão: "O Irão é agora um dos principais apoiantes militares da Rússia. Os acordos sórdidos levaram o regime iraniano a enviar para Moscovo centenas de drones. Em troca, a Rússia oferece apoio militar e técnico ao regime iraniano", afirmou James Cleverly, chefe da diplomacia britânica.
3 – POLÓNIA INTEGRA SISTMA ANTIMÍSSIL PATRIOT CEDIDO PELE ALEMANHA
Varsóvia integrou o sistema antimíssil Patriot cedido pela Alemanha sob o comando da NATO: a 20 de novembro, poucos dias depois da queda de um míssil antiaéreo disparado desde a Ucrânia ter atingido Przewodów, na Polónia, perto da fronteira entre os dois países, incidente que causou dois mortos, Berlim ofereceu à Polónia duas baterias de sistemas de defesa antimísseis Patriot, para evitar mais incidentes semelhantes. O ministro da Defesa polaco, Mariusz Blaszczak, respondeu na altura que aceitava "com satisfação" a oferta alemã, que o Presidente Andrzej Duda descreveu como um "gesto muito importante".
4 – ZELENSKY DIZ QUE AS MINAS RUSSAS COBREM 170 MIL QUILÓMETROS QUADRADOS DO TERRITÓRIO UCRANIANO
O presidente ucraniano afirmou que a Rússia será investigada, entre outros assuntos, pelo uso destes artefactos durante o conflito. "Estou seguro: esta será uma das acusações contra a Rússia por agressão, por terrorismo". Já o presidente russo, Vladimir Putin, acusou o Ocidente de "explorar" a Ucrânia e utilizar os seus habitantes como "carne para canhão" num conflito contra a Rússia. Numa mensagem de vídeo publicada pelo Kremlin, Putin sustenta que a ambição do Ocidente de liderar o mundo está a aumentar o risco de uma guerra de grande escala.
5 – FRANÇA CONCEDE À UCRÂNIA EMPRÉSTIMO DE 100 MILHÕES DE EUROS PARA FINANCIAR DESPESAS PRIORITÁRIAS
O empréstimo de Paris incide nos gastos sociais e humanitários, segundo avançou o Ministério das Finanças ucraniano em comunicado. "A Ucrânia recebeu um empréstimo de 100 milhões de euros em condições preferenciais da Agência Francesa de Desenvolvimento. Os fundos são encaminhados para o fundo geral do Orçamento do Estado para financiar despesas prioritárias, em particular sociais e humanitárias", detalhou o Ministério das Finanças ucraniano.
6 – BULGÁRIA APROVA PELA PRIMEIRA VEZ ENVIO DE AJUDA MILITAR A KIEV
O Parlamento búlgaro aprovou o envio de ajuda militar à Ucrânia, pela primeira vez desde o início da invasão russa, tendo os deputados acordado também uma lista de armamento. A lista de armas é confidencial, mas fontes governamentais indicaram que serão enviadas em particular armas ligeiras e munições. Segundo o jornal Dnevnik, uma resolução previamente aprovada pelo Parlamento deu aos deputados um período de um mês para elaborarem a lista, tendo em conta as capacidades militares da Bulgária. O ministro da Defesa, Dimitar Stoyanov, disse que o país não se pode dar ao luxo de enviar sistemas de defesa aérea russos e caças Su-25, dos quais Kiev necessita. "A minha opinião sobre isto tem sido conservadora, porque tenho de garantir as capacidades de defesa da Bulgária", disse Stoyanov, sublinhando que a ajuda vai ao encontro das "prioridades ucranianas".
Entretanto, os países da União Europeia chegaram a acordo para desbloquear 18 mil milhões de euros de ajuda financeira à Ucrânia para 2023, contornando assim o veto da Hungria.
7 – RÚSSIA ATACA "TODA A LINHA DA FRENTE EM DONETSK"
Os combates mais intensos aconteceram perto das cidades de Bakhmut e Avdiivka. "Não há nenhum lugar vivo nas terras" de Bakhmut, afirma Zelensky. A cidade de Bakhmut e sem vivalma, afirma o Presidente ucraniano Volodymyr Zelensky. "Bakhmut, Soledar, Maryinka, Kreminna. Por muito tempo, não há nenhum lugar vivo nas terras dessas áreas que não tenha sido danificado por granadas e incêndios", disse o chefe de Estado: "Os ocupantes realmente destruíram Bakhmut, outra cidade do Donbass que o exército russo transformou em ruínas queimadas." O Presidente ucraniano sublinhou que a situação "continua muito difícil" em várias cidades da linha de frente, designadamente nas províncias de Donetsk e Luhansk, no leste da Ucrânia. As tropas russas continuam a atacar o território ucraniano: ontem foram registados ataques em Kharkiv e Sumy no nordeste, Dnipropetrovsk no centro, Zaporizhzhia sudeste, e Kherson no sul.
8 – 1,5 MIL MILHÕES PARA RECUPERAR INSTALAÇÕES DE ENERGIA DESTRUÍDAS PELA RÚSSIA
O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, adiantou que serão necessários pelo menos 1,5 mil milhões de euros para a restauração superficial das instalações de energia ucranianas destruídas por ataques de mísseis e drones russos. O Presidente disse isso em um discurso na Conferência Internacional "Solidariedade com o Povo Ucraniano", organizada conjuntamente pela França e Ucrânia. "A Ucrânia resistiu a centenas de ataques russos de intensidade variável no nosso sector de energia. Mas agora, infelizmente, a maioria de nossas centrais ficaram danificadas ou destruídas por bombardeamentos, que atingiram.todas as centrais hidroelétricas e termoelétricas da Ucrânia", realçou Zelensky na conferência internacional "Solidariedade com o Povo Ucraniano", que está a ser promovida em Paris pelo Presidente Macron.
Os EUA já enviaram primeira remessa de apoio energético de emergência à Ucrânia, no valor de 13 milhões de dólares. Fonte militar norte-americana avançou à agência que esta remessa de equipamentos energéticos de emergência faz parte do pacote que totaliza 53 milhões de dólares e que tinha sido anunciado pelos EUA após a Ucrânia alertar que precisava de transformadores e geradores de forma urgente. "A Rússia está a tentar deliberadamente congelar os ucranianos até a morte, quando se entra no inverno", enfatizou outro alto funcionário dos EUA citado pela agência - garantindo que "a nossa estratégia principal agora é ajudar a Ucrânia a defender-se contra esses ataques deliberados à infraestrutura de energia, pois isso pode tornar-se num desastre humanitário".
A eletricidade está gradualmente a regressar a Odessa, após mais de 1,5 milhões de pessoas terem ficado sem energia devido a ataques russos a instalações de infraestruturas energéticas, disse a administração militar regional.
9 – UCRÂNIA VAI TENTAR RECUPERAR MELITOPOL
As tropas de Kiev atacaram a cidade de Melitopol, no oblast de Zaporijia, que está controlada pela Rússia desde o início da guerra. Várias pessoas terão morrido e ficado feridas. Um possível ataque ucraniano com HIMARS (sistemas de artilharia americanos de lançamento de rockets de alta mobilidade) atingiu Melitopol, cidade do oblast de Zaporíjia. Tanto as autoridades instaladas em Moscovo como o presidente da câmara exilado da cidade relatam baixas numa cidade estratégica a sudeste.
Zelensky acredita que a guerra na Ucrânia acabaria se Putin morresse. Já a diretora do Centro de Liberdades Civis, organização ucraniana distinguida com o Nobel da Paz, juntamente com um ativista bielorrusso e uma ONG russa, defendeu que a paz na Ucrânia não pode ser alcançada com a deposição de armas. O povo da Ucrânia quer a paz mais do que qualquer outra pessoa no mundo", disse Oleksandra Matviichuk, no seu discurso, na cerimónia de entrega do Prémio Nobel da Paz, em Oslo, na Noruega. Defendeu, por outro lado, que "a paz para um país sob ataque não pode ser alcançada através da deposição de armas". "Isso não seria paz, mas sim ocupação", apontou a diretora do Centro de Liberdades Civis.
10 – NEGOCIAÇÕES PARA CESSAR-FOGO "AINDA ESTÃO LONGE"
As negociações para cessar-fogo ainda estão longe, aponta relatório do International Crisis Group. A Rússia e a Ucrânia ainda estão longe de reunir condições para uma negociação de paz que permita chegar a um cessar-fogo no conflito, mas os países ocidentais devem insistir em procurar uma solução diplomática. Num novo relatório, os analistas deste 'think tank' argumentam que Kiev tem vantagem militar sobre a Rússia, mas lembram que isto não significa que haja garantias de vitória, "muito menos rápida". "A Ucrânia ainda luta para garantir que todas as suas forças estejam adequadamente equipadas, com elementos de defesa territorial e unidades da guarda nacional a relatarem com frequência escassez de material, particularmente de equipamentos de inverno"
Os analistas dizem que "o Kremlin parece estar apostado em manter a mobilização parcial para conter novas ofensivas ucranianas", mais do que para procurar ganhos de terreno, sobretudo quando se avizinha um inverno em que "o terreno encharcado e a lama vão complicar as ações militares". A continuação dos esforços diplomáticos defendida pelos analistas é relevante quando o risco de guerra nuclear. "Não é um argumento persuasivo para permitir que a Rússia alcance os seus objetivos por meio de agressão e ameaça nuclear". "Tanto Kiev como o Ocidente devem continuar a procurar áreas em que a cooperação possa atenuar os efeitos da guerra – por exemplo, trocas de prisioneiros, esforços para sustentar e estender o acordo que fornece passagem segura para cereais ucranianos pelo Mar Negro e soluções para gerir a segurança nuclear na central de Zaporijia". O documento conclui que "apelar a negociações de paz quando as partes ainda acreditam que têm mais a ganhar no terreno de batalha é um esforço infrutífero", com Kiev a acreditar que pode recuperar território anexado e com Moscovo a confiar no seu poder militar para estender a sua área de influência na Ucrânia. "Por razões semelhantes, um cessar-fogo não está nos planos imediatos. Com ambas as partes ainda a acreditar que podem abrir caminho para uma posição melhor, cada uma exigiria termos de cessar-fogo que a outra consideraria insustentáveis", explicam os analistas. Por outro lado, o 'think tank' acredita que a probabilidade de uma nova liderança na Rússia, que coloque um fim ao conflito, é baixa. "O Estado russo é muito poderoso e a oposição é muito fraca, além de que as vias de pressão sobre o Kremlin são escassas", pode ler-se no relatório, que aconselha a que os países ocidentais esperem por uma melhor oportunidade para procurarem negociações de paz eficazes e consequentes.
Compreender o conflito: os receios de Putin e a resiliência dos ucranianos (msn.com)
Comentários
Enviar um comentário